De fã a amigo, Porpetone "ganhou" apelido e foi lançado na TV por Avallone
Os bordões marcantes, a gesticulação intensa e o jeito único de conduzir seu programa de TV tornaram o jornalista Roberto Avallone, que morreu hoje aos 74 anos, um dos personagens mais parodiados na imprensa esportiva brasileira. O humorista Alexandre Porpetone, hoje no ar no "Programa Silvio Santos" e em "A Praça É Nossa", do SBT, é o imitador mais reconhecido do tradicional apresentador do "Mesa Redonda" e teve a vida moldada justamente pela paródia: seu próprio apelido é em homenagem a ele.
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"Eu primeiro era fã do programa, assistia ao Mesa Redonda com meus amigos, discutia futebol, via para me informar mesmo. Ele comandava o programa de um jeito folclórico e eu imitava ele para os meus amigos. O pessoal adorou e como eu queria trabalhar com isso fiz uma fitinha K7 na época. Nela, o Avallone apresentava chamando as outras imitações que eu tinha de futebol. Eu tentei ir na Gazeta, mas não rolou. Depois fiz um teste no rádio e fiz justamente essa imitação. Fui lançado no rádio assim e fiz sucesso imitando o Avallone. Ficou meu personagem principal, que se chamava Provolone, sempre com a voz dele imitando e trazendo os personagens. Depois, por problema de marca, mudou para Porpetone. Mas foi isso, até meu nome artístico foi uma homenagem ao sucesso do Avallone", conta Porpetone, ao UOL Esporte.
A relação foi além de imitador/imitado. Avallone chegou a participar do programa "Estádio 97", da Rádio Energia 97, de São Paulo, e interagiu com sua imitação no ar. Depois, passou a convidá-lo para participações no "Mesa Redonda" de tanto que havia gostado: "Ele me disse que dava uma química legal".
Pouco depois, em 2003, o apresentador foi contratado pela RedeTV! para comandar o "Bola na Rede", programa até então conduzido por Juca Kfouri, e montou sua equipe de comentaristas. "Geralmente os apresentadores pegam os mesmos comentaristas, os mesmos figurões, nunca tem gente nova. O Avallone teve coragem de fazer o programa com gente nova e me chamou para fazer humor com ele. Também chamou Alex Muller, Ronaldo, Neto, Fernando Fontana, Marília Ruiz, José Calil.... Ele brigava pela gente para melhorar salário, esse tipo de coisa. Eu era fã, assistia quando era adolescente, e trabalhei com ele a pedido dele durante um ano ao vivo. Ficamos amigos."
Foi o primeiro emprego de Porpetone em televisão, e as imitações eram feitas constantemente na presença dos jogadores ou treinadores imitados, além da paródia do próprio apresentador. Avallone deixou a RedeTV! em 2005 e o destaque a Porpetone foi tanto que no ano seguinte ele estreou no SBT, com a famosa imitação de Carlitos Tevez. A imitação de Avallone veio na esteira e também foi realizada por muito tempo em A Praça É Nossa: "O Carlos Alberto me viu no Bola na Rede, então foi o que tornou tudo possível". Em março de 2007, o próprio Avallone sentou no banco da praça junto com Carlos Alberto de Nóbrega e o imitador Avellone, em participação que rendeu dor de cabeça para o apresentador.
"Fiz o quadro com a gravata do Palmeiras, que ele tentava esconder (risos). Na Praça o Carlos Alberto põe marcações, lugar de fala, figurante para entrar, tudo certinho. Mas o Avallone disse que queria fazer no improviso a participação dele, como funcionava quando ele era o apresentador. Eu falei que não, o Carlos ficou preocupado quando eu disse que ele queria improvisar. Ele vibrou que ia na Praça, falou o caminho inteiro, estava empolgado. Mas foi complicado, porque era meu ex-chefe e meu chefe no mesmo programa, eu tinha que fazer eles passarem o texto. O Carlos Alberto perguntava se ele sabia o texto, eu não fui atrás de descobrir. Mas no fim ele improvisou mesmo, até o Carlos Alberto brincou com a escalação do São Paulo de 1949, entrou na brincadeira. Uma hora eu não sabia mais onde estava e falei: "Aqui sou eu quem comanda" (risos)."
Imitação tinha bronca em Carlos Alberto
O quadro apresentado por "Roberto Avellone" na "Praça É Nossa" tinha cerca de 5 minutos de duração. Consistia numa sequência de exageros dos bordões e gestos do apresentador, que costumava pontuar suas declarações com "exclamação" ou "interrogação". No caso da imitação tinha até "reticências, dois pontinhos e underline". A impaciência do âncora também era marca: ele dizia que Carlos Alberto "deve ter esquema com empresário, porque toda semana está aqui no programa". Era frequente dizer que o apresentador tumultuava o programa porque falava demais. "Avellone" narrava escalações bizarras no ar e brincava com a pessoa que ia ao programa fazer merchandising e dizia ter um produto revolucionário: "Revolucionário é o ataque da Hungria de 1936".
"Eu lembro que ele falava que algo era "impressionante...". Não é só a voz ou os bordões, eu buscava imaginar o que ele falaria em cada momento, como ele agiria. E como eu tinha uma proximidade maior eu sabia o jeito de olhar, a impaciência... às vezes ele chamava matéria e não entrava, era engraçado, ele não tinha paciência para o merchandising, queria colocar a matéria do Corinthians no ar logo. E se a matéria dava audiência ele repetia, não queria chamar o comercial. Faço até hoje vinhetas na Rádio Capital, no programa com o Marcelinho Carioca, imitando ele. É uma imitação muito querida, o pessoal que curte futebol adora", diz Porpetone.
"Fui pego de surpresa, ainda não digeri direito a morte dele, acordei no susto. Fiquei chateado, uma pessoa querida, me tratou como se fosse irmão. Ele é um cara importante e sem vaidade. Não fazia as coisas por dinheiro e sim por amor à profissão, queria fazer e acontecer, tinha vontade que o programa liderasse, que desse ibope, não se preocupava em agradar ninguém. Ele tinha a paixão pelo Palmeiras, pelo futebol e pelo jornalismo esportivo e era muito leal a quem ele gostava e achava bom, deu chance para muita gente aparecer. Inclusive um fã dele. Um dia triste, exclamação."
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