Ingleses dominam Champions com técnicos gringos; locais "sofrem" em casa
As quartas de final da Liga dos Campeões estão dominadas por clubes da Inglaterra. São quatro representantes das oito equipes que ainda disputam o título. Os ingleses são maioria na principal competição de clubes da Europa, mas "só" dentro de campo. Fora dele, os técnicos nascidos no país vivem realidade bem diferente.
Entre os clubes na Champions League, o Manchester City tem um espanhol no comando, o United é treinado por um norueguês, o Liverpool conta com um alemão e o Tottenham faz sucesso com um argentino. Os treinadores ingleses foram deixados de lado pelos principais clubes do país.
Já faz mais de 30 anos que um técnico inglês foi campeão da Liga dos Campeões, com Joe Flagan, que levou o Liverpool ao título de 1984. A crise é a mesma "dentro de casa": nunca houve um treinador inglês campeão da Premier League, criada em 1992.
Na atual edição do Campeonato Inglês, cinco técnicos locais estão empregados entre os 20 times: Eddie Howe (Bournemouth), Sean Dyche (Burnley), Neil Warnock (Cardiff), Roy Hodgson (Crystal Palace) e Scott Parker (Fulham). Nenhum em um clube de ponta. A lenta renovação, os mandatários gringos, o dinheiro e a busca por estrangeiros são alguns dos motivos pela falta de sucesso dos treinadores ingleses na elite.
Favoritos dispensam ingleses
A Premier League é a liga mais rica do mundo e atrai alguns dos principais técnicos do planeta, que atualmente não são ingleses. Essa busca (e o poder financeiro) é ainda maior nos seis times que dominam a competição: Manchester City, Manchester United, Liverpool, Chelsea, Arsenal e Tottenham.
Com os estrangeiros em alta, o último treinador inglês a comandar uma destas equipes de forma efetiva foi Tim Sherwood, no Tottenham, até maio de 2014. E aí sobram as equipes do meio da tabela e da briga contra o rebaixamento para os locais.
Donos gringos, técnicos gringos
O ex-jogador da seleção inglesa Phil Neville afirmou na temporada passada: "A principal razão pela qual há mais treinadores estrangeiros na Inglaterra é porque os proprietários são estrangeiros. Na Espanha e na Itália, eles gostam de dar oportunidades a seus próprios treinadores, em vez de trazer outros de fora". Em parte, o ídolo do Manchester United tem razão.
Dos 20 clubes que disputam a Premier League 2018-19, 14 são controlados, em sua maioria, por investidores estrangeiros. O número é muito maior em comparação com as outras grandes ligas europeias (Francês, Italiano, Espanhol e Alemão). A Alemanha é um caso à parte. O país tem uma lei que impede que um único investidor seja dono da maioria do capital de uma equipe, mas a própria federação alemã quer que isso mude para atrair investidores. Além disso, os clubes também são tradicionalmente geridos por empresas locais.
Renovação lenta
A Inglaterra aos poucos vai se abrindo para novos técnicos, mas não dispensa os veteranos. Dos cinco treinadores ingleses empregados na Premier League, três têm menos de 50 anos e os outros dois já passaram dos 70, entre eles Roy Hodgson, atualmente no Crystal Palace. O treinador é um dos velhos conhecidos do futebol inglês e tem passagens por clubes como Liverpool, Fulham e pela seleção inglesa.
A seleção, inclusive, retrata bem a lenta renovação. Depois do trabalho fracassado com Fábio Capello entre 2008 e 2012, os ingleses deram quatro anos para Hodgson, que também saiu sem grandes feitos e foi substituído por outro veterano, Sam Allardyce (64 anos). Ele deixou o cargo pouco depois após um escândalo e também estava na Premier League até a temporada passada. A aposta então foi Gareth Southgate (48 anos). Com o jovem treinador, a campeã de 1966 surpreendeu e foi quarta colocada na Copa do Mundo da Rússia, em 2018.
De acordo com Marcos Alvito, autor do livro "A Rainha de Chuteiras", os ingleses ficaram para trás por sempre terem sido contra o futebol praticado fora do país.
"Por se sentir a inventora e dona do futebol, historicamente a atitude inglesa em relação ao futebol praticado no resto do mundo sempre foi marcada pela autossuficiência e até pela arrogância. Tradicionalmente, a Inglaterra sempre foi avessa à entrada de técnicos estrangeiros, o que só mudou com a Premier League. Esta mentalidade fechada não deve ter ajudado em nada o desenvolvimento dos técnicos ingleses", argumentou.
Sete anos no cargo e feito com azarão
Outro dos cinco ingleses na Premier League é Sean Dyche. O treinador de 47 anos é um dos principais nomes da nova geração e está no comando do Burnley desde 2012. Ele levou a equipe à primeira divisão em 2014, caiu, mas voltou em 2016 e conseguiu um grande feito na última temporada.
O Burnley terminou a edição de 2017-18 na sétima colocação, foi o "melhor fora os seis grandes" e se classificou à fase preliminar da Liga Europa. Mas o bom desempenho ainda não foi suficiente para render a Dyche uma vaga em um clube de maior expressão. Neste momento, seu time ocupa apenas a 16ª colocação do Campeonato Inglês.
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