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Mais maduro, Pato evita polêmica com Palmeiras, mas fala firme

Bruno Grossi

Do UOL, em São Paulo

29/03/2019 19h37

Há uma máxima que se espalhou entre jornalistas e torcedores de que Alexandre Pato vive no mundo da lua. Que não sente o futebol, que não se posiciona, que prefere tentar levar a vida de um popstar. Essa verdade absoluta foi fortificada com a famigerada cavadinha em disputa de pênaltis entre Corinthians e Grêmio em 2013, mas quem acompanha o atacante de perto desde então jura que ele mudou. E não é de hoje.

Suas declarações em uma difícil entrevista coletiva no retorno ao São Paulo são mostras disso. Pato não proporcionou ao público nenhuma resposta brilhante, temperada com pensamentos filosóficos. Tampouco navegou por provocações. O tempo todo tentou se manter à margem das polêmicas sobre a disputa entre São Paulo e Palmeiras para contratá-lo.

Só que isso não significa que tenha sido omisso ou sem brio. Pato teve personalidade e respeito para passar as mensagens que gostaria do começo ao fim da entrevista. Evitou até falar do Palmeiras e fez questão de demonstrar que não gostaria que insistissem no assunto, mas ainda assim ressaltou que foi um desejo seu fechar com o São Paulo em detrimento ao acordo com o rival. Fez isso quando foi indagado se conversou com Felipão e quando questionado se teria se oferecido ao clube alviverde, como disse um empresário envolvido na negociação ao blog do PVC.

E o fez sem precisar citar nomes. Segundo apurou o UOL Esporte, quando Pato diz que a palavra dele pesou para escolher o Tricolor, ele quis deixar implícito um recado ao empresário André Cury, o agente que o ajudou a deixar a China e é bastante próximo ao diretor palmeirense Alexandre Mattos. Não o criticou, nem o condenou. Mas quis demonstrar que tem, embora muito se questione sua personalidade, firmeza nas decisões.

Quando o São Paulo o recebeu pela primeira vez, em 2014, havia a preocupação em tentar transformar a imagem de Pato. O episódio da cavadinha no Corinthians ainda estava muito fresco no imaginário popular e transmitia alienação. O atacante, que já não tinha um sentimento de pertencimento no clube alvinegro, ficou exposto e acabou encontrando refúgio no carinho que o Tricolor se prontificou a dar.

Só que não bastava naquele momento apenas a predisposição do clube do Morumbi em ajudá-lo. Era preciso que Pato parasse para ouvir e depois agisse para mudar. E foi o que acabou acontecendo. Passou a vibrar mais nas comemorações, a demonstrar mais os sentimentos em entrevistas e a mergulhar mais na realidade onde estava.

O resultado disso foi o surgimento de uma faceta antes escondida em Pato. Capaz de acolher jogadores mais jovens para passar conselhos, chegou a receber de Rogério Ceni a faixa de capitão em algumas partidas de 2015. Ali, em momentos de instabilidade do time, também pedia para dar entrevistas e ser o foco das críticas para tentar blindar o resto do time. Atitudes que surpreendiam, mas deixavam o São Paulo satisfeito.

Em setembro, Pato completará 30 anos. Para ele, isso pode significar o auge como atleta e como pessoa. Quem o cerca assegura que o atacante está mais maduro do que nunca. Isso passa pela melhora na forma de se comunicar com a imprensa: inclui até brincadeiras com o antigo vício de respostas com "tô feliz, tô tranquilo" e chega na fala firme para exaltar os números eficientes em todos os clubes que passou.

Pato tenta se impor. Não nega que gosta de um estilo de vida que foge ao que estamos acostumados a ver entre boleiros no Brasil, mas deixa claro que isso cabe somente a ele e que não deve ser levado às discussões sobre seu futebol.

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