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Financiador de vídeo pró-ditadura foi candidato no Corinthians; vice rebate

Empresário Osmar Stábile é um dos 134 conselheiros vitalícios do Corinthians - Reprodução
Empresário Osmar Stábile é um dos 134 conselheiros vitalícios do Corinthians Imagem: Reprodução

Arthur Sandes, Diego Salgado, Ricardo Perrone e Samir Carvalho

Do UOL, em São Paulo

02/04/2019 17h44

Cargos na diretoria do Corinthians, candidaturas à presidência do clube e um dos 134 conselheiros vitalícios alvinegros. Esses foram os papéis desempenhados por Osmar Stábile, autor do vídeo que exaltou o golpe militar de 1964 e os 21 anos de ditadura no Brasil - ele foi divulgado pelo Planalto no último domingo (31).

O apoio do conselheiro corintiano contrasta com as manifestações do Corinthians realizadas no mesmo dia. Antes do clássico contra o Santos, válido pela semifinal do Campeonato Paulista, o clube exibiu uma faixa que remeteu à Democracia Corinthiana. Uma estátua de Sócrates, líder do movimento realizado no começo da década de 1980, foi exibida em um setor do estádio.

Além disso, o goleiro Cássio entrou em campo com a filha no colo, que vestia uma camisa da Democracia. O clube também defendeu o movimento em postagens nas redes sociais. Já Stábile, em nota divulgada, se disse um "patriota e entusiasta do contragolpe preventivo".

Nos últimos anos, o empresário no ramo da metalurgia se tornou um membro ativo da política corintiana, tanto na situação, com Alberto Dualib, quanto na oposição do grupo político liderado por Andrés Sanchez, que está no poder desde 2007. Em um dos mandatos de Dualib, por exemplo, o conselheiro ocupou o cargo de vice-diretor de Esportes Terrestres.

Em setembro de 2007, com a crise política corintiana em alta após a renúncia de Dualib, Stábile passou a buscar a presidência do Corinthians, sem sucesso. Ainda naquele ano, ele foi derrotado por Andrés no pleito para um mandato-tampão, de pouco mais de um ano. Na ocasião, o conselheiro recebeu apenas 14 votos, contra 175 de Andrés e 158 de Paulo Garcia.

Nas eleições de fevereiro de 2009, Stábile teve 9% dos votos e ficou mais uma vez na última colocação. Andrés foi reeleito, e Garcia ficou na segunda posição. Nos outros três pleitos realizados nos anos seguintes, ele apoiou candidatos a fim de tirar a situação do poder.

Em 2012, juntou-se a Garcia e Antonio Roque Citadini, mas foi superado por Mário Gobbi. Três anos depois, foi a vez de Roberto de Andrade ser eleito na corrida contra Citadini, que contou com apoio de Stábile. Nas eleições de 2018, cinco candidatos concorreram à presidência. Stábile chegou a lançar candidatura, mas pouco tempo depois se aliou novamente a Citadini.

Quando ainda era pré-candidato à eleição do Corinthians, Stábile fez um vídeo para promover sua campanha. A produção amadora apresentava o conselheiro como uma espécie de super-herói "na luta entre o bem e o mal". A peça rendeu brincadeiras nos bastidores e Stábile passou a ser chamado, em tom de brincadeira, de "Agente 86", referência a uma série de espiões de sucesso dos anos 1960.

Como o clube reagiu

O Corinthians prefere não falar sobre as declarações do conselheiro, pois ele não citou o nome do clube de Parque São Jorge. Há dirigentes, inclusive, que preferem adotar a histórica Democracia Corinthiana para não criar mais polêmica em cima do assunto. Eles enfatizam que o Alvinegro é composto por 33 milhões de seguidores e que cada um fala e escreve o que bem entender.

No entanto, existe um grupo de dirigentes que alega que Osmar Stábile faz parte de uma "meia-dúzia" de direita entre os conselheiros, que apoia a ditatura e entende pouco de política. Eles ressaltam que tal grupo não representa o clube paulista em nada e lembram que o presidente de futebol, Andrés Sanchez, e o presidente do Conselho Deliberativo, Antônio Goulart, são os únicos que podem falar em nome do Corinthians.

Apesar disso, a vice-presidente do clube, Edna Murad, afirmou em contato com a reportagem do UOL Esporte que o conselheiro desconhece a história do clube. "Tenho só a lamentar, apenas nesse quesito, porque ele é uma pessoa do bem. Pra mim, exaltar a ditadura, exaltar um grupo de pessoas que chegou no poder e cometeu crimes de tortura, de estupro, é uma coisa absurda. Vai na contramão do que é o Corinthians, o time do povo, que defende a democracia. Atribuo isso a um conhecimento raso da história do clube e do Brasil", afirmou.

Já um grupo intitulado de "Liberdade Corinthiana", embora não concorde com o pensamento de Stábile, frisou a importância da liberdade de manifestação e expressão do pensamento. "O direito de opinião é inalienável. Não se deve perder de vista o princípio de que uma ampla liberdade de expressão é essencial para a democracia, para o Estado de Direito e para o estímulo ao pensamento crítico. Trata-se de uma visão pessoal dele, que deve ser respeitada, na mesma medida em que o pensamento ideológico oposto também merece ser considerado", disse.

No Twitter, Citadini, que é declaradamente contra o golpe militar de 1964, disse que "não tem muito o que comentar". Na mensagem, ele ressaltou que a "esmagadora maioria de conselheiros" apoiou Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018.

Vídeo foi usado pela Presidência

O vídeo trata o golpe militar com narrativa semelhante à do presidente Jair Bolsonaro e de alguns de seus ministros. Alega-se que a derrubada de João Goulart em 31 de março de 1964 foi um movimento para conter um suposto avanço do comunismo no Brasil. A tomada do poder deu início a uma ditadura de 21 anos.

O material foi distribuído por um número oficial de WhatsApp do Palácio do Planalto no dia em que o golpe militar completou 55 anos. Na ocasião, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República se recusou a informar quem eram os responsáveis pelo material, nem esclareceu de onde partiu a ordem para o disparo da peça. Ontem, no entanto, o vice-presidente Hamilton Mourão revelou que a iniciativa havia sido uma decisão de Bolsonaro.

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