Abad vê 'show de horrores' e diz que Flu não é vilão em briga por Maracanã
A disputa entre Vasco e Fluminense pelo setor Sul das arquibancadas do Maracanã na final de anteontem da Taça Guanabara 2019 colocou o clube tricolor na mira do Tribunal de Justiça Desportiva do Rio de Janeiro (TJD-RJ). André Valentim, procurador-geral do órgão, já formalizou denúncia, e pode até excluir a equipe da competição pela decisão de recorrer à Justiça Comum pela prioridade na escolha do setor para seus torcedores.
No entanto, o Fluminense joga a responsabilidade pelo Consórcio Maracanã. Em entrevista ao canal de TV por assinatura SporTV, o presidente do Flu, Pedro Abad, apontou um "erro gravíssimo" na administração do estádio ao permitir que o rival pleiteasse o setor Sul. Os cruzmaltinos afirmam ter o direito desde 1950, enquanto os tricolores defendem que um contrato de 2013 dá a eles a prioridade.
"O grande cliente do Maracanã é o Fluminense. E nós sempre tivemos a ideia da fidelização do nosso torcedor no Maracanã, e nós colocamos lugar fixo com propósito de fidelização. Com esse propósito, firmamos uma cláusula com o consórcio de que o lado Sul é do Fluminense, independente do mando de campo", disse o dirigente. "O que houve agora foi um erro gravíssimo do Consórcio Maracanã de ceder ao Vasco esse direito, e o Vasco continuou no seu intento."
Segundo o mandatário tricolor, "o Maracanã já sabia que não poderia vender ingressos ao Vasco" horas antes do início da comercialização, "mas abriu a venda". Desta forma, o clube decidiu recorrer aos tribunais para defender o direito de acomodar sua torcida no lado em disputa.
"Levamos a liminar ao Consórcio Maracanã com um oficial de justiça, levamos ao Vasco da Gama, e eles impediram os nossos funcionários de entrarem, inclusive com ameaças a eles. Quando levamos à Ferj, aí sim foi encaminhado ao Vasco e eles receberam. O Vasco continuou vendendo ingressos durante a noite e sempre foi disponível comprar ingressos. O Vasco tentou cassar nossa liminar, o juiz de plantão negou. Posteriormente, quando mudou de plantão, foram levadas petições de Vasco e Fluminense em que o Vasco omitia a cláusula, e foi tomada a decisão de fechar os portões por segurança. A partir desse momento, paramos de vender, enquanto o Vasco continuou vendendo", disse Abad.
"No domingo de manhã, fomos chamados (pela Ferj) para uma reunião sem a presença do Vasco ou do Maracanã solicitando que nós concordássemos com a abertura dos portões. Nós discordamos, porque não poderíamos concordar com isso se a desembargadora tinha tomado uma decisão pensando na segurança. Depois disso, não tivemos mais participação. Nós não tivemos participação no que aconteceu depois disso", acrescentou.
Vasco: "nós prevíamos" o que aconteceu fora do Maracanã
Também ao SporTV, o presidente do Vasco, Alexandre Campello, afirmou mais uma de uma vez a preocupação com os torcedores. Segundo o dirigente, a possibilidade de acomodar seus torcedores no setor Sul do estádio foi oferecida pelo Maracanã ao Vasco na condição de mandante do jogo.
"Desde o ano passado que o Maracanã nos procurou. Nós temos negociado como Maracanã o retorno do Vasco, para que possamos disputar oito, dez partidas no estádio. Nesse momento em que teríamos uma semifinal (contra o Resende), tanto o presidente do Consórcio Maracanã quando o da Federação me chamaram, demonstraram interesse que essa semifinal fosse no Maracanã. O Vasco, tradicionalmente - e ganhou isso em campo -, tinha o direito de colocar sua torcida no setor Sul. Isso foi desrespeitado em 2013 quando o consórcio assinou com o Fluminense. Enfim, o Maracanã é um estádio do povo, e um estádio do Governo, e, portanto, essa questão não deveria ter sido desrespeitada. Mas vamos ultrapassar essa questão. Eu tinha a opção de mandar esse jogo com o Fluminense no Engenhão, e disse ao presidente do Maracanã e da Federação que só jogaria no Maracanã se tivesse essa possibilidade (de colocar a torcida no setor Sul). O presidente do Maracanã já havia nos dito que, por força contratual, o Fluminense colocaria sua torcida no setor Sul quando ele fosse o mandante, e não o visitante. Caberia ao mandante, no caso, o Vasco, escolher o lado onde iria ficar. Nos jogos anteriores, era o Maracanã que realizava a operação do jogo e colocou o Fluminense no setor Sul. A partir do momento que essa operação mudou, o clube mandante operaria o jogo e teria o direito de escolher o lado. Então, optamos por jogar no Maracanã baseado nessa premissa", disse Campello.
"Tivemos conhecimento de que o Fluminense conseguiu uma liminar que suspendia a venda dos ingressos. O presidente Rubens Lopes nos chamou para uma reunião na Ferj, nós tentamos alguma solução como mudança do mando de campo para o Nílton Santos, a PM disse que não era possível; levantou-se a possibilidade de trocar de lado, e nós já tínhamos quase 20 mil ingressos vendidos, e não tinha como mudar de lado. O Vasco então se preocupou só com o bem-estar do torcedor. Saímos da Federação sem ter o que fazer. O Fluminense deu uma coletiva, disse que iria abrir a venda de ingressos, convocando sua torcida, e nós não vendemos mais ingressos a partir daí. Na madrugada, fomos novamente surpreendidos com o Fluminense entrando na justiça e a decisão da suspensão do torcedor no estádio. Isso nos preocupou muito. Me reuni com o departamento jurídico, ficamos a madrugada toda trabalhando em cima disso na tentativa de derrubar essa decisão. Havia um entendimento de que isso seria perigoso, problemático para a torcida. Tudo que aconteceu, nós prevíamos. Tentamos alertar o judiciário desse risco. Passamos a nos preocupar com a integridade do espectador", acrescentou, indo além.
"No domingo, por volta das 15h, fui chamado à Federação pelo presidente Rubens Lopes, havia sido ratificada a decisão do desembargador. Participaram uma série de autoridades, a Polícia Militar. Existia uma unanimidade no entendimento de que realizar o jogo com portões fechados era perigoso. Eu fui convocado com o objetivo único e exclusivo de saber se o Vasco estaria disposto a pagar a multa no caso de abrir o portão. Sabendo dessa possibilidade de conflito, o Vasco, apesar de ter prejuízo novamente, se dispôs a pagar essa multa. A Federação anunciou que o jogo se daria com portões abertos. Lá chegando, no Maracanã, soube que o juiz do Jecrim não tinha aceitado essa decisão, que ia fazer prevalecer a determinação do desembargador. Dei declaração antes da partida, pedindo aos nossos torcedores que voltassem para casa em paz, de forma pacífica, ordeira. Quando começou o jogo e os conflitos lá fora, com bomba, estouro e tudo mais, vários torcedores me ligando, dizendo que tinha criança, mulheres... Eu, contrariando uma orientação do meu jurídico, que entendia que isso poderia ser compreendido como desacato, me dirigi ao Jecrim para conversar com o juiz de plantão e expus o que tínhamos feito durante toda a noite, que iria acontecer uma catástrofe do lado de fora. O Vasco respeita as decisões, mas me permiti dizer que aquilo expunha mais o torcedor", completou.
Consórcio vê argumentos "inconsistentes" do Fluminense
Por sua vez, o presidente do Consórcio Maracanã, Mauro Darzé, disse que o Fluminense tem "o direito" ao setor Sul "quando mandante". No entanto, afirmou que, segundo a Justiça, os argumentos apresentados pelo Flu foram "completamente inconsistentes".
Segundo Darzé, o Fluminense está inadimplente com o estádio desde 2017. No mesmo ano, a Justiça determinou que clube e estádio renegociassem o contrato. As partes, porém, pouco avançaram, já que o Flu teria oferecido "resistência ao diálogo".
"O Maracanã, em nenhum momento, descumpriu a determinação da Justiça. Em nenhum momento descumpriu o contrato com o Fluminense. E tenho os dois documentos que comprovam exatamente isso", disse Darzé.
Segundo o contrato defendido pelo Fluminense, o clube poderia ceder o setor Sul caso houvesse um acordo com a concessionária. No entanto, Darzé também viu argumentos inconsistentes para o Flu no caso, e demonstrou com as manobras adotadas pelo clube.
"Para a surpresa de todos, essa decisão de deixar as portas fechadas, que saiu à 1h do domingo, pegou todo mundo de surpresa. Diálogo sempre teve. Não concorda? Vamos conversar na segunda-feira. Aciona a Justiça se for. A gente nunca se furtou disso. O que não pode é o presidente do Fluminense dizer que não estamos cumprindo o contrato", afirmou, descartando qualquer retaliação do consórcio ao clube.
"Não tem retaliação nenhuma. Pelo contrário: existe o desejo, e eu sempre coloquei para todos, de que o Maracanã seja para o Flamengo jogar, para o Fluminense jogar, para o Vasco jogar, para o Botafogo jogar, para o América jogar", completou.
Fluminense critica TJD
A denúncia do TJD com base nos incidentes do domingo irritou Pedro Abad. Em suas declarações, o dirigente criticou o que considerou uma tentativa de "vilanização" de seu clube.
"Hoje fui surpreendido por um procurador da Justiça Desportiva tentando suspender o Fluminense do campeonato e me punir de forma individual. Isto que estão fazendo é um show de horrores. Estão tentando vilanizar o Fluminense, e o Fluminense não é o vilão dessa história", assegurou.
"O Fluminense passou o tempo todo defendendo seu direito legítimo e não desrespeitou nenhuma decisão judiciária. Não vamos aceitar essa pecha de vilões - e eu, menos ainda. O Fluminense cumpre as coisas. As regras e as leis têm que ser cumpridas. Ordem judicial não se descumpre. O Fluminense jogou ontem. Isso ninguém está dizendo: o Fluminense jogou sem torcida. Eu chamei a torcida para a guerra, porque nós temos a marca de ser um time de guerreiros. A nossa mascote é um guerreirinho sem arma. Queremos batalhas dentro de campo. Foi descontextualizado e eu discorro sobre isso. A imprensa infelizmente não quis reverberar minha explicação. Não incitaria guerra para ver meus filhos apanhando dentro do estádio", disse.
No fim, os presidentes dos dois clubes indicaram que devem continuar disputando o setor Sul do estádio para futuros jogos.
"Para mim, o consórcio está querendo se aproximar do Vasco por algum outro acordo comercial e está acenando com a quebra do direito do Fluminense como forma de se aproximar do Vasco. Mas contratos têm que ser cumpridos", disse Pedro Abad. "Se as decisões judiciais fossem cumpridas, nada disso teria acontecido. Vocês dizem que não ficaram felizes com o desfecho da situação. Nós ficamos menos ainda."
Alexandre Campello também se posicionou. "Acho que o Vasco vai continuar brigando pelos seus direitos. Nós entendemos que esse é um direito adquirido, que nós conquistamos dentro de campo em 1950. Nossa intenção, se não tivermos a possibilidade jogar no setor Sul, é jogar em outro estádio", prometeu.
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