Caso Daniel: semelhança de gêmeos dificulta identificação na cena do crime
O adolescente Eduardo Purkote, de 18 anos, foi preso nesta quinta-feira pela Polícia Civil do Paraná, suspeito de envolvimento na morte do jogador Daniel Corrêa, de 24. Eduardo foi um dos convidados da festa de Allana Brittes, e compareceu ao lado de seu irmão gêmeo. Os dois foram de Uber à casa que viraria a cena do crime.
Em depoimentos à polícia, ao menos dois suspeitos disseram que ambos os irmãos Purkote participaram das agressões a Daniel. Edison Brittes, o Juninho Riqueza, afirmou que apenas um dos gêmeos agrediu Daniel. Uma testemunha, por sua vez, declarou que um dos Purkote bateu no jogador enquanto o outro tentou impedir o irmão de continuar a agressão.
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O problema é que, durante os interrogatórios, essas pessoas não conseguiram determinar com certeza qual gêmeo fez o quê. Eles são idênticos. Outros participantes da festa, por outro lado, afirmam com certeza que nenhum dos irmãos se envolveu no crime.
Daniel começou a ser espancado já na manhã de sábado, depois de uma noite em que todos os convidados beberam muito, o que pode dificultar ainda mais a identificação de duas pessoas tão semelhantes. A polícia precisou se fiar em características como penteado e cor da roupa para identificar o suspeito.
Eduardo e seu irmão (considerado testemunha) são filhos de Viviane Purkote Melo, uma corretora imobiliária de São José dos Pinhais (PR), que foi candidata a vereadora pela Rede nas eleições de 2016 e perdeu. São também enteados de Jairo Melo, vice-prefeito da cidade entre 2009 e 2012, que já foi vereador e secretário. Jairo tentou se eleger deputado estadual pelo MDB no último pleito, mas não conseguiu.
Os irmãos são amigos de Allana Brittes da época do colégio e conhecidos na cidade por frequentarem eventos políticos ao lado do padrasto. Moradores de um condomínio fechado de alto padrão, gostam de festejar em raves. Eduardo, considerado o mais agitado e comunicativo, também já participou de campeonatos de muay thai.
A defesa dos irmãos afirma que ambos são inocentes. Em seus depoimentos, eles negaram qualquer participação nas agressões ao jogador. Eles também não estavam no carro no qual Daniel foi levado para ser morto em uma plantação de pinheiros. Os irmãos disseram se sentir ameaçados por Edison Brittes, o Juninho, que em um encontro no shopping dois dias depois do crime, pediu para eles não contarem a verdade sobre a morte de Daniel.
Depoimentos mostram imprecisão em relação a gêmeos
Juninho, que confessou ter matado o jogador, afirmou em depoimento que “no momento da raiva todos bateram em Daniel, os homens, nomeando Purkote, Deivid [sic], Ygor, Eduardo, além do interrogado[...]”. David Vollero, Eduardo da Silva e Ygor King, que entraram no carro que levou Daniel à morte, já estão presos.
O comerciante, no entanto, não conseguiu identificar com clareza quais dos dois irmãos teria participado da surra. O texto da polícia descreve assim o relato de Juninho: “Relatando que o Purkote, por serem irmãos gêmeos, informa que quem agrediu foi o que estava de camiseta escura, não sabendo o nome dele.”
Em outro trecho, no qual Juninho descreve mais agressões a Daniel, sua imprecisão continua:
Diz ele que: "na parte de fora houveram [sic] mais algumas agressões contra Daniel, as quais foram executadas pelos mesmos antes nomeados, sendo eles um dos irmãos Purkote (não sabendo precisar qual, já que são gêmeos) [...]"
No direito criminal brasileiro o depoimento testemunhal é considerado prova e, portanto, a polícia considerou que a partir deles é possível afirmar que há indícios do envolvimento de um dos irmãos no crime.
Em seus depoimentos, Ygor King e David Vollero afirmaram que os dois irmãos Purkote agrediram Daniel no quarto do casal Brittes. David disse que, quando Daniel foi levado para a parte externa da casa, só um dos irmãos agrediu o atleta.
Mas o ex-jogador do Paraná não conseguiu precisar qual irmão fez o quê – diz apenas que o agressor usava “camiseta cinza” e tinha o cabelo “cortado na lateral e penteado”.
Ao confirmar o pedido de prisão temporária, o delegado Amadeu Trevisan não informou se há alguma outra prova, além da testemunhal, que ligue um irmão ao crime.
Convidada diz que irmão pegou faca usada no crime
Outra convidada da festa, uma amiga de Allana, foi ainda mais contundente a respeito da suposta participação de um dos Purkote. De acordo com ela, a faca que mais tarde seria usada para matar Daniel foi trazida da cozinha da casa por um dos irmãos.
No relato de seu interrogatório, essa testemunha informa que:
"Um dos Purkote foi à cozinha e saiu com uma faca na mão, e Allana perguntou o que ele ia fazer com aquela faca, sendo que ele saiu rápido com a faca e não falou nada."
A faca nunca foi encontrada. A amiga de Allana diz também que o suspeito quebrou o celular de Daniel. "Um dos irmãos Purkote jogou o aparelho celular no chão, o quebrando, sendo que este aparelho ficou destruído", informa o texto de seu interrogatório.
Mesmo assim, a testemunha não consegue identificar com clareza o irmão. Em seu relato, ela contou aos policiais que:
"Na área externa Daniel foi agredido por um dos irmãos Purkote, sendo contido pela declarante e pelo outro irmão. Informa que esse Purkote que agrediu Daniel na área externa com um chute era o de cabelo meio arrepiado, não sabendo precisar pois eles são gêmeos."
Após o seu relato, a testemunha voltou à delegacia para, com ajuda de fotos, tentar identificar qual dos gêmeos teria pegado a faca e participado das agressões. Mas ela “fica em dúvida, preferindo não declinar qual deles”, afirma o relatório policial.
Irmãos vivem juntos, afirma amigo
Eduardo e seu irmão gêmeo têm uma relação muito próxima, de acordo com um amigo dos dois consultado pela reportagem. Segundo esse amigo, que preferiu ter o nome preservado, os irmãos sempre andam juntos e estavam começando a sair mais para baladas porque acabaram de completar 18 anos.
Os gêmeos trabalham em uma loja administrada pelo avô deles.
Procurada na semana passada para comentar o envolvimento dos filhos nos eventos que levaram à morte de Daniel, Viviane Purkote afirmou: “Só tenho a dizer que meus filhos são inocentes e Deus mostrará toda a verdade.”
O advogado Ricardo Dewes, que defende os irmãos, disse que a Justiça ainda não expediu o mandado de prisão. “Caso seja expedido mandado de prisão ele será apresentado imediatamente na delegacia. Ele está cooperando com as investigações e está falando a verdade”, disse.
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