Prefeitura abre investigação e diz que CT do Fla não tinha aval de 3 órgãos
A Prefeitura do Rio de Janeiro abrirá investigação nos próximos dias para apurar a construção de um dormitório e a instalação de contêineres na área que foi atingida pelo incêndio que matou dez jovens das categorias de base do Flamengo no CT Ninho do Urubu. Segundo a administração municipal, o clube rubro-negro pôs os prédios em utilização sem habite-se, o que impediu a vistoria por parte dos técnicos da secretaria de Urbanismo.
Os engenheiros responsáveis serão ouvidos, já que cabe a eles a responsabilidade pelo projeto e execução das obras. Em contato com a reportagem do UOL Esporte, a Prefeitura ainda informou que o Flamengo não dispõe de permissão para o funcionamento do CT em três órgãos: Secretaria Municipal de Fazenda, Secretaria Municipal de Urbanismo e Corpo de Bombeiros.
A Prefeitura também rebateu os documentos apresentados pelo CEO do Flamengo, Reinaldo Belotti. Segundo a administração, a afirmação de que o Conselho Municipal liberou o contêiner para ser utilizado como dormitório é infundada por não estar dentro das atribuições do órgão. Neste caso, qualquer declaração contrária precisaria de provas documentais e/ou testemunhais.
A Prefeitura está convicta de que o CT não poderia estar operando e sustenta a ausência de uma série de documentos regulatórios por parte do Flamengo.
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e o Corpo de Bombeiros também rebateram alguns documentos apresentados pelo clube rubro-negro como de autorização para utilização do Ninho do Urubu.
A entidade deixou claro que não tem responsabilidade sobre fiscalizações de segurança das instalações, enquanto os Bombeiros afirmaram que o clube não tem posse do Certificado de Aprovação (CA), o documento emitido pela corporação.
A reportagem apurou que para integrantes da diretoria anterior do Flamengo não havia nenhum impedimento de funcionamento do centro de treinamento. Segundo eles, a prefeitura nunca avisou que havia uma interdição do CT como alega em notas. A argumentação é de que o CT não era clandestino e, sim, público e notório que funcionava todos os dias sob os holofotes de televisões. Então, argumentam os dirigentes, porque não fecharam a instalação?
Outra alegação é de que a diretoria rubro-negra teve vários encontros com o prefeito Marcelo Crivella desde a primeira autuação e ele nunca mencionou nenhum problema em relação ao CT. Há a lembrança inclusive de que houve um jogo em parceria entre Flamengo e município, em 2017, para reversão da renda para restaurantes populares.
Tecnicamente, a argumentação é de que o único alvará que faltava era a licença final do Corpo de Bombeiros. E que, apesar disso, nunca houve interdição. Outro argumento é que o próprio centro administrativo da prefeitura até pouco tempo não tinha a mesma licença que faltava ao Flamengo.
Apesar da falta de documentos, membros da antiga gestão alegam que tudo foi feito para garantir a segurança de funcionários e jogadores.
O caso
O incêndio aconteceu nas primeiras horas da última sexta-feira (8). Os bombeiros foram acionados às 5h17 (horário de Brasília). O fogo atingiu a ala mais velha do CT, que servia de alojamento para as categorias de base do clube e recebia jogadores de 14 a 17 anos de idade. O local seria desativado e demolido nas próximas semanas. Autoridades do Rio de Janeiro trabalham com um problema no sistema de ar-condicionado do alojamento como principal hipótese para o ocorrido.
O governador do Estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, decretou três dias de luto oficial após a tragédia.
As vítimas
Foram confirmados dez mortos e três feridos. As vítimas foram identificadas como Christian Esmeio Candido (15 anos), Vitor Isaías (15 anos), Jorge Eduardo (15 anos), Pablo Henrique da Silva (15 anos), Bernardo Pisetta (14 anos), Arthur Vinicius (14 anos), Athila Paixão (14 anos), Gedson Santos (14 anos), Rykelmo Vianna (16 anos) e Samuel Thomas Rosa (15 anos).
Os sobreviventes
Os bombeiros conseguiram resgatar três garotos: Cauan Emanuel Gomes Nunes, de 14 anos, Francisco Dyogo Bento Alves, 15, e Jonathan Cruz Ventura, 15.
As informações são de que Jonathan está em estado gravíssimo e será transferido para o Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Municipal Pedro II. O jovem tem de 30 a 35% do corpo queimado.
O local
O Ninho do Urubu fica localizado no bairro de Vargem Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e é utilizado para treinamentos do elenco profissional e das categorias de base. O CT passou por uma reforma que terminou em novembro de 2018, com a inauguração de um módulo moderno para os profissionais. A ala utilizada pelos garotos seria desativada e demolida nas próximas semanas.
De acordo com o comandante-geral do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro e Secretário de Defesa Civil, Roberto Robadey, o alojamento em que estavam as vítimas da tragédia não tinha documentação.
"Não é exclusividade desse local. Mas as pessoas às vezes aprovam uma planta, aí quando vai ver resolve fazer puxadinho. Aumentar. A gente lamenta que as pessoas não possam fazer um planejamento adequado. É um ato final. Existe todo um procedimento. O fato de não ter a documentação implica até que não havia segurança. Muitas vezes até existe os dispositivos de segurança, mas ainda não teve uma regularização adotamos várias medidas para simplificar esse processo para agilizar", declarou Robadey em entrevista à rádio BandNews.
Flamengo
O elenco principal do clube rubro-negro teria trabalho programado para o Ninho do Urubu na manhã desta sexta-feira. A equipe faria o último treino antes do clássico contra o Fluminense pela Taça Guanabara. Tanto a atividade quanto o jogo foram cancelados após a tragédia. A Federação de Futebol do Rio de Janeiro confirmou que não haverá rodada pelo Campeonato Carioca neste fim de semana.
Solidariedade
Torcedores do Flamengo e dos outros três grandes clubes do Rio de Janeiro - Vasco, Fluminense e Botafogo - compareceram à sede da Gávea para uma homenagem às vítimas. No começo da noite deste sábado (9), eles prestaram solidariedade às famílias dos mortos no incêndio no CT Ninho do Urubu.
Diversos clubes e personalidades do esporte também se pronunciaram após o incêndio. Ídolo do Flamengo, Zico se disse chocado com a tragédia. Formado nas categorias de base do clube, Vinícius Júnior, hoje no Real Madrid, lamentou nas redes sociais e pediu orações por todos. O presidente Jair Bolsonaro e o vice Hamilton Mourão também se pronunciaram sobre o caso. Outra personalidade que também manifestou sua solidariedade foi o narrador Galvão Bueno, da Globo.
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