Rival do Cruzeiro mira feito em meio à crise e saga para chegar ao Brasil
Depois de ser adiado por duas vezes, o jogo do Cruzeiro contra o Deportivo Lara finalmente será realizado. Às 21h30 de hoje, as equipe entram em campo para o duelo atrasado pelo Grupo B da Copa Libertadores. Apesar da mudança nas datas, a situação do clube venezuelano pouco mudou de duas semanas atrás para cá. Ainda tentando conciliar o futebol com a crise econômica, política e social no país, a equipe tenta deixar o problema momentaneamente de lado e pelo menos desfrutar do jogo em Belo Horizonte. Para tentar uma inédita vitória venezuelana contra o Cruzeiro ou até mesmo um empate que já seria raríssimo, o Lara contará com Jairo Otero, desconhecido dos brasileiros, mas que tem um irmão e xará que fez sucesso no maior rival celeste.
A partida no Mineirão deverá ser inédita para a maioria dos jogadores venezuelanos, mas um deles certamente já esteve no estádio. Aos 25 anos, Jairo Otero é um meia-atacante do Lara e é irmão de ninguém menos que Rómulo Otero, jogador do Atlético-MG que atualmente está emprestado ao Al-Wehda, da Arábia Saudita. Jairo chegou ao Deportivo Lara no início deste ano, e pode fazer sua primeira partida na Libertadores. Quando o irmão mais velho atuava no Atlético, ele chegou a visitar Belo Horizonte em algumas ocasiões para acompanhar as partidas de Otero, inclusive esteve presente em um clássico diante do Cruzeiro no Mineirão.
A saga para chegar ao Brasil
Não foi fácil para o Deportivo Lara chegar ao Brasil. Diferente das primeiras tentativas, em que teve problemas com a falta de autorização da aeronave fretada, o clube fez o translado em voo comercial. Como não há voos diretos da Venezuela, o time precisou fazer uma escala no Peru. Pouco mais de 56 horas foram necessárias até o desembarque em Belo Horizonte. A viagem começou por volta das 15h30 do domingo, saindo de Caracas em direção a Lima.
A delegação dormiu no país vizinho para seguir rumo ao Brasil na segunda-feira às 15h, chegando em São Paulo no período da noite. A última parte terminou com a chegada em Belo Horizonte por volta da meia-noite. Apesar da longa viagem, o percurso foi feito de forma tranquila e sem contratempos.
O problema mesmo ocorreu na chegada, quando descobriram o material foi extraviado ainda no aeroporto de Guarulhos. Uniformes e outros itens só chegaram à capital mineira no dia seguinte, mas ainda a tempo do treinamento realizado na Cidade do Galo, CT do Atlético-MG.
Além de não conseguir sair do país para as duas datas marcadas pela Conmebol, o Deportivo Lara também enfrentou problemas para jogar em seu próprio campo. Vale lembrar que a primeira partida da equipe na Libertadores foi adiada em um dia contra o Emelec. O motivo era a falta de energia disponível para realizar o jogo no estádio Metropolitano de Lara, algo que afetou todo o país. Além disso, o Campeonato Venezuelano não teve jogos por três rodadas, ficando paralisado por cerca de uma semana. O Lara não entrava em campo desde o dia 8 de março, e só voltou a jogar no último dia 20.
Nas poucas vezes que jogadores falaram à imprensa, eles se esquivaram das perguntas sobre a situação do país. Ramon Medina, chefe de comunicação do clube, comentou ao UOL que a crise afeta a todos que vivem na Venezuela, incluindo atletas e familiares, alguns deles que chegaram a se mudar.
Apesar de ter ficado incomunicável semanas atrás por causa do baixo fornecimento elétrico, assim como a maior parte da população venezuelana, o clube não sentiu diretamente os problemas referentes à alimentação, como tem ocorrido com as camadas menos favorecidas, e alega estar com sua situação financeira em dia. Profissionais da área também fazem o acompanhamento psicológico com os atletas. Além disso, a sede do Lara, localizada na cidade de Barquisimeto, fica a 363km de Caracas, distante da capital onde a onda de protestos e manifestações é bem maior.
Inicialmente, o único treinamento do Lara teria os últimos minutos abertos para a imprensa, mas a assessoria do clube acabou fechando toda a atividade. Uma visita na noite de ontem para reconhecimento do gramado do Mineirão também foi cancelada. Segundo o clube, o motivo foi a grande distância entre o hotel e o estádio para ser feita no horário da noite. A delegação ficou hospedada em um hotel na região centro-sul de BH, a pouco mais de 11km do local do jogo, na Pampulha.
"Tivemos problemas para vir, pois o pais está em situação delicada. Mas estamos aqui depois de tudo que passamos e agora é desfrutar esta partida tão bonita e tão especial para nós", se limitou a dizer o volante David Centeno.
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