Premeditação da morte de Daniel deve ser foco de audiência em abril
O foco dos depoimentos do caso Daniel a partir de agora será tentar esclarecer o que de fato aconteceu no dia 27 de outubro de 2018 do momento que Daniel é retirado da casa da família Brittes até o corpo do jogador ser deixado na mata sem vida. Testemunhas de defesa e os réus falarão no início de abril à Justiça.
Apesar de alguns esclarecimentos, principalmente dos investigadores e de testemunhas presentes no "after party" na casa da família Brittes, onde começaram as agressões a Daniel, há lacunas sobre o assassinato do jogador que só poderão ser preenchidas pelos depoimentos dos próprios réus, até agora marcados por contradições e silêncio em momentos determinantes. As equipes de defesa e acusação deverão provar se o grupo saiu de lá já com a intenção de matar Daniel ou não - um fator decisivo e agravante para a sentença dos réus.
Edison Brittes, por exemplo, preferiu ficar calado quando questionado pela polícia sobre o caminho que percorreu, no Veloster preto, de casa ao local do assassinato e sobre a ordem das ações: o aconteceu primeiro, a emasculação ou o degolamento de Daniel? Os ocupantes do carro David Vollero e Ygor Kingdão dão versões diferentes das de Eduardo Henrique da Silva sobre quem desceu do veículo antes da vítima ser morta.
Outros pontos são sobre quem pega, na cozinha da casa dos Brittes, a faca usada no crime; o que Cristiana dizia enquanto Daniel era espancado dentro de sua casa; e quem carregou o corpo até o ponto em que foi encontrado mais tarde.
"Os fatos ficarão devidamente comprovados a partir de agora. Até agora, o ônus era do Ministério Público e assistente de acusação para buscar a participação efetiva. Eu entendo que o que ficou demonstrado é até o momento que o carro sai da casa e isso várias testemunhas falaram, mas não há versões uníssonas", opinou o advogado de Eduardo da Silva, Edson Stadler, ao UOL Esporte.
E agora?
Depois dos 13 depoimentos de testemunhas de acusação, ainda falta uma pessoa intimada a falar. Trata-se da namorada de Eduardo Henrique da Silva, que estava na casa de Cristiana e Edison Brittes no momento do espancamento de Daniel.
A testemunha é menor de idade e responde ato infracional pela prática da fraude processual. Prima dos Brittes, a jovem é de Foz do Iguaçu (PR) e passava o final de semana na casa da família por conta do aniversário de Allana. A testemunha falará à Justiça em Foz do Iguaçu em 26 de fevereiro.
As perguntas que ainda faltam ser respondidas
Afinal, qual foi a atitude de Cristiana ao ver o marido e outros homens espancando Daniel em sua casa? Algumas testemunhas afirmam que a mulher de Brittes pediu socorro para que as agressões parassem, outras falam que Cristiana disse ao marido para que não fizesse mais sujeira em sua casa, o que teria provocado em Edison Brittes a reação de levar a vítima dali para outro lugar.
Quem participou das agressões a Daniel? Edison Brittes afirma que David, Eduardo, Ygor e um dos gêmeos Purkote agrediram a vítima. David Vollero falou que todos da casa bateram em Daniel. Lucas Mineiro disse à Justiça que foi ameaçado por Juninho ao tentar fazer com que o espancamento parasse.
O que foi combinado entre os ocupantes do Veloster preto? David Vollero e Ygor King disseram à polícia que a intenção era deixar Daniel nu na estrada. Já Eduardo Henrique da Silva afirmou que todos saíram da casa dos Brittes com o plano de emascular o jogador.
Quem carregou Daniel até o carro de Brittes? Edison Brittes disse à polícia ter agido sozinho na hora de colocar o jogador ainda com vida em seu carro, mas outras pessoas que estiveram na casa disseram que ele teve ajuda.
Como o local do crime foi escolhido? Edison Brittes Júnior, motorista do Veloster preto que carregou Daniel para a morte, ficou calado ao ser questionado pela polícia sobre o percurso da casa dos Brittes até a estrada onde o jogador foi morto. Afirmou que falaria após as conclusões dos laudos da perícia, que já estão prontos e serão apresentados em abril.
Em seu depoimento, o investigador Marcelo Brandt afirmou que o trajeto levou 30 minutos e foi escolhido por ser deserto.
Quem pegou a faca usada para matar Daniel? Inicialmente, Edison Brittes afirmou que a faca já estava em seu carro, mas testemunhas afirmam que não. Evellyn Perusso falou que a faca foi entregue a Juninho por Eduardo Purkote, enquanto outras testemunhas dizem que o próprio Brittes se dirigiu à cozinha e pegou o objeto.
Quem fez o que no local do crime? Edison Brittes Júnior disse à polícia que agiu sozinho no momento que escolhe o local deserto para deixar o corpo de Daniel. A perícia, no entanto, afirma que o corpo não foi arrastado, mas sim carregado, o que seria impossível de ser feito por uma única pessoa.
Outro ponto é: quem desceu do carro na estrada? David Vollero e Ygor King dizem ter ficado no veículo e ouvido quando Daniel foi degolado. Eduardo Henrique da Silva afirma que todos saíram do Veloster preto. No entanto, a perícia sugere que o jogador foi segurado por mais pessoas antes de ser morto.
O que acontece na próxima fase de audiência?
As testemunhas de defesa dos sete réus serão ouvidas entre os dias 1º e 3 de abril. Ao todo são 77 nomes, entre acusação e defesa. Só depois dos convocados pela defesa falarem à Justiça é que os réus poderão ser finalmente ouvidos.
Após todos prestarem depoimento, há um prazo de cinco dias para que a promotoria faça alegações finais e, na sequência, mais cinco dias para a defesa. Com todas as manifestações em mãos, a juíza Luciani Regina Martins de Paula dará a sentença de pronúncia se os réus irão a júri popular.
Após o pronunciamento da juíza, o caso vai ao plenário tribunal do júri e é marcada a data do julgamento, que deve durar uma semana, segundo expectativa da promotoria.
Por que a audiência será retomada só em abril?
Originalmente marcada para o final de fevereiro, a primeira fase da audiência de instrução foi antecipada para a semana do dia 18 por compromissos do advogado de defesa da família Brittes, Cláudio Dalledone Júnior. Agora, juíza, promotoria e profissionais envolvidos na defesa dos sete réus acertaram uma data em que todos pudessem comparecer e decidiram pela primeira semana de abril. Também foi acertado um quarto dia, 5 de abril, caso ocorram imprevistos.
O que dizem acusação e defesa
Nilton Ribeiro, assistente de acusação e advogado da família de Daniel: "Estou satisfeito com o que ouvi, porque só ratifica a investigação. Não mudou nada do que foi denunciado e relatado pelo delegado no inquérito. A defesa não conseguiu trazer algo que afaste a necessidade da pena".
Edson Stadler, advogado de Eduardo Henrique da Silva: "As testemunhas, mesmo informantes, não trouxeram fato novo algum do que foi relatado no inquérito policial. Para a defesa, não houve qualquer surpresa. Basicamente, sobre a defesa do Eduardo, eu não vejo com preocupação, até o presente momento, algum fato que atinja a tese específica. O Eduardo teve iniciativa para lesão corporal, porque ele em realidade aderiu à conduta para fazer a emasculação".
Rodrigo Faucz, advogado de David Vollero e Ygor King: "Foram audiências boas, porque acabou confirmando as informações do inquérito policial de que eles não tiveram participação direta no homicídio. A defesa pede que sejam responsabilizados na medida do crime deles e não em relação à história praticamente inventada pelo Ministério Público em relação às circunstâncias".
A reportagem atualizará a matéria assim que o advogado da família Brittes, Cláudio Dalledone Júnior, responder.
Mais movimentações jurídicas
Até o dia 1º de abril, quando começa a segunda parte da audiência, algumas movimentações jurídicas podem acontecer, como um pedido de habeas corpus para Ygor King e David Vollero. E o habeas corpus de Allana Brittes, que deveria ocorrido ontem (20), mas teve julgamento adiado para a próxima semana.
Além do pedido de habeas corpus, o advogado de Ygor King e David Vollero, Rodrigo Faucz, quer a anulação dos dois primeiros dias de depoimentos por não ter podido comparecer na ocasião.
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