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Vasco até o fim! Eurico rezava diariamente em capela de São Januário

Capela Nossa Senhora das Vitórias era o local preferido de Eurico nos últimos dias - Marcello Dias/Eleven/Estadão Conteúdo
Capela Nossa Senhora das Vitórias era o local preferido de Eurico nos últimos dias
Imagem: Marcello Dias/Eleven/Estadão Conteúdo

Bernardo Gentile

Do UOL, no Rio de Janeiro

13/03/2019 00h11

Para muitos, um dirigente polêmico. Outros o idolatravam como se fosse o craque do Vasco. Para a família, Eurico Miranda era visto como um homem de muita fé. Talvez a soma de todas essas percepções defina exatamente sua personalidade e explique o motivo do ex-presidente do clube fazer questão de viver alguns de seus últimos dias em São Januário.

Mesmo com um grave tumor no cérebro, Eurico fazia questão de sair da Barra da Tijuca e ir a São Januário, um trajeto de aproximadamente 1h de carro - dependendo do trânsito. Na sede do Vasco, se dirigia diariamente para a Capela da Nossa Senhora das Vitórias. Ali era o local onde o icônico dirigente virava um mero mortal e se apoiava na fé para seguir em frente.

A rotina seguiu até onde teve forças para suportar. No início de janeiro, Eurico Miranda dispensou seu segurança e enfermeiros. A locomoção era muito difícil e o ex-presidente já não tinha mais força e vontade de manter o ritual.

Desde então, não usou mais sua "sala da presidência". Não aquela que ficava em posição favorável com vista para o campo. Mas uma entre a quadra de tênis e a piscina de São Januário. Um local criado para que Eurico pudesse chegar com facilidade, com fácil acesso pelo estacionamento.

"Ele era um homem de muita fé. Vivi muitas coisas ao lado dele e sei o quanto isso era importante para ele. Não sou tão religioso, mas tentamos sempre fazer tudo da melhor maneira. Até essa cerimônia, tudo como achamos que ele gostaria. Vinha todos os dias aqui e passava um tempão na capela. Isso fazia um bem tremendo a ele. Mas a situação foi se complicando até que ele já não queria mais sair de casa. É uma tristeza muito grande para quem fica, mas sei que ele vai descansar e encontrar coisa boa onde quer que esteja", disse o filho Eurico Brandão, conhecido como Euriquinho.

Mesmo sem ir ao Vasco, sua cabeça jamais parou de pensar no clube. Prova disso é que ele mandou uma mensagem em grupo de WhatsApp na madrugada de segunda para terça-feira pedindo para outros integrantes o regulamento do Campeonato Carioca - ele queria sanar uma dúvida sobre a competição.

Durante o velório, na noite de terça-feira, uma funcionária foi uma das pessoas que mais se emocionou ao se despedir de Eurico Miranda. O choro e os gritos de desespero fazem sentido. O ex-presidente ficou por várias décadas em São Januário e sempre demonstrou carinho e respeito por cada um que trabalhasse no clube.

Seu maior arrependimento ocorreu justamente em seu último ato à frente do clube. Após perder a eleição e ver Alexandre Campello assumir a presidência, Eurico deixou o posto sem conseguir quitar o 13º e férias dos funcionários. Quem o conhece sabe o quanto isso o incomodava.

"Ele nunca pagaria os salários dos jogadores se não pudesse antes quitar os dos funcionários. Eurico sempre teve essa visão. Não ter pago esses vencimentos estava corroendo ele por dentro. Volta e meia tocava no assunto. Isso mostra o quanto ele queria o bem dos mais necessitados", disse um membro do Casaca que preferiu não revelar seu nome.

Querido e odiado por muitos, Eurico deixou seu nome escrito no futebol brasileiro e, principalmente, no Vasco. Personagem caricato e com diversas histórias para contar, o "Doutor" deixará uma lacuna. E ponto - como o próprio gostava de encerrar suas conversas.

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