Como Neymar e Polícia minaram a sonhada paz de Tite e seleção na Granja
Depois de anos de experiências atribuladas na preparação para torneios importantes, a seleção brasileira esperava transformar a Granja Comary em um oásis de paz antes da Copa América. Mas o saldo após 14 dias de trabalhos ficou muito longe do planejado. A demora para ter todo o elenco e, principalmente, os seguidos episódios problemáticos envolvendo Neymar deixaram o Brasil em um turbilhão.
A comissão técnica de Tite tomou diversas medidas para tornar o ambiente da Granja mais sossegado e adequado a uma rotina de trabalho mais séria. Um cenário completamente distinto do que foi visto antes da Copa do Mundo de 2014, quando, a contragosto até de Luiz Felipe Scolari, a antiga gestão da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) escancarou as portas para celebridades fazerem do dia a dia canarinho um espetáculo.
Hoje, a Granja oferece uma estrutura melhor do que há cinco anos. Com a instalação de refletores, por exemplo, finalmente foi possível pensar em treinamentos noturnos. Há mais tecnologia a favor da comissão e dos atletas. Treinos fechados ganharam espaço. O assédio de torcedores foi praticamente nulo - no ano passado, antes da Copa, foi preciso até aumentar as grades de proteção para evitar invasões.
Agora, a privacidade buscada por Tite só foi abalada quando um convidado de um dos patrocinadores da seleção vazou imagens e informações de uma atividade por meio de uma live no Instagram. A solução foi abrir treinos de última hora e só deixá-los fechados no dia em que familiares dos atletas puderam entrar - hoje, serão apenas 15 minutos abertos para a imprensa. Só que esse problema se tornou mínimo diante do que viria.
A seleção começou a se apresentar na Granja no dia 22 de maio. Os treinos começaram com pouquíssimos jogadores à disposição da comissão técnica, que precisou convocar dez garotos para servirem de sparrings e completarem as atividades. Amanhã, o Brasil já faz o primeiro amistoso preparatório para a Copa América, e o elenco segue incompleto - faltam chegar Alisson, Cássio, Fagner e Roberto Firmino.
Tudo isso já era esperado, estava dentro da programação brasileira. Houve ainda uma boa notícia com a apresentação antecipada de Neymar. O problema é que o astro do Paris Saint-Germain passou a protagonizar uma série de capítulos turbulentos. A começar por uma lesão leve no joelho esquerdo, que o tirou de dois treinos inteiros da seleção. No mesmo dia em que voltou a trabalhar em campo, soube que uma mulher com quem se relacionou na França havia registrado um boletim de ocorrência o acusando de estupro.
De sábado até aqui, o noticiário da seleção foi pautado exclusivamente sobre a denúncia. O jogador gravou vídeo para se defender, usou imagens e conversas íntimas com a mulher no WhatsApp e acabou alvo de outra investigação, justamente por ter exposto conteúdos privados na internet. Era uma tentativa de virar a narrativa a seu favor e assumida sem pudor pelo pai do atacante: "Prefiro um crime de internet a um de estupro".
Hoje, a seleção chega a Brasília para finalizar a preparação do primeiro amistoso pré-Copa América. O Qatar será o adversário no estádio Mané Garrincha. O jogo será um termômetro de como o público do país vai lidar com um astro que é alvo de duas investigações. Em São Paulo, a Polícia Civil analisa a denúncia de estupro. No Rio de Janeiro, o foco está no vazamento das imagens íntimas da mulher que o acusou de violência sexual.
Tite já percebeu que o assunto não vai se dissipar tão fácil. A entrevista coletiva de ontem na Granja Comary foi a prova. O técnico tentou falar de futebol, lutar para que o ambiente não fervesse mais, mas falhou. Enquanto o treinador falava, a Polícia Civil visitou a Granja para saber quando poderia colher um depoimento de Neymar sobre o vazamento das fotos. A CBF fez uma consulta para que o jogador só depusesse após a Copa América, mas só conseguiu adiar a apresentação às autoridades para a próxima semana.
O assunto dominou também as conversas de dirigentes da CBF durante congresso da Fifa na França. A entidade observa o caso de perto e analisa se um afastamento parcial ou definitivo pode ser saudável para o ambiente da seleção. Patrocinadores de Neymar, como a Nike, também acompanham a situação de perto. E Tite, que já entraria na Copa América pressionado, vê um cenário ainda mais complicado se apresentar.
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