Topo

Caso Daniel: advogado de Juninho já defendeu goleiro Bruno e Anderson Silva

 Divulgação
Imagem: Divulgação

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

07/11/2018 04h00

Contratado para defender a família Brittes, suspeita de envolvimento no assassinato do jogador Daniel Corrêa, o advogado Claudio Dalledone Júnior está acostumado com casos de grande repercussão midiática. Por pouco mais de um ano, ele foi o defensor do goleiro Bruno, que cumpre pena pela morte e ocultação do cadáver de sua ex Eliza Samudio.

Ex-professor de muay thai, Dalledone também trabalhou na defesa do lutador e amigo Anderson Silva, que foi acusado de doping em 2015 e pegou gancho de um ano no UFC. Dalledone é amigo e porta-voz do lutador no Brasil e era professor dele quando Anderson treinava em Curitiba. O criminalista também defende o professor Luiz Felipe Manvailer, suspeito de matar a esposa, a advogada Tatiana Spitzner, que foi arremessada da sacada de seu prédio após ser espancada em Guarapuava (PR).

Com 45 anos e mais de vinte atuando no direito criminal, o advogado diz ter recebido uma ligação de Edison Brittes, o Juninho, na noite da última quarta-feira, pedindo para que ele assumisse a defesa da família. Dalledone orientou o cliente a assumir a autoria, o que Juninho vinha tentando ocultar, mesmo que isso significasse atrair a repulsa da sociedade.

O corpo de Daniel foi encontrado sem o pênis e parcialmente degolado em uma plantação de pinus em São José dos Pinhais no sábado (27). “Eu defendo o direito do acusado, nunca o ato dele”, afirma Dalledone em entrevista ao UOL Esporte. “E não entro no juízo de valor. Sempre primo pra que a pessoa esclareça os fatos e que a sociedade julgue a atitude dela, muito embora eu tenha uma aspereza instantânea da sociedade.”

Foi a recusa de Bruno em “assumir responsabilidades” que tirou Dalledone da defesa do goleiro, diz o advogado. O criminalista orientou o goleiro a assumir sua participação na morte de Eliza, ao passo que Bruno e outros réus insistiam na tese de que, se o corpo não havia sido encontrado, não teria havido crime. “Eu discordava frontalmente disso”, afirma Dalledone. “Isso é uma bobagem. Se não há corpo então há mais um crime, a ocultação de cadáver. Existiam evidências materiais que a vida dela acabou na mão daquele grupo.”

O caminho da “sinceridade”, afirma ele, foi o que levou Juninho a confessar o assassinato de Daniel.

“Mesmo com uma repulsa que as pessoas possam ter, e é o que está acontecendo com o Brittes, quando chegar o julgamento elas vão entender que, por pior que seja a realidade, que ele assumiu e quer pagar pelos seus erros.”

A defesa da família Brittes argumenta que Juninho assassinou Daniel depois de ver o jogador tentando estuprar Cristiana, hipótese negada pela família do jogador.

“Better Call Dalle”

Considerado por seus pares um especialista em júri popular, Dalledone se notabilizou por defender policiais acusados de homicídios e protagonizou atuações marcantes na frente dos jurados. Às vezes, beirou a teatralidade. No ano passado, no maior julgamento da história da Justiça do Paraná, Dalledone vestiu seus dois filhos pequenos de policiais militares e entrou com eles no tribunal. Acabou conseguindo a absolvição dos 13 PMs acusados de matar cinco suspeitos de roubo em 2009.

Dalledone -  Divulgação -  Divulgação
Imagem: Divulgação

“Eu vesti de tamanha sorte a causa que tive uma ideia”, conta o advogado. “Fui à associação da vila militar, levei meus dois filhos, de 5 e 7 anos, eles tiraram a medida, fizeram a farda e entrei com eles no tribunal vestidos de Rotam. Quis mostrar pra tropa e pra sociedade curitibana que eu estava defendendo de corpo e alma.”

Ele acredita que a presença de seus filhos foi determinante para conseguir o “engajamento” da opinião pública que o permitiu reverter uma condenação que parecia certa: “[O julgamento] Virou um frenesi, foi uma coisa que eu nunca tinha visto.”

Dalle e filhos - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

O advogado, que diz já ter livrado da cadeia mais de cem policiais, é constantemente comparado ao advogado Saul Goodman, personagem que defendia o traficante Walter White da série americana “Breaking Bad” e que tinha como slogan comercial a frase “Better Call Saul”, “melhor ligar para o Saul”.

“Better Call Dalle”, brincam os jornalistas e policiais paranaenses quando se deparam com um suspeito muito encrencado.

“É uma brincadeira, mas eu não quero ser confundido com aquele que está a encobrir alguma coisa errada”, afirma o advogado. “Isso é uma coisa muito perigosa. Já tive situações da pessoa imaginar que eu pudesse contribuir [com a ocultação de um crime], e isso não é coisa de advogado, nem de ser humano. Não compactuo com as atitudes fora da lei, mas se a pessoa vier a ser acusada eu vou estar ali para defender seus direitos.”

O estilo irascível também o colocou no centro polêmicas com colegas e adversários de júri. Em julho, durante uma altercação no tribunal, ele ironizou a origem baiana de uma promotora do Ministério Público e foi acusado de machismo, xenofobia e racismo. O caso gerou nota de repúdio do MP, mas acabou arquivado. Dalledone nega as acusações e afirma que a promotora tinha “uma agenda feminista” e queria “atrair holofotes”.

Contradições do caso Daniel

Sua atuação também tenta melhorar a imagem pública de seus clientes perante a mídia, razão pela qual mantém uma atuante assessoria de imprensa e não se furta de atender jornalistas e comentar a evolução dos processos. Mas isso não o impediu de cometer um “vacilo” no caso Daniel, segundo a opinião de outros criminalistas consultados pela reportagem.

Antes de entregar à polícia Juninho e sua filha Allana, Dalledone gravou vídeos nos quais os suspeitos apresentavam sua versão para o que tinha ocorrido na noite em que Daniel foi morto. Os discursos de pai e filha mostraram muitas contradições, que ficaram ainda mais evidentes com a divulgação de depoimentos de testemunhas e conversas de Whatsapp nos dias seguintes.

Dalledone defende a gravação dos vídeos como uma forma de conter a “crise de imagem” da família.

“Eu precisava mostra que ela [Allana] é uma jovem de 18 anos, de um bairro de classe média-baixa da região metropolitana de Curitiba, uma menina desesperada, e ele é um cara que não sabe o que fazer. Eu precisava mostrar quem são os personagens dessa história pra eu poder gerenciar essa crise de imagem.”

Segundo ele, as contradições são naturais quando se trata das reminiscências de uma noite como aquela em que o crime aconteceu. “Eram 11 pessoas numa casa, tinha gente embriagada, se embriagando, elas estavam a noite inteira ali. Dentro desse contexto as versões nunca serão idênticas. Essas pequenas contradições, e vocês vão ver um milhão delas, são de quem não ficou combinando versão.”

Nesta quarta-feira (7), a Polícia Civil do Paraná ficou de colher o depoimento de Edison Brittes, o Juninho. Para quinta está marcado o depoimento de outros suspeitos.