Ex-dirigente diz que "cartel político" na Fifa segue em operação
Quatro anos depois da eclosão do pior escândalo de corrupção da história do futebol e três anos depois da eleição de Gianni Infantino que prometia "virar a página" da crise, a Fifa volta às urnas nesta semana. Mas o esporte mais popular do mundo continua a ser administrado por um "cartel político", sem transparência e sem controles independentes.
A denúncia é feita por Miguel Maduro, convidado em 2016 para ser o chefe do Comitê de Governabilidade da Fifa. O órgão havia sido criado justamente para colocar ordem na entidade abalada pela corrupção, organizar e fiscalizar eleições e estabelecer regras sobre quem poderia fazer parte da gestão do futebol. Mas Maduro durou apenas alguns meses no cargo, depois de ver sua independência minada pela cúpula da entidade, que o teria pressionado a tomar certas decisões contra as próprias regras da Fifa.
Agora, diante da reeleição de Infantino, que sequer terá um concorrente nesta quarta-feira e se consolidará por mais quatro anos no poder, Maduro fez sua avaliação.
Ele chegou a prestar depoimento diante do Parlamento Britânico e revelou como, para proteger o governo russo e de tentar evitar qualquer punição contra representantes do Kremlin, Vitaly Mutko, a direção da Fifa o pressionou e não puni-lo.
Sua saída foi seguida pelo pedido de demissão de outros membros, inclusive por parte de Navi Pillay, ex-chefe de Direitos Humanos da ONU e que havia aceitado o convite para também fazer parte do esforço da nova Fifa em virar a página da corrupção.
Em 2016, Infantino demitiu o investigador independente da Fifa e seu o juiz. O auditor das contas da entidade, Domenico Scala, pediu demissão antes, diante da mudanças das regras.
Atacado por muitos por seu caráter centralizador, Infantino viu como vários de seus delegados de seus órgãos independentes abandonaram seus trabalhos na Fifa por julgar que a entidade não estava comprometida com as reformas que prometeu depois das prisões dos cartolas, em 2015.
Ao UOL, Maduro deixa claro que nada de significativo irá ocorrer na Fifa enquanto a estrutura não for modificada.
"Nada de substancial irá mudar na Fifa enquanto não for verdadeiramente democrática, for dominada por um cartel político e não existirem mecanismos de fiscalização e controle que sejam verdadeiramente independentes", disse o ex-membro da entidade.
"Enquanto não houver um verdadeiro processo de democratização e de aumento da representatividade que coloque em causa o cartel político que domina o futebol, enquanto não existirem organismos que sejam verdadeiramente independentes no controle o exercício do poder, nada de significativo irá mudar. Mais tarde ou mais cedo, os escândalos reaparecem", insistiu.
Quatro anos depois das prisões em Zurique, todos os envolvidos no escândalo que abalou o mundo da bola foram afastados. Gianni Infantino, diante dos eleitores na quarta-feira, vai ainda insistir que as contas da entidade são testemunhos dessa nova fase, mais rica.
Para seus críticos, porém, o suíço simplesmente concentrou poderes em suas mãos, tornou o processo decisório ainda mais sigiloso e passou a agir nos bastidores até mesmo em contratos milionários.
Democracia
Já seus aliados aplaudem. O vice-presidente da Fifa, Victor Montagliani, chegou a alertar nesta semana que a entidade não é um governo e que, portanto, nem sempre uma votação seria bem-vinda. Questionado se ele defenderia que sempre houvesse mais de um candidato nas eleições na Fifa, ele negou.
"Se temos cada vez uma eleição, não é bom para a organização", disse. "Quando alguém faz um ótimo trabalho, ele deve continuar. Não estamos administrando um governo. Não temos partidos políticos. Num país você tem eleições a cada quatro ou cinco anos. Mas aqui é uma entidade esportiva. Todos tem direito a concorrer. Mas temos de equilibrar democracia com a estabilidade institucional", disse.
Uma das propostas apresentadas no Conselho da Fifa é de que, em caso de que haja apenas um candidato para a presidência, o cartola seja eleito por aclamação e que não seja necessário nem mesmo votos. A proposta foi apresentada por um xeque árabe.
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