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Jovem supera acidente que impediu ida ao Santos para brilhar em Portugal

Raphael Aflalo é o destaque do Desportivo das Aves no Campeonato Português - Divulgação/Rio Ave
Raphael Aflalo é o destaque do Desportivo das Aves no Campeonato Português Imagem: Divulgação/Rio Ave

Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

24/03/2019 04h00

Raphael Aflalo é o destaque do Desportivo das Aves, líder do Campeonato Português Sub-23, e chama a atenção de clubes como Benfica e Sporting pelo futebol apresentado na equipe. Mas nem sempre foi assim a vida do goleiro de 22 anos.

Ele precisou superar um acidente automobilístico que culminou na morte de um ambulante e que o atrapalhou em um acordo com o Santos, além da saída do Corinthians, um dos maiores clubes do Brasil, para começar a se destacar na Europa.

O atleta que brilha no modesto time português e tem o ex-goleiro Artur como um de seus conselheiros é monitorado por gigantes do país.

Em entrevista ao UOL Esporte, ele falou sobre os percalços para chegar à Europa, onde sempre sonhou em atuar, e conta que esteve no Corinthians entre 2013 e 2017, mas não ficou por opção do clube.

"Estive no Corinthians de 2013 a 2017, é uma experiência que vai ficar para a minha vida inteira. Sou muito grato por tudo. Eu tive a oportunidade de ir para o elenco principal do Corinthians. Treinei com o Cássio, com o Walter, o Danilo e principalmente o Júlio César. Eu falo até hoje com o Júlio César, é um cara que me ajudou muito. É uma pessoa muito importante e com quem mantenho contato até hoje. Lá eu cresci como homem e como atleta. Eu sempre perguntava as coisas para ele. Eu cheguei muito novo, ainda como miúdo [jovem das divisões de base no português de Portugal]. Nunca tive chances e acabei tendo a oportunidade ao sair do Corinthians", disse.

Outro problema enfrentado pelo atleta foi o acidente de carro em que se envolveu em abril de 2017. Na ocasião, o atleta estava acima da velocidade permitida na via e atropelou e matou o ambulante Matheus da Silva Nascimento, de 17 anos. Em sua entrevista, Raphael falou sobre o assunto e disse que o caso está perto de um desfecho.

"A gente aprende que a vida é muito curta. A gente tem que agradecer todos os dias. Sobre o acidente, quem está tratando tudo é meu advogado. Uma parte já foi resolvida com a família. O resto, eu deixo meu advogado resolver. Meu objetivo, hoje, é só focar no futebol", comentou, revelando que o fato atrapalhou a ida para o Santos à época:

"Quando aconteceu essa fatalidade, porque isso para mim foi uma fatalidade, ele poderia acontecer com qualquer pessoa, mas infelizmente aconteceu comigo. Eu estava prestes a assinar com o Santos. Acabou não dando certo. E eu vim para a Europa. Meu tio conhecia um amigo aqui. Ele mandou o vídeo meu para o presidente do Aves e acabou dando certo".

Dois anos mais tarde, a vida de Raphael é outra. Na base do Desportivo das Aves, já é tratado como estrela e, monitorado por gigantes do país, tem acompanhamento do agente, Bruno Vicintin, e conta com os conselhos do ex-goleiro Artur, que defendeu as cores de Cruzeiro, Roma, Benfica e Chapecoense.

O primeiro contato com o seu conselheiro foi em 2018, quando ele ainda defendia as cores do Rio Ave. Na ocasião, Artur era o nome mais badalado do elenco. E foi ao seu lado que Raphael começou a evoluir.

"Quando eu cheguei aqui no Rio Ave, ele estava treinando. E ele sempre foi na dele, fechado. Mas o Artur é um cara que chegou ao topo, jogou em Cruzeiro, Benfica, Chapecoense... Se eu quero chegar ao topo, eu preciso ter os melhores como referência. Eu pedia a ele para me mostrar o que ele fazia, como ele achava que eu deveria fazer. Eu fui para o Santos novo, para o Corinthians de teste. Um dia, brincando eu falei com ele: "Artur, quer ser meu empresário?". Aí ele me apresentou para o [ex-vice-presidente do Cruzeiro, Bruno] Vicintin, e eles viraram meus empresários", relatou.

Veja, abaixo, outros trechos da entrevista concedida por Raphael Aflalo:

Passagem pelo Corinthians

"Eu era miúdo, tinha 16 para 17 anos no meu primeiro treino no Corinthians. Para mim, era tudo uma fantasia, um sonho. Eu via o Cássio, via o Júlio [César], o Walter... Não sabia o que era aquilo. Minha primeira reação era me sentar no canto e ficar olhando o Cássio. Eles sempre foram as pessoas mais humildes. Eles sempre me ajudaram, o Júlio é um grande amigo que tenho hoje no futebol".

Monitorado por gigantes de Portugal

"Não sei nada que acontece na minha carreira, quem manda nisso é o Bruno. Eu faço o meu trabalho e espero continuar fazendo o meu trabalho. Estou lutando e fazendo de tudo para chegar lá em cima".

Obstáculos na carreira

"Sempre foi difícil, porque com 16, 17 anos eu fui sozinho para Guarulhos. Meus pais iam todo fim de semana para me ver. Eu cheguei em 2017 e em 2018 minha mãe já estava aqui. Depois, meus sogros vieram para cá. A gente costuma falar por FaceTime, minha mãe sempre chora. Mas a família é a coisa mais importante do ser humano. Sem a minha família, seria muito mais difícil".

Dificuldades em Portugal

"Quando eu cheguei aqui, eu não entendia nenhuma palavra que eles falavam. Os caras chamam vestiário de balneário, banheiro de casa de banho. Tem várias coisas diferentes. Até hoje, eu falo algumas coisas aqui e eles começam a dar risada. Eles falam: "brasileiro é muito engraçado". Eles acham graça do jeito que a gente fala. Estou jogando no time sub-23, mas treino na equipe principal".