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Por que Fernando Diniz desperta tanto amor e ódio? Blogueiros respondem

Lucas Mercon/Fluminense FC
Imagem: Lucas Mercon/Fluminense FC

Do UOL, em Santos (SP)

06/05/2019 15h06

Na noite de ontem, o Fluminense de Fernando Diniz conquistou sua primeira vitória no Campeonato Brasileiro depois de um jogo épico contra o Grêmio em Porto Alegre: 5 a 4. Um dos grandes personagens do jogo acabou sendo justamente o técnico tricolor, que desde o início de sua carreira como treinador adota um estilo de jogo diferente dos padrões atuais e acaba despertando amor e ódio em torcedores e até comentaristas.

Mas por que Fernando Diniz provoca isso? Fizemos essa pergunta aos blogueiros do UOL Esporte. Confira o que eles responderam:

ANDRÉ ROCHA

Incomoda e encanta quase na mesma proporção porque as ideias do Diniz, talvez sem o treinador perceber, tentam desconstruir a velha dicotomia 1982 x 1994.

No imaginário popular um ganhou porque foi pragmático, "fechou a casinha", focou no resultado. e jogou em função de um único craque: Romário. O outro tinha Zico, Falcão, Sócrates, Júnior... Mas fez um jogo "lúdico", nada competitivo e a bola puniu o "sonho.

Só que na prática essa oposição nunca existiu de fato. Telê queria vencer, Parreira e Zagallo formaram uma seleção ofensiva, com mais posse que todos os adversários. Mas marcou poucos gols e ganhou a final nos pênaltis.

Diniz quer ganhar, mas também valoriza o lúdico, o intuitivo. E tenta construir tudo isso com um elenco sem estrelas, longe disso. Não entra na cabeça de muitos, que preferem que ele perca para seguir no conforto de suas convicções. Outros mais "transgressores" ou apenas cansados da mesmice do jogo por uma bola no Brasil querem o sucesso exatamente para confrontar o status quo.

Este que escreve faz questão de se incluir no segundo grupo, mesmo com ressalvas naturais ao trabalho do técnico do Fluminense. (LEIA MAIS)

BOLÍVIA

Porque ele tem uma proposta de jogo diferente dos padrões atuais: ter a posse e não rifar a bola com um bom primeiro toque, ocupação de espaços e tomadas de decisão certas. É um esquema cheio de regras teóricas, que muitas vezes não são absorvidas pelo jogador. Quando funciona, é exaltado. Quando dá errado e a bola é perdida na defesa, é massacrado. No Audax, recebeu muitos elogios. No Athletico Paranaense, perdeu força. Às vezes, ele vai de Professor Pardal a Guardiola Tupiniquim no mesmo jogo, como aconteceu ontem em Porto Alegre. Estava quase perdendo o emprego com o 3 a 0 contra. Ganhou um respiro com a virada épica. Resta saber como o Fluminense, com um elenco extremamente limitado, vai se sair daqui pra frente. Os resultados é que vão definir se o sentimento que vai prevalecer é o amor ou o ódio.

JUCA KFOURI

Acho que ele desperta admiração entre os que gostam do jogo bem jogado e irrita os pragmáticos, os resultadistas. Adoraria vê-lo trabalhar um ano num elenco como o do Palmeiras, Cruzeiro, Grêmio, Flamengo. Acho que os faria voar. (LEIA MAIS)

JULIO GOMES

Desperta amor e ódio porque as pessoas são conservadoras e não gostam de rupturas. Fernando Diniz traz uma ruptura que incomoda muita gente. Incomoda "especialistas", que passam a vida falando as mesmas coisas e nunca pararam para estudar futebol nem por 5 minutos. Incomoda torcedores, que só se importam com resultados, não com os meios de consegui-los. Diniz tem um discurso que desafia uma sociedade mergulhada na mediocridade.

MARCEL RIZZO

Nos últimos anos o futebol brasileiro tem como técnicos vencedores aqueles que não usam, digamos, um futebol vistoso: Tite, Mano Menezes, Felipão, Carille de uma geração mais nova. A questão de amor e ódio com Diniz passa pelo "ganhar jogando feio x perder jogando bonito", o que é bobagem porque claro que dá pra ganhar jogando bonito como perder jogando feio. Diniz precisa é ganhar títulos com seu estilo para encerrar as discussões.

MAURO BETING

Ele não é o Guardiola das Laranjeiras (e nem pretende ser) e não é um zémanevski das Laranjeiras. Infelizmente, quando mais queremos um futebol melhor, mais ofensivo, treinado, estudado e de qualidade, mais se cobra de um treinador que pretende apenas ser diferente. Ou igual aos melhores trabalhos pelo mundo, e resgatando o melhor do nosso jogo. Não merece os extremos: nem a defesa apaixonada mas, sobretudo, menos ainda a crítica contundente de quem parece torcer pelo final infeliz. (LEIA MAIS)

MAURO CEZAR

Por inveja, pelo "atrevimento" de tentar fazer diferente da vala comum, por correr riscos dos quais inúmeros treinadores fogem com futebol covarde, pelo conservadorismo e por uma mediocridade que assola nossa sociedade e, consequentemente, o futebol. (LEIA MAIS)

MENON

Realmente, é difícil entender. Geralmente, quase sempre, são os grandes campeões que causam amor e ódio, que são colocados no centro de grandes discussões: Tite, Scolari, Dunga....

No caso de Diniz, seus cultuadores o colocam como alguém de ideias novas e não aceitam nenhuma contestação à sua trajetória. Falam do Audax e colocam o Oeste debaixo do tapete. Chegam a tirar o mérito de Tiago Nunes, que pegou um Furacão saco-de-pancadas e levou à Libertadores.

Buscam jogos isolados. Eliminou o São Paulo na Libertadores. E não falam sobre a derrota por 2 x 0 para o Santa Cruz. Quando o São Paulo venceu o Furacão no ano passado, falaram em falha do goleiro Santos. Quando vence espetacularmente o Grêmio, ninguém fala que tudo começou com uma falha grotesca do goleiro Júlio César.

Fernando Diniz é o único treinador brasileiro que pode passar um século sem um título. (LEIA MAIS)

PERRONE

Não sei responder. Pra mim, ele não é genial e nem estúpido. Não inventou um jeito de jogar bola e nem destruiu algum estilo. Diniz apenas escolheu um modelo e é fiel a ele por onde passa. Talvez devesse ter um repertório maior para dificultar o trabalho de seus adversários.

RENATA MENDONÇA (DIBRADORAS)

Fernando Diniz representa nosso eterno dilema do futebol. O jogar bonito e perder ou jogar feio e ganhar. Mas isso é uma simplificação muito superficial do que Diniz representa. Até porque, ele mostra que é, sim, possível buscar o jogo bonito e vencer. Como fez ontem, contra "tudo e contra todos", já que sobravam críticas nas redes sociais ao trabalho dele quando o Grêmio vencia por 3 a 0. Diniz representa o diferente e isso desperda curiosidade - e, ao mesmo tempo, questionamentos excessivos, no meu modo de ver. A gente questiona mais um técnico que busca o gol do que um técnico que coloca o time todo atrás para fugir dele. Oras, mas o objetivo principal do futebol não é justamente fazer o gol? E muitas vezes idolatramos times que sequer se esforçam para isso. Que ganham com uma bola e fechando o time todo na defesa. Acho que a gente aderiu excessivamente a essa cultura do resultado e passamos até mesmo a "aceitar" com facilidade o jogo ruim, pura e simplesmente porque é mais fácil ganhar com ele. Hoje, no futebol brasileiro, "ousar" é apostar na construção de jogadas, no toque de bola ofensivo e na busca do gol a todo instante. Irônico, porque no passado foi justamente esse estilo de jogo que fez o Brasil ser conhecido e reverenciado mundo afora como "País do Futebol". Fernando Diniz incomoda porque tenta fazer diferente. Às vezes erra, às vezes acerta, mas não desiste de tentar. (LEIA MAIS)