O que o Fortaleza faz para tentar bater de frente com gigantes brasileiros
O Fortaleza perdeu para o São Paulo na Arena Castelão, pela quarta rodada do Campeonato Brasileiro, no encontro do Tricolor Paulista com o ídolo Rogério Ceni. Mas, mesmo derrotado e recém-chegado à Série A após 13 anos de calvário, o Leão do Pici mostra virtudes que podem servir de aprendizado para o clube do Morumbi e para a maioria dos dirigentes do país.
Aos 36 anos, quem preside o clube é Marcelo Paz. Um jovem entre os mandatários dos clubes mais tradicionais do país. Isso não o intimida na hora de tentar trocar informações. O cartola sabe que o momento é de afirmação para o Fortaleza e que bons exemplos precisam ser buscados para que o projeto do clube tenha sequência.
"Foi assim na Série B do ano passado. Criamos um grupo para trocar ideia. E agora na Série A já tive três encontros. É um grupo diferente, com presidentes mais velhos. A diferença de idade é grande, há um choque de geração, mas eles são sempre respeitosos comigo, me atendem super bem. Admiro algumas gestões, como a do Athletico Paranaense, a do Grêmio, do Palmeiras. Procuro trocar ideia com eles", contou ao UOL Esporte o presidente do Leão no Pici, a sede do clube.
Longevidade e sequência para o trabalho de um técnico
Marcelo Paz assumiu a presidência do Fortaleza no fim de 2017 com a responsabilidade de comandar o clube na volta à Série B do Brasileirão e no ano do centenário do clube. O dirigente fez de tudo para ter Rogério Ceni como técnico. Uma forma de atrair olhares e credibilidade, ao mesmo tempo em que um projeto sólido poderia ser construído.
Um início irregular de Campeonato Cearense, somado à derrota na final para o rival Ceará, fez com que Ceni fosse pressionado por conselheiros e torcedores. Paz não se deixou abalar. Bancou o treinador e viu o Fortaleza liderar 36 das 38 rodadas da Segunda Divisão para ser campeão e conquistar o acesso. Em 2019, já foi campeão estadual e está na decisão da Copa do Nordeste.
"A longevidade dos trabalhos dá resultado, desde que você escolha a pessoa certa. E acho que o Rogério é a pessoa certa para o Fortaleza. Por mim ele ficaria aqui por muito tempo", afirma o presidente Marcelo Paz, que citou Liverpool e Tottenham, finalistas da Liga dos Campeões, como exemplos: "Eles não ganharam títulos e renovaram com os técnicos".
As próximas metas do Fortaleza também já estão definidas. E sempre com Ceni garantido no comando do time. "Pode vir algum resultado maior neste ano? Pode, mas é difícil competir com a qualidade do elenco desses times, pela estrutura que eles têm, pelo nível financeiro. Se passarmos das oitavas de final da Copa do Brasil, será espetacular, pela receita, por subir no ranking da CBF. Mas o foco é terminar a 38ª rodada do Brasileirão fora da zona de rebaixamento. A permanência será um título", ponderou o presidente.
No mesmo período em que Ceni conduz o Fortaleza, o São Paulo, por exemplo, teve Dorival Júnior, Diego Aguirre, André Jardine e Cuca como técnicos, além de Vagner Mancini como interino. O melhor resultado alcançado no período foi a final deste ano no Campeonato Paulista, competição na qual o Tricolor usou três treinadores diferentes e chegou até a mudar quase integralmente o time titular.
Contratar de acordo com as funções desejadas
Com Rogério Ceni e Marcelo Paz, o Fortaleza conseguiu ser mais racional na hora de contratar. Foi preciso, por muitas vezes, deixar de lado a passionalidade da torcida, sedenta por nomes de peso, para investir em jogadores que atendessem a real necessidade do time. Ceni disse ao UOL Esporte: "Se não posso ter o melhor meia para cadenciar, preciso fazer o diferente e apostar na velocidade".
Além das necessidades do treinador, é preciso pensar na equação "posição x função". Dois jogadores da mesma posição podem realizar tarefas totalmente distintas em campo, sendo úteis ou um problema para cada time. A chegada de Cuca e a manutenção da diretoria de futebol com Raí e Alexandre Pássaro tem feito o São Paulo mais coerente nas contratações. A compra de Tchê Tchê é o exemplo claro de um acerto dos paulistas nesses dois quesitos.
No Fortaleza, Marcelo Paz explica como tem sido o processo de busca por reforços, que conta ainda com um analista de mercado: "Rogério é muito criterioso para contratar e nós seguimos isso. Não adianta trazer um meia, camisa 10, craque, coloca a bola onde quer, mas que não recompõe. Se não fizer isso, não vamos trazer. Não é a posição, é a função. É fazer aquilo que o treinador quer dentro de campo. É uma engrenagem, um ligado ao outro. Muitas vezes a gente deixa de trazer um cara que é craque para a torcida e traz quem se encaixa mais pelo perfil. Não importa se é o jogador que a torcida queria ou não. É preciso seguir a linha de trabalho do treinador".
Mesmo sem dinheiro, é possível manter uma base maior
Além das frequentes trocas de técnico, o São Paulo também tem sofrido com uma alta rotatividade de jogadores no elenco. Rogério Ceni lembra, por exemplo, que apenas dois atletas treinados por ele entre janeiro e julho de 2017 seguem no clube: o volante Jucilei e o atacante Brenner. "Um clube como o São Paulo não pode mudar tanto assim de elenco", aconselha o técnico.
Para efeito de comparação, também com 2017 como parâmetro, o Fortaleza tem cinco remanescentes do elenco que conquistou o acesso da Série C para a Série B. O volante Felipe segue como um dos principais nomes da equipe, enquanto o goleiro Marcelo Boeck e o lateral-esquerdo Bruno Melo revezam no time titular.
O grande problema do Fortaleza está na manutenção de jogadores de maior peso. Muitos só estão no Leão devido a empréstimos de outros times. "Tenho jogador do Internacional, do Corinthians, do São Paulo. E é assim que conseguimos contratar. No ano que vem, teremos de pensar de novo em como reforçar o elenco", explica Ceni.
Paz política e diretoria técnica
São Paulo e Fortaleza têm um elemento em comum: possuem executivos remunerados nas diretorias. Em alguns casos, conselheiros dos clubes foram escolhidos para esses cargos remunerados. No Morumbi, isso foi motivo para efervescência entre grupos políticos e, após reclamações, os conselheiros que aceitarem cargos remunerados precisarão deixar definitivamente o conselho deliberativo, e não apenas pedir afastamento temporário.
Por enquanto, o Fortaleza não tem nesse cenário um motivo para crise política. O presidente Marcelo Paz comemora: "Temos uma diretoria remunerada. Muitos são conselheiros. Outros não, são executivos que vieram de fora. Eu acho uma bobagem muito grande você não poder colocar um conselheiro como diretor remunerado, ou contratar a empresa de um conselheiro. Vou contratar a de um torcedor do Ceará? Eu tenho que dar preferência para quem torce e gosta do clube. Desde que sejam competentes, sejam habilitados".
"Essa é uma bobagem estatutária que tem em muitos clubes. Você não pode ter relação quando é coisa errada. Se está tudo aberto, transparente, não tem porque ter receio de fazer. Estou aqui para fazer gestão, não politica. Não fiz concessão para ser eleito, não montei diretoria baseado em política. Fiz uma diretoria técnica com pessoas que têm competência para cada área".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.