Infantino deve ratificar reeleição na Fifa prometendo R$ 6,5 bi a cartolas
Quando Gianni Infantino subir ao pódio na quarta-feira em Paris para apresentar o resultado de seus três anos de presidência e pedir voto para sua reeleição, ele apresentará aos mais de 200 membros-eleitores um enorme trunfo que sempre pesou nas decisões do futebol: dinheiro. Muito dinheiro.
Segundo o balanço financeiro da entidade que será detalhado durante a reunião, as reservas da Fifa chegaram a US$ 2,7 bilhões, 80% superior ao que existia ao final da Copa de 2014, no Brasil.
As receitas superaram a marca de US$ 6,4 bilhões (R$ 24 bilhões) e, para os próximos quatro anos, Infantino agradará aos cartolas que comandam as federações nacionais e prometerá distribuir US$ 1,7 bilhão (R$ 6,5 bilhões) a essas entidades, algo jamais visto no esporte.
A história em Paris é da transformação financeira de uma entidade à beira do colapso. A crise de corrupção que assolou a entidade em 2015 levou a uma fuga de patrocinadores, enquanto seus dirigentes eram presos.
Não foram poucos os que chegaram a sugerir a criação de uma nova organização. Infantino, porém, dirá aos eleitores que, graças a sua gestão, a crise foi superada e que precisa de mais quatro anos para consolidar sua visão do futuro do futebol e sua transformação. Sem concorrente, ele deve ser aclamado para um segundo mandato.
Mas, nos bastidores, é acusado por seus detratores de acumular um poder inédito em suas mãos e de ter violado um princípio que ele mesmo aprovou: o de transferir competências para sua secretária-geral.
"Presidente por acaso" depois do afastamento de Michel Platini às vésperas das eleições de 2016, ele ainda é questionado por ter demitido investigadores independentes da Fifa, escolhido seus próprios membros de órgãos de controle e limitado a atuação de auditorias.
Pelo menos três deles deixaram a entidade, sob a queixa de terem sofrido pressões para não julgar ou punir aliados de Infantino.
Ele ainda foi acusado de agir com pouca transparência ao propor vender a Copa do Mundo a um fundo obscuro, liderado pelo dinheiro saudita. Se não bastasse, tentou ampliar a Copa de 2022 para 48 seleções, na busca por mais lucros. Se não bastasse, o suíço é visto com suspeitas por conta de suas relações com regimes pouco democráticos, como o da Arábia Saudita, Rússia, Qatar e outros.
Lucros
Mas o suíço chega a Paris com o discurso de que foi sua gestão que salvou a Fifa da falência e que jamais as federações nacionais receberam tanto dinheiro como agora.
Só com a ajuda da Copa da Rússia, em 2018, e patrocinadores chineses, a receita chegou a US$ 6,4 bilhões, muito acima da previsão original de US$ 5 bilhões.
"O ciclo 2015-2018 será lembrado como um dos mais turbulentos da história da Fifa", constata a entidade em seus documentos entregues aos dirigentes. "Ao final de 2015, a Fifa estava enfrentando a maior crise de sua existência e as atividades de vendas tinham virtualmente sido congeladas", apontou.
Além disso, a entidade gastou US$ 91 milhões apenas para se defender nos tribunais. Mas o fim da Era Blatter e a mudança dos dirigentes também transformaram as contas. Desde o afastamento dos dirigentes corruptos, as receitas aumentaram em 16%.
China
Infantino sozinho não salvou a entidade. A realidade é que o eixo do poder e do dinheiro se mudou para a Ásia, principalmente diante dos temores de empresas americanas em se envolver com a Fifa.
Dos US$ 3,1 bilhões obtidos com a venda de transmissões, pela primeira vez o mercado asiático foi quem liderou. A Europa rendeu US$ 920 milhões em direitos de transmissão para a Fifa. Já a Ásia representou receitas de US$ 974 milhões. A China, em especial, liderou o consumo de jogos por canais digitais.
De acordo com os documentos da Fifa, outra prova do peso cada vez maior da China nas contas da entidade é o volume de contratos de patrocinadores. No total, a entidade somou US$ 1,6 bilhão. "Sete dessas empresas eram da China e, portanto, empresários chineses tiveram uma presença sem precedentes na Copa de 2018", apontou.
Resultado final: um balanço positivo nas contas de US$ 1,2 bilhão, doze vezes superior ao que havia sido previsto em 2015.
Distribuição
Mas uma das receitas de Infantino para ganhar a confiança dos demais cartolas não foi apenas a de acumular dinheiro e sanar a situação na Fifa.
Nos últimos três anos, ele redirecionou US$ 1 bilhão para ajudar federações de todo o mundo a desenvolver o esporte, quatro vezes mais o que Blatter distribuía. Além disso, gastou US$ 2,5 bilhões na organização de 32 torneios.
Com cerca de cem das 209 federações com uma receita de menos de US$ 2 milhões por ano, o novo dinheiro da Fifa transformou algumas dessas entidades nacionais.
"Os números falam por si só", disse Alejandro Dominguez, vice-presidente da Fifa e chefe de Finanças. "Temos hoje ingressos inéditos de dinheiro na história do futebol mundial. Muito acima do que se previa e isso mostra que existe confiança (em Infantino)", disse.
Para ele, a eleição do suíço é, acima de tudo, um "voto de confiança".
Além de confiança, o que os dirigentes que percorriam Paris em carros de luxo nos últimos dias viam eram números expressivos. Nos próximos quatro anos, esses cartolas receberam um total de US$ 1,7 bilhão em ajuda da Fifa.
Entre 2019 e 2022, cada um deles ganhará pelo menos US$ 6 milhões, enquanto as confederações regionais ficarão com US$ 48 milhões.
Em Zurique, o caixa está aberto e basta apresentar planos para arrecadar o subsídio. Até agora, 2 mil projetos foram apresentados por parte das federações nacionais para ter acesso ao dinheiro. 1,7 mil deles foram aprovados.
Nesta quarta-feira, é a hora de pagar de volta, na forma de voto.
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