Descobridor de Bernard, ex-Galo, cobra R$ 3,6 milhões por venda ao Shakhtar
Bernard foi vendido ao Shakhtar, da Ucrânia, em agosto de 2013. A negociação que movimentou 25 milhões de euros (R$ 77 milhões à época) ainda gera dor de cabeça ao jogador. Rubens Martins, mais conhecido como Rubão, antigo vizinho e descobridor do atacante, cobra do jogador na justiça o valor de R$ 3,65 milhões sob a alegação que teria direito a 5% da totalidade dos direitos econômicos dele. O processo, que se iniciou em 2014, teve sua audiência marcada para esta quinta-feira (29).
Procurado pela reportagem, o antigo mentor do craque não quis se pronunciar sobre o caso. O UOL Esporte, no entanto, teve acesso ao processo de Rubens contra o atleta do Everton, da Inglaterra. As defesas de Délio e Bernard também foram procuradas pela reportagem, mas optaram por não se pronunciar.
A reivindicação de Rubens é por conta de um suposto acordo feito entre ele e Délio Anício Duarte, pai de Bernard, quando o jovem assinou o primeiro contrato com o Atlético-MG, clube que o revelou. Na ocasião, Délio teria prometido ceder 5% da totalidade dos direitos econômicos do atleta a Rubens em uma eventual transferência.
O suposto trato do pai com o então vizinho tinha um motivo simples. Rubens era visto como o mentor de Bernard antes da profissionalização do atacante. Durante a passagem do atleta pelas divisões de base, foi ele quem o acompanhou desde o primeiro dia de treinamento.
"Na realidade, se não fosse ele (Rubens Martins), infelizmente, o Bernard, mesmo com todo o seu talento, não teria chegado onde chegou. Ele foi mandado embora pela primeira vez, e eu o segurei. Depois disso, mandaram ele duas vezes embora. Eu particularmente acho que o Bernard não chegaria onde chegou se o Rubão não tivesse insistido com ele", disse Ricardo Mariano Lima, conhecido como Macaé, auxiliar e observador técnico do Atlético entre 2006 e 2008.
"Eu nem conheci o pai do Bernard. Eu nunca o vi no CT do Galo. Eu só via o Rubão, para você ver o tamanho da importância do Rubão", acrescentou.
Em 2009, Bernard se profissionalizou. No ano seguinte, sem planos de utilizá-lo, o Atlético o emprestou para o Democrata, de Sete Lagoas. No clube, o garoto fez sucesso pelo Módulo II do Campeonato Mineiro e quase foi parar no Dínamo Zagreb, da Croácia, onde substituiria Luka Modric, negociado para o Tottenham.
"Foi o Rubens quem me falou sobre o Bernard. Eu nem o conhecia direito. Inclusive, quando o vi, iria levá-lo para o Dínamo Zagreb, da Croácia. Quando viram que eu iria levá-lo, deram chance para ele no Atlético-MG. Ele estava lá, jogado, sem chances. Inclusive, levei a diretoria do Dínamo para ver o jogo do Democrata. Eles queriam levá-lo embora. O Rubens estava junto na conversa. O Bernard só existe por causa dele, foi o tutor dele em tudo", declarou o agente Carlos Alberto, que queria levá-lo para o futebol croata.
"Eu tenho uma relação boa com o Dínamo e, à época, falei com o pessoal que vi um jogador muito parecido com o Luka Modric. Eu falei que era do nível do Luka Modric. Como ele estava jogado no Atlético, sem chance nenhuma, armei uma proposta para levá-lo", acrescentou.
No fim de 2010, o Banco BMG, por meio do Coimbra, adquiriu 10% dos direitos econômicos do jogador. A instituição administrada por Ricardo Guimarães, ex-presidente do Galo, comprou a fatia pertencente a Bebeto, empresário de Bernard à época. Durante esta negociação, o atleta passou a ser agenciado por Adriano Spadoto. Desta forma, os direitos do meia-atacante foram divididos da seguinte forma: o Galo detinha 75%, o Banco BMG 10% e a família de Bernard era dona de 15%. Destes, um terço (5% do total dos direitos) seria de Rubens Martins por conta do suposto acordo com o pai do atleta.
O restante da história é público e notório. Bernard brilhou com as cores do Galo, foi vice-campeão Brasileiro em 2012 e faturou a Copa Libertadores da América em julho de 2013.
Neste período, o jogador já era assediado por clubes do futebol europeu. No fim de 2012, o Tottenham, da Inglaterra, ofereceu 19 milhões de euros para tirá-lo da Cidade do Galo. Porém, a negociação para a saída foi consumada alguns meses mais tarde na ida para a Ucrânia.
Em agosto de 2013, Rubens viu o jogador ser vendido para o Shakhtar Donetsk por 25 milhões de euros (R$ 77 milhões, à época) e esperava ganhar 5% do montante total - cerca de R$ 3,85 milhões. Contudo, esta quantia jamais foi recebida.
Logo após a venda do jogador, os familiares de Bernard foram à Ucrânia para acompanhar o jovem em seus primeiros passos no futebol europeu. Délio voltou ao Brasil em janeiro de 2014 e procurou Rubens. A fim de dar uma satisfação ao amigo, depositou R$ 200 mil na conta da sua mulher.
"Nós depositamos lá R$ 200 mil, viu, na sua conta, na quinta-feira", disse Délio, em reunião gravada por Rubens e anexada ao processo. "Conversei com o Bernard, me sentei com ele e disse: 'não, Bernard, vamos dar os R$ 200 mil, porque o Rubão mereceu, e muito mais'. Se tivesse condição de dar mais, a gente daria", acrescentou na mesma conversa.
Em 3 de fevereiro de 2014, o descobridor do atacante enviou uma notificação extrajudicial ao pai de Bernard solicitando o valor referente ao percentual que teria acordado com o Délio.
Uma semana mais tarde, Délio respondeu Rubens por meio de uma contranotificação assinada pelo advogado Lucas Thadeu de Aguiar Ottoni e descartou pagar o valor: "Rubens limitava-se à condição de torcedor", disse o documento, que negava repassar qualquer valor a mais ao descobridor de Bernard.
No início de 2014, Rubens coletou as provas - áudios de reuniões com o pai do atleta e comprovante bancário do depósito de R$ 200 mil - e moveu uma ação de cobrança contra Bernard e o seu familiar. O jogador foi notificado em maio daquele ano, antes de se apresentar à seleção brasileira para a disputa da Copa do Mundo.
Depois de mais de quatro anos de processo, que tramita na 35ª Vara Cível de Belo Horizonte, com os advogados de Délio e de Bernard tentando impugnar as provas de Rubens, foi marcada a audiência para a próxima quinta-feira (29). O encontro será presidido pelo juiz Rui de Almeida Magalhães.
O Everton não liberou Bernard para a audiência deste dia. O clube inglês, no entanto, o permitiu viajar ao Brasil para ter o depoimento colhido em outras três datas: no início de novembro deste ano, o que não aconteceu, e em março ou maio de 2019.
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