Ney Paraíba, Pedrão e Val Baiano: cadê as "crias" de Tiago Leifert?
Um dos principais apresentadores da área de entretenimento da TV Globo, o jornalista Tiago Leifert conduziu durante seis anos e meio a edição paulista do "Globo Esporte". Além de introduzir um estilo despojado de apresentação que virou referência, a inovação também aconteceu na construção de personagens para o programa. Fora do mainstream dos quatro grandes clubes do Estado, Leifert apostou em nomes como Ney Paraíba, Pedrão e Val Baiano, que passaram a ser conhecidos, ocuparam vários minutos da programação diária da Globo e até hoje colhem os frutos do tempo de sucesso.
Ney Paraíba, carismático atacante do Oeste (depois do Guarani), virou galã por causa do seu penteado e deu nome a uma premiação de jogadores mais bonitos do Campeonato Paulista. Pedrão foi personagem de uma grande campanha do programa para que não aceitasse uma proposta dos Emirados Árabes e continuasse fazendo gols pelo Grêmio Barueri. E Val Baiano ganhou um funk ao vivo cantado por Leifert e Fernandinho Beat Box dizendo que ele era "melhor que o Adriano". No começo da década só se falava deles (ou quase isso).
Leifert deixou o comando do Globo Esporte em 2015. Suas "crias" também não jogam mais futebol. E o UOL Esporte foi atrás das três figuras para contar por onde eles andam.
Ney Paraíba: adeus "secreto" e sonhos no futebol
Muita gente nem sabe que Ney Paraíba está aposentado. Aconteceu no fim de 2013. Ele nunca oficializou essa despedida, na verdade. Depois do fim de um contrato no Mogi Mirim, voltou para passar férias em Pilões-PB, se machucou durante uma pelada com amigos que atrapalhou a volta no começo de 2014. Nunca mais retomou a carreira. Inclusive, sente falta de um adeus formal: "Eu encerrei a carreira porque relaxei. Mas se eu quiser voltar ainda consigo. Se bater a vontade, de repente eu penso em algum clube para encerrar mesmo, um contrato curto para poder falar: 'agora o Ney Paraíba parou'. Quem sabe?"
Aos 35 anos, o cabeludo atacante ganhou fama no Oeste de Itápolis, mas também defendeu clubes como Fortaleza, Guarani e São Caetano. E passou duas temporadas no futebol do Irã. A carreira durou menos de dez anos e ele diz que "nunca ganhou muito dinheiro" porque privilegiava times que pagassem em dia a contratos maiores com promessas irreais. Ele vive com o dinheiro do aluguel de pequenos imóveis que comprou na região de Pilões, a 120km de João Pessoa. Desde o começo deste ano, tem outro desafio: treinar crianças em um projeto da Prefeitura de sua cidade.
"A gente vê a criançada desde cedo envolvida com álcool, droga tomando conta, ficamos tristes. Então, esse projeto entrou para dar um rumo no esporte e no estudo. Eu levo eles para brincadeiras e exercícios de futebol, vou aprimorando drible, chute. Topei esse desafio. Quem sabe não saia mais um Ney Paraíba?", brinca o ex-jogador, que "ainda não quis a responsabilidade de ser um secretário do esporte."
Casado desde 2009 com Viviane e pai de Andrey, hoje com seis anos, Ney tem mais planos para o futuro. Trabalhar diretamente com futebol é o maior deles. "Eu tive que parar de estudar no primeiro ano do colegial. Larguei para fazer um teste em clube e não voltei mais. Agora, estou pensando em terminar o colégio e fazer uma faculdade de Educação Física para tentar entrar no futebol como preparador físico, auxiliar, algo do tipo. Como vou poder fazer alguma coisa pelo esporte se não dou o exemplo? Esse é meu projeto agora".
Ney Paraíba carrega dois orgulhos particulares: estava em campo pelo Oeste no jogo da estreia profissional de Neymar no Santos, em 2009, e foi companheiro de concentração do pentacampeão Rivaldo no São Caetano, em 2013. Ah, também tem o sucesso no Globo Esporte: "Agradeço muito por esse reconhecimento do Tiago Leifert. Ele me ligava quase todo dia, queria até que eu fizesse reportagem. Mas eu achei que era muito pro meu caminhãozinho (risos). O Tiago é sem vergonha, mas eu levava tudo na brincadeira. Curti muito essa época. Tomei proveito para o bem. Sinto falta disso, mas fui muito feliz. E continuo com o cabelo do mesmo jeito!"
Pedrão: vida de avô e aulas para o filho no interior
O Panela Futebol Clube é o único time que Pedrão veste a camisa atualmente. Aos 40 anos, está aposentado do futebol profissional desde 2014 e hoje atua como amador. Seu último clube antes de voltar e fixar residência em Jaboticabal, no interior de São Paulo, foi o Rio Branco, da Série A2 do Paulista. Ele teve uma inflamação no tendão de Aquiles e decidiu parar de jogar em vez de se submeter à cirurgia. "Eu parei. Dei uma descansada e depois voltei ao futebol", resume o ex-atacante.
Pedrão colhe até hoje os frutos do que fez em 2009. Pelo Grêmio Barueri, ele foi artilheiro do Campeonato Paulista com 16 gols. E não foi qualquer Campeonato Paulista: Ronaldo (Corinthians), Kléber Pereira (Santos), Washington (São Paulo) e Keirrison (Palmeiras) também atuaram, mas não conseguiram bater a desconhecida revelação de 32 anos. No Brasileirão, fez seis gols, assumiu a artilharia e recebeu proposta do Al Shabab, dos Emirados Árabes. Foi vendido em junho e fez o pé de meia em um ano e dois meses no mundo árabe.
Mas não sem antes ser personagem de enorme campanha no Globo Esporte de Tiago Leifert: "Fica, Pedrão". Ao longo de semanas, inclusive com entradas ao vivo de Barueri, o programa insistiu para que ele recusasse a oferta árabe e seguisse no Brasil fazendo seus gols. "Eu nunca tinha vivido aquilo. A campanha foi muito legal. Eu sempre ganhei bem no Barueri e ainda pagavam em dia, mas não tinha como não ir para o Al Shabab. Passou o caminhão e eu pulei dentro. O Tiago falava 'Rapaz, você faz gol, hein? Vou te dar uma força'. Aí eu comecei a fazer gol de todo jeito e a coisa foi indo. Eu tive possibilidade de ir para o Santos e para o Corinthians depois do Paulista, mas esperei o Brasileiro para que pintasse algo mais certo, até financeiramente".
De volta de Dubai, Pedrão ainda jogou em clubes mais tradicionais do futebol brasileiro, como Goiás e Vitória. Depois, rodou pelo interior de São Paulo até se aposentar, em 2014. Ele foi gerente de futebol do Sete de Setembro, campeão sul-mato-grossense em 2016, em que ajudou a montar o elenco a pedido de um velho amigo que havia assumido a presidência. Até que, ano passado, começou a trabalhar na Prefeitura de Jaboticabal como coordenador das escolinhas de futebol da cidade. Um dos alunos é seu próprio filho, Pedro Otávio, de 4 anos.
Pai de Rafaela e Juliana, Pedrão já é avô de Heloísa e Laura, de 6 e 2 anos, e casado há 23 anos com Regiane. Apesar da tranquilidade da vida no interior paulista, ele não descarta voltar ao futebol como dirigente: "Fazer futebol sem dinheiro é complicado. Eu tenho um nome, sou conhecido. Se prometo algo e não cumpro, fica ruim para mim. Fico com o pé atrás de voltar. Não sei se tenho coragem", diz.
Val Baiano: funk, negócios variados e cuidados com filho
"Com a cabeça, com o pé ou com a mão, Val Baiano honra a 9 do Pedrão." A saída de Pedrão para os Emirados Árabes não abalou nem o Grêmio Barueri e nem a programação do Globo Esporte. Pouco depois, a produção de Tiago Leifert descobriu outro "fenômeno": Val Baiano. Ele foi um dos maiores pontuadores da história do game Cartola FC após marcar quatro gols contra o Náutico no Brasileirão e pediu música duas vezes no "Fantástico". Terminou o torneio de 2009 com 18 gols, só Adriano (Flamengo) e Diego Tardelli (Atlético-MG) fizeram mais.
Em novembro daquele ano, Tiago Leifert colocou Fernandinho Beat Box ao vivo e, juntos, encerraram a edição do programa com o funk do Val Baiano: "Vai, Val Baiano, vai, Val Baiano, vai, Val Baiano, vai". "Saudades desse tempo. A lembrança fica eterna, eu fui um dos maiores artilheiros de todas as divisões. E, naquele ano, o Tiago me valorizou bastante, mostrou meu trabalho. Em 38 rodadas, eu fui 18 vezes no Globo Esporte. É uma coisa que fica marcada. O funk é inesquecível, o pessoal que me aborda sempre canta. É inesquecível, ganhei muita moral", comemora o ex-jogador.
O sucesso no Barueri levou Val Baiano ao México, para jogar a Libertadores pelo Monterrey. Ele ainda foi repatriado pelo Flamengo, em que viveu o auge da carreira pelo clube do coração e marcou três gols. Em 2011, voltou ao Barueri, mas o faro de gols já não era o mesmo e ele só rodou até se aposentar, em 2014, no Penapolense. "Voltei para a Bahia e comecei a cuidar das minhas coisas. Não fiz uma despedida oficial do futebol, mas isso já tem quatro anos, agora não tem mais volta", diz, hoje aos 37 anos e com uma série de afazeres: administra uma academia de ginástica, tem uma empresa de transporte, organiza shows, eventos e jogos beneficentes, é uma espécie de olheiro informal da Associação Esportiva Jequié, da elite do Campeonato Baiano, e quer montar uma escolinha de futebol para direcionar garotos a empresários com quem fez amizade no futebol.
A maior atribuição da rotina de Val Baiano, entretanto, é em casa: ele é pai de Dauan, de 14 anos, e Daison, de 7. O caçula é portador de Transtornos do Espectro do Autismo: "É um aprendizado, Deus manda essas crianças para pessoas especiais. É uma bênção, uma nova vida, temos que viver o mundo dele, a vida dele. Procuramos dar todo o carinho e atenção, fazer tudo o que podemos para ele ficar cada dia mais independente. Ele é muito especial."
Faixa bônus: Zé Love e Adriano Michael Jackson
Os grandes clubes de São Paulo não passaram ilesos à produção do Globo Esporte. Alguns dos personagens mais marcantes do programa na época foram Zé Eduardo, atacante do Santos, e Adriano, atacante do Palmeiras. Na linguagem de Leifert: Zé Love e Adriano "Maicon Jackson". Os apelidos que já existiam foram reforçados no ar. O santista foi vencedor do Troféu Ney Paraíba de mais bonito em 2010 e participou até de desfile de moda no ar, enquanto o palmeirense dançou incontáveis vezes imitando o astro internacional e lançou até uma campanha chamada "Dança, Felipão", porque o técnico havia prometido dançar na TV se o atacante fizesse três gols em algum jogo. Ele fez quatro em uma partida da Copa do Brasil e Felipão não dançou.
Os dois têm 31 anos. Zé Love jogou seis partidas pelo Oeste na Série B do Brasileirão de 2018, mas deve ser liberado do restante da temporada. Já Adriano Michael Jackson defende o Jeonbuk Motors, da Coreia do Sul. Ele joga fora do país há quatro temporadas.
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