Corintianos divergem sobre vídeo e religião criadas pelo marketing do clube
O Corinthians lançou ontem uma campanha sobre uma nova "religião" criada para os torcedores do clube. Batizada "Corinthianismo", ela foi divulgada por meio de um vídeo nas redes sociais e se tornou responsável pela divergência entre os próprios torcedores do clube alvinegro.
Minutos depois de o vídeo ser postado no perfil do Corinthians no YouTube, trechos do filme passaram a ser criticados por causa do uso de símbolos religiosos, como uma cruz e duas cenas que representavam ressurreição e batismo.
Algumas críticas também foram vistas em relação às falas de Sócrates contidas no vídeo. Personagem principal do roteiro montado pelo Corinthians, o ídolo aparece em uma entrevista concedida ainda na época em que jogava. Nela, o ex-jogador afirma que o "Corinthians é muito mais que um clube de futebol, colocando-o no patamar de "religião".
Em contato com a reportagem do UOL Esporte, o torcedor corintiano Eddy Benassi apresentou incômodo com algumas cenas "desrespeitosas com o cristianismo". Seguidor da religião, ele considerou exagerado a utilização de tantos símbolos, com a cena da pessoa na trave em alusão a Jesus Cristo.
"Eu entendi o conceito do vídeo, de amor e devoção ao clube, a fé. Tudo isso é como se os corintianos fossem adeptos da religião corinthianismo. Mas usar coisas do cristianismo é algo pesado. A imagem de Cristo é algo sério e forte para os cristãos. Ver no vídeo foi meio pesado", disse Eddy.
Henrique Manfio, em contrapartida, disse que é preciso separar as coisas e enxergá-las de modo mais leve. "Não sou contra fé, crença, santo, oração, signo e afins de cada um. Aliás eu também tenho as minhas. Mas agradar mais de 30 milhões de uma única vez seria um milagre", afirmou.
Para o presidente da Gaviões da Fiel, Rodrigo Tapia, o Digão, a campanha foi aprovada pela maior torcida organizada do clube. "Aprovamos porque sempre encaramos o Corinthians como religião. Praticamos o corinthianismo desde a nossa fundação. Somos movidos pela fé", ressaltou.
Lado do marketing
Criada pelo departamento de marketing do Corinthians, que tem Luis Paulo Rosenberg à frente da pasta, a campanha, segundo o próprio dirigente, busca mostrar que o Corinthians "não é uma nação e, sim, uma religião".
"Há dez anos, identificamos-nos como uma nação, como se fosse a Catalunha, uma nação dentro de outra nação. Foi uma campanha bem-sucedida, mas percebemos que estávamos perdendo a identificação. Percebemos que o sofrimento é uma coisa que nos une. [...] Queremos mostrar que ninguém tem mais tolerância ao sofrimento que a nossa, porque sabemos que a volta é gloriosa", explicou Rosenberg em entrevista ao Bem, Amigos, do SporTV.
CNBB evita polêmica
A reportagem do UOL Esporte procurou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para comentar sobre a campanha corintiana e a utilização de símbolos da religião Católica. A entidade evitou polêmica e declarou que não vai se manifestar sobre o assunto.
O próprio Corinthians, assim como a autoridade religiosa, optou pelo silêncio após divulgar a campanha.
Especialista não vê erro
Segundo Rafael Plastina, especialista em marketing esportivo, a campanha foi no limite da polêmica, mas não errou ao usar símbolos. Para ele, o Corinthians acertou em buscar seu DNA e explorá-lo.
"Em termos de marketing e comunicação, ela reforçou valores da marca Corinthians com a torcida. De fato há o uso de símbolos religiosos, mas não houve desrespeito. Ao contrário, o clube quis mostrar que ser corintiano é tão bom que é uma religião. O clube tenta chegar ao patamar da religião. Eles tentaram mostrar a importância da fé, quiseram passar o DNA dos corintianos", explicou.
O uso de imagens e declarações de Sócrates também não foram vistas com maus olhos por Plastina, pois não há como saber se o ídolo morto em 2011 aprovaria ou não a campanha.
"Não tem como saber, seria pura especulação. É preciso ser pragmático para analisar. Se não tem como comprovar, fica na hipótese. Não é um debate que constrói", frisou.
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