Abel vive paradoxos no Flamengo e dilemas dividem clube e torcida
A equação entre investimento e expectativa ainda não chegou a um resultado exato, e essa conta que não fecha tem deixado o técnico Abel Braga no olho do furacão que se tornou o Flamengo desde que as críticas ao trabalho ao treinador subiram de tom e ganharam a arquibancada.
Ao passo que os troféus do Carioca e da Florida Cup tenham servido de escudo para os defensores do comandante, Abel enfrenta paradoxos que dividem a cúpula de futebol e que também ganham eco entre os torcedores, seja no estádio ou na rede social.
O conflito interno que virou a passagem do profissional pela Gávea já gerou pichações nos muros e xingamentos no Maracanã, algo que estava restrito ao ambiente da internet. Após a heroica vitória contra o Athlético, os jogadores entraram em cena ao minimizarem as críticas e abraçarem explicitamente o técnico, ampliando um pouco mais o racha que tem marcado o cotidiano dos rubro-negros. O triunfo foi festejado, embora o desempenho no gramado ainda esteja em xeque.
"A gente fica feliz, mas o mérito pela vitória tem que ser dividido entre o Abel e todos os jogadores", ressaltou Rodrigo Caio.
Mesmo com o triunfo importante no Campeonato Brasileiro, Abel vive na corda bamba jogo a jogo e a direção não tem uma posição unânime sobre a manutenção do trabalho iniciado em janeiro. Ao passo que o treinador tem apoio irrestrito de Luiz Eduardo Baptista, vice de relações externas do Fla, os dirigentes do futebol são mais tímidos em declarações públicas de apoio.
Com a classificação às quartas da Copa do Brasil encaminhada e garantido nas oitavas da Libertadores, o Rubro-negro vive um turbilhão digno de um clube que vem de sucessivas derrotas. No caso do Flamengo, no entanto, o caldeirão ferve à medida que a ansiedade do torcedor por títulos aumenta e o time oscila muito de um jogo para o outro.
Com a iminente parada para a Copa América, Abel corre poucos riscos até lá, mas sabe bem que uma eliminação contra o Corinthians pode selar sua sorte. Em meio a tamanha instabilidade, Abel defende seu trabalho, minimiza o ambiente externo pesado e tenta criar um elo mais forte com o seu elenco.
"O torcedor cantou "o Flamengo não precisa de você", mas o meu grupo precisa. O torcedor é soberano. Eu gosto de escutar aquilo? Claro que não. Mas talvez tenha mexido com meu grupo. Eu sei que meu grupo precisa de mim. Se o Flamengo não precisa, não sou eu que vou saber. Vou seguir fazendo meu trabalho", afirmou ele.
Quando contratado, Abel chegou com a missão de mudar uma mentalidade supostamente "derrotada" dos últimos anos do time. Conseguiu. Se o time mostra brio e dedicação dentro das quatro linhas, contudo, incomodam os críticos a fragilidade defensiva da equipe e o rendimento coletivo por vezes insatisfatório.
Com a semana livre até o jogo de sábado contra o Fortaleza, às 19h, no Nilton Santos, o treinador ganha um raro tempo livre para trabalhar, mas sob vigilância de dirigentes e torcedores. Na montanha russa rubro-negra, a queda e o topo andam de mãos dadas no Flamengo.
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