Ex-auxiliar de Cuca defende futebol raiz: "Hoje, jogador quer curtida"
Conhecido por ter sido fiel escudeiro de Cuca por quase 15 anos, Eudes Pedro vai se lançar em carreira solo. Mesmo com o convite de trabalhar ao lado do técnico no São Paulo, ele quer aproveitar o diploma recém-conquistado no curso de treinadores para colocar em prática o futebol que ele mesmo chama de raiz e sente falta.
Em entrevista ao UOL Esporte, Eudes disse que vê alguns métodos usados por treinadores como ultrapassados e que priorizam o futebol defensivo, deixando de lado o estilo de jogo que ele considera o responsável por consagrar o nome do Brasil no mundo.
Com a ideia de começar trabalhando nas divisões de baixo, o agora treinador afirmou que também é preciso trabalhar com a nova mentalidade dos jogadores de futebol, que muitas vezes priorizam o sucesso pessoal ao coletivo. Para ele, isso se reflete nas atitudes dos atletas em redes sociais.
Confira a entrevista completa com Eudes Pedro:
UOL Esporte: O que te motivou a lançar a sua carreira solo?
Eudes Pedro: Sempre fui auxiliar pelo meu perfil, organizar as coisas, dar os treinos. Conheci o Cuca no Coritiba e ficamos juntos por 14 anos. Depois de fazer a licença A, achei que era o momento. Tem gente que comanda e esquece do DNA do futebol brasileiro. A gente vê mais preocupação defensiva. Ensinaram os brasileiros, que sempre foram criticados pela posição defensiva, a ter esse tipo de conduta. O Brasil melhorou muito neste quesito, mas piorou na frente. Só vejo treino reduzido e treino de dois toques. O jogador perde a percepção de um contra um. Dos últimos quatro mundiais para os garotos, fomos para apenas um.
Como auxiliar não dá para implantar as suas ideias?
Não. Há uma dificuldade com a modernização e padronização. Não podemos transformar o nosso futebol em europeu. Pelo contrário. Eles que vêm aqui e tiram o que a gente tem de melhor. Estamos copiando o europeu e esquecemos o nosso DNA.
Qual estilo de jogo te agrada?
Me agrada ter um Renato Gaúcho. O Grêmio está jogando uma bola com todos os requisitos que eu defendo na minha metodologia. Com posse de bola, um time ofensivo, que procura o gol. O Renato é a cara do futebol brasileiro. Ele pratica o melhor futebol do Brasil. Tem o Sampaoli que chegou aí para mostrar que pode se fazer a diferença, independentemente de onde está jogando e contra quem. É a mesma postura. É isso que eu vejo que realmente eu quero colocar em prática.
Não te balançou a ideia de trabalhar no São Paulo?
Não me balançou porque eu tinha uma coisa só pendente, que era a licença A. Era questão de tempo. Eu fui para o Santos com essa pendência. Depois que o Cuca saiu, fiquei mais um mês com o Sampaoli organizando a base e tudo. E por questões administrativas eu achei melhor não ficar. Ele trouxe a comissão dele. O cara é formidável, adorei ele, mas eu estava com esse objetivo. Tive duas propostas de Pernambuco, mas não pude assumir por conta do curso.
Deu tempo de aprender algo com o Sampaoli?
Aprendi muito. Ele tem uma didática excelente. O jogador tem cada vez menos tempo para pensar com a bola no pé e o Sampaoli valoriza um futebol de intensidade e físico. Ele emprega uma intensidade forte do início ao fim do treino. É para valorizar a bola, buscar o jogo e sem a bola você tenta o máximo recuperar e propor o jogo. Eu levo isso comigo. Ele ensina tudo de uma forma mais didática e dinâmica.
Pelo o que você conhece do Cuca, como ele vai lidar com o atual elenco do São Paulo?
Ele gosta de montar time. O São Paulo só vai ser São Paulo no segundo semestre, quando ele chegar e colocar a mão na massa. Falar esse eu quero e esse eu não quero. É pelo modelo de jogo que ele sempre implementou. Pode ser que tenha jogadores que não agradem e ele vai falar que não quer esse, esse e esse.
Deixando o tático de lado, qual o papel de um treinador no gerenciamento de um grupo?
Tem dois princípios para nortear. Um é o conhecimento em campo e o segundo é você ser um capacitador de pessoas. Tem que gerenciar esses seus comandados. Não são 11, são 23 ou 30 jogadores. O principal papel é gerenciar esses egos. Fazer todos irem para um lado só, que é o coletivo. Qualquer jogador hoje está na mídia, tem rede social e isso é diferente. Há 20 anos, você se preocupava com outros fatores.
Como a rede social afeta um jogador?
Antes, você se preocupava em concentrar os jogadores para não beber, para se alimentar direito e dormir cedo. Hoje você não tem essa preocupação. A nossa é que durma cedo e não fique na rede social até 3h da manhã. Mudou a mentalidade do jogador de futebol. Hoje, a preocupação não é a concentração, sair e beber. Eles são responsáveis, sabem o que querem e onde vão chegar. Mas a rede social preocupa um pouco. Agora, a vaidade é essa. Quantas curtidas eu tive depois de um gol? Hoje, jogador se preocupa com curtida. Nem me preocupo com seleção e já quer ir para a Europa. Está faltando esse jogador raiz. Esse é o nosso papel como profissionais, como comandantes. Para voltar a ter um futebol que é a potência no mundo.
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