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Time de Flávio Caça-Rato dispensa todo o elenco por falta de dinheiro no ES

Flávio Caça-Rato teve passagem breve pelo Atlético Itapemirim: só nove partidas - John Wesley/Atlético Itapemirim
Flávio Caça-Rato teve passagem breve pelo Atlético Itapemirim: só nove partidas Imagem: John Wesley/Atlético Itapemirim

Augusto Zaupa

Colaboração para o UOL, de São Paulo

10/04/2019 04h00

Inicialmente, o projeto era para durar a temporada de 2019. Mas em menos de três meses, tudo veio abaixo. Sem dinheiro nos cofres e repleto de dívidas, o Atlético de Itapemirim, que fora eliminado nas quartas de final do Campeonato Capixaba, teve de dispensar todos os 25 jogadores do elenco por atrasos salariais e por não ter perspectivas de novas receitas. Entre os atletas que tiveram o contrato encerrado antes do previsto, está o experiente e folclórico atacante Flávio Caça-Rato, de 32 anos, ídolo em Pernambuco.

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Com um convênio com a Prefeitura de Itapemirim, o Atlético tem à disposição a quantia de R$ 880 mil por ano - o valor é parcelado em quatro parcelas de R$ 220 mil. Mas inúmeras ações trabalhistas e judiciais movidas por ex-jogadores e fornecedores bloquearam o repasse desta verba. Ao UOL Esporte, o presidente do Atlético, Armando Zanata, confirmou o problema financeiro e disse que o atraso salarial de três meses dos atletas, da comissão técnica e dos demais funcionários do clube ocorre devido à burocracia.

"Sabia que o clube tem dívidas trabalhistas e com fornecedores. Mas assumi a presidência contando com esse dinheiro e fui pego de surpresa. A Prefeitura me prometeu o pagamento destas parcelas. Todos os jogadores que vieram [cerca de 25 jogadores foram contratados no início do ano] sabiam que seriam pagos com este dinheiro da Prefeitura. Mas não recebemos o repasse por uma questão burocrática", disse Zanata, que assumiu o comando do time em 2 de janeiro e antes fora diretor-executivo de futebol na gestão passada.

O UOL Esporte apurou que a folha salarial do clube não ultrapassa R$ 100 mil ao mês e que o time não conta com outra renda para quitar as suas contas. Mesmo assim, o mandatário prometeu que os salários serão quitados ainda nesta semana.

"A Secretária de Finanças do município me prometeu que o pagamento será feito nos próximos dias. O dinheiro já está liberado, já conseguimos a Certidão Negativa e a Certidão Federal. Paguei R$ 62 mil do meu bolso para conseguir esta documentação. Mas são muitos processos contra o clube e estou respondendo pela má administração de outros dirigentes", acrescentou o dirigente, que diz não depender do futebol para sobreviver.

"Sou empresário de terraplanagem e também mexo com obras. Já tirei R$ 150 mil do meu bolso por este clube. Faço pelo amor ao futebol, ao esporte. O futebol é 'minha cachaça', minha diversão. As diretorias anteriores estouraram o clube. Qual é a minha responsabilidade sobre isso [em relação às ações trabalhistas]? Acabei entrando numa fria", desabafou.

Apesar dos atrasos nos salários, o presidente do Galo, apelido do time, afirma que os jogadores não passaram por necessidades. "Os atletas já estão voltando para os seus Estados, suas casas, mas não teve nenhum constrangimento. Em nenhum momento eles passaram fome, pois eles moravam e se alimentavam nas dependências do clube, que são muito boas", declarou.

Mas esta não é a versão que parte do antigo elenco do Atlético. O zagueiro Anderson Júnior, um dos líderes do time, discordou ao revelar as dificuldades que alguns atletas estão enfrentando.

"A folha salarial não é alta. A maioria dos jogadores é jovem, recebe cerca de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil. São poucos que ganham R$ 5 mil. Não passamos necessidades no clube, mas eles [dirigentes] precisam entender que este valor é usado pelos jogadores para colocar alimento dentro da própria casa. Alguns pagam pensão e as ex-esposas estão cobrando. As contas de luz e mensalidades das escolas dos filhos também estão atrasando", disse o defensor, que já retornou para o Rio de Janeiro para defender outra equipe.

"Não tinha como continuar. A moça que trabalha na cozinha disse que não faria mais as refeições a partir de sexta-feira (4). Ficou insustentável. Não sabemos de quem é a falha, de qual gestão é, mas saímos de lá sem nada", acrescentou Anderson.

Caça-Rato arrependido

Com passagens por mais de 15 equipes na carreira, entre eles os rivais de Recife Sport e Santa Cruz, o folclórico atacante Flávio Caça-Rato, de 32 anos, não poupou críticas à diretoria do Atlético Itapemirim e disse que o Galo é o clube de pior gestão por onde passou - foram apenas nove partidas pelo time capixaba.

"Se arrependimento matasse, eu já estava morto. Não sei porque coloquei o pé neste clube. Esperaram por um dinheiro que não tinham. Eles são muito amadores, despreparados. Futebol é coisa séria e eles estão brincando com pais de família que contam com este dinheiro. Os jogadores não têm culpa de tanto despreparo"
Flávio Caça-Rato, ex-atacante do Atlético Itapemirim

"Passei por muita coisa na minha carreira, mas esta foi disparada a pior. Muito pior do que passei no Remo, quando fiquei no time por dois meses e me pagaram apenas um", acrescentou o atacante em conversa com a reportagem pouco antes de regressar a Recife, onde mora com a família. "Vou embora porque isso aqui está igual ao Garparzinho. Nunca vi a cor do dinheiro", desabafou.

Novos bloqueios

Apesar de a diretoria contar com a antecipação do pagamento da segunda parcela de R$ 220 mil, a Secretária Municipal de Finanças disse acreditar que novas ações trabalhistas podem bloquear futuros repasses ao time.

"Queremos ajudar, mas não podemos ignorar uma ordem judicial. Mesmo se fizermos o depósito na conta do Atlético, este dinheiro vai voltar por causa deste bloqueio. O problema todo é a gestão do clube. Já conversei com o presidente Zanata e disse que novos bloqueios podem aparecer", comentou José Luiz dos Santos, secretário de finanças de Itapemirim.

O funcionário da prefeitura revelou que o time já havia passado por problema semelhante em 2017. "Isso está se repetindo. Há dois anos, a primeira parcela também foi bloqueada pela Justiça. Na época, o time chegou a negociar com a Justiça do Trabalho para liberar a verba. Eles acordaram em quitar as dívidas em cinco parcelas, mas pagaram apenas a primeira e o problema voltou a ocorrer agora", revelou.

Futuro do Galo

Campeão do Capixabão em 2017 - primeiro título estadual em 53 anos de história -, o Atlético Itapemirim só voltará a jogar em agosto, quando disputará a Copa do Espírito Santo. Para piorar, o time não está classificado para jogar a Série D do Campeonato Brasileiro deste ano, uma vez que apenas os campeões do Estadual e da Copa do Espírito Santo do ano passado têm direito a vaga no torneio Nacional. O Estado será representado por Serra e Vitória, vencedores dos últimos campeonatos locais, respectivamente.


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