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Valdiram morou na rua, esperou ajuda e disse ter salvado irmão de Romário

Ana Carolina Silva e Emanuel Colombari

Do UOL, em São Paulo

21/04/2019 07h14

Valdiram viveu como um atleta de potencial perdido e morreu como morador de rua por causa ainda não confirmada. O ex-atacante do Vasco teve seu corpo encontrado anteontem (19), na zona norte de São Paulo, e fez torcedores lamentarem pelo que imaginam que sua carreira poderia ter sido. Em 2018, sob um viaduto da capital paulista, ele gravou um vídeo pedindo ajuda a nomes como Denilson, Renata Fan, Edmundo e Zico, e deu a entender que acreditava ter salvado a vida de um irmão de Romário.

"Eu ajudei o irmão dele, Ronaldo, que estava para morrer na favela do Jacarezinho. Eu ajudei! E aí?", afirmou ele, no vídeo acima, logo depois de um amigo citar o nome de Romário. O "Baixinho" de fato tem um irmão chamado Ronaldo Faria, mas Valdiram não explicou a referência.

O amigo presente no vídeo destacou, diversas vezes, que o ex-atleta teria tido um salário de R$ 150 mil por mês antes de se tornar morador de rua. É importante ressaltar que o próprio Valdiram já havia desabafado sobre sua experiência com cocaína e crack (leia mais sobre isso abaixo) na Cracolândia, em São Paulo, e na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro.

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Imagem: reprodução/Lance

No vídeo, ele aproveitou a oportunidade para pedir ajuda a alguns nomes famosos do esporte com os quais trabalhou. "Sou Valdiram, aquele da Copa do Brasil de 2006! Do lado de Romário, Edilson Capetinha, Ramon, Morais, Renato Gaúcho... Estou pagando o preço aqui, debaixo de um viaduto em São Paulo", disse.

"Denilson, da Bandeirantes, casado com a filha do Zezé di Camargo e Luciano (nota da redação: Luciele é, na verdade, irmã da dupla de cantores). Meu amigo! Denilson, eu mando um abraço. E ninguém vem aqui me ajudar. Estou magrinho. Será que eu só era amigo de Zeca Pagodinho, Dudu Nobre, do Revelação e do Molejão quando eu estava na fama no Rio?", questionou.

"Não se esqueçam de mim, Denilson, Edmundo e Romário. Ô, Denilson! Eu preciso, Renata Fan, sair dessa vida. Já paguei meu preço, estou sofrendo demais. Chega! Chega de ser envergonhado, chega! E aí, Zico? Tu é (sic) meu parceiro? Junior, quando a gente batia uma pelada em Copacabana, Junior! Casagrande!", pediu Valdiram.

No ano passado, Valdiram foi encontrado morando nas ruas de Bonsucesso, bairro da zona norte do Rio de Janeiro. Após esta condição vir à tona, o jogador recebeu apoio do Vasco e passou por uma clínica de reabilitação carioca. Em nota, o clube observou que ele permaneceu na clínica por quatro meses, até 23 de junho de 2018.

Em 2015, o ex-atacante desabafou. "O Valdiram, para o mundo, estava acabado e morto. Você sai com as mulheres e daqui a pouco vêm a cerveja, a cocaína, a maconha, o crack. Assim foi a minha vida. Eu vi a morte, eu vi o espírito da morte na minha frente. (...) Eu passei pelo vale das sombras da morte", afirmou, em entrevista ao "Lance".

"Ganhei muito dinheiro. Passei por 25 equipes, com salário de R$ 20 mil, R$ 30 mil. Na prostituição, na bebida, na noite do samba, no mundo das drogas... Esse dinheiro não dura, se acaba rapidamente. Eu passei a usar cocaína aos 27 anos. Depois, não parei mais, mas só usava quando bebia. Quando eu bebia, o meu nariz ficando coçando e escorrendo", relatou.

"O pior momento da minha vida foi em 2010. Foi quando eu realmente caí na cocaína, no crack, e passei um ano no mundo da escuridão. Cheguei a usar cocaína na Cracolândia, foi o pior momento. Difícil lembrar de tudo que passei como jogador do Vasco da Gama, e ver o momento em que eu me encontrava: usando drogas na favela do Jacarezinho", completou.

Artilharia e desentendimento com Renato Gaúcho

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Imagem: DO DIA, FOTOS/TBA / Folha de São Paulo

O grande momento de Valdiram veio em 2006, quando foi contratado pelo Vasco da Gama. Naquele ano, foi vice-campeão da Copa do Brasil, sendo artilheiro do torneio com sete gols. Na época, porém, desentendeu-se com o técnico Renato Gaúcho, quando pairavam sobre o jogador acusações de ter saído para a noite antes de um dos jogos da final contra o Flamengo. Acabou perdoado.

Só que a mágoa do atacante com o Vasco não passou. Em 2007, quando defendia o Bonsucesso na segunda divisão do Campeonato Carioca, respondeu à dispensa que havia sofrido em fevereiro. "Coloquei o Vasco lá em cima e apanhei muito. Renato fez muita trairagem comigo", disse. Naquele mesmo ano, passou por Itumbiara e Ituano.

Nos anos seguintes, rodou por mais equipes, sempre com problemas. Anunciado como reforço do Comercial (AL) em dezembro de 2013, ficou apenas um mês no novo time. Dispensado, foi acusado pelo presidente do time, Flavius Flaubert, de envolvimento com drogas e de furto do celular de um companheiro.

Àquela altura, o vício em drogas e álcool já era um problema conhecido. Em 2015, após mais de um ano afastado dos gramados, recebeu uma nova oportunidade do Vasco: o jogador procurou o então presidente Eurico Miranda para tentar recuperar a condição física.

O último clube do atacante foi o Atlântico (BA), no qual disputou apenas um jogo em 2018. Em fevereiro daquele ano, foi encontrado pela imprensa morando nas ruas do Rio de Janeiro. Mais uma vez, o Vasco se prontificou a ajudá-lo, e Valdiram passou quatro meses internado em uma clínica de reabilitação.

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