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"Barra bravas" preocupam até Sergio Moro, mas estrela perderá a C. América

Gabriel Rossi/Getty Images
Imagem: Gabriel Rossi/Getty Images

José Edgar de Matos

Do UOL, em São Paulo (SP)

14/06/2019 12h00

Pablo "Bebote" Álvarez, considerado um dos barra-bravas mais temidos da Argentina, virou uma preocupação a menos para o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e as autoridades brasileiras, visando o plano de contenção de torcedores violentos para a Copa América. O 'hincha' segue preso na penitenciária de segurança máxima Melchior Romero, localizada na cidade de La Plata, a 60 km de Buenos Aires, na Argentina, e sem chances de conseguir qualquer tipo de liberdade para vir ao Brasil.

A informação foi confirmada ao UOL Esporte por pessoas próximas ao torcedor profissional. Um dos barras mais temidos da história recente da Argentina, Bebote foi preso preventivamente em 2017 ao ser acusado de dois crimes: extorsão contra Ariel Holan, ex-técnico do Independiente, e por associação ilícita em outro caso, que envolve Noray Nackis, ex-vice-presidente do clube de Avellaneda.

Na prisão, o antigo líder da Hinchadas Unidas Argentinas, grupo extinto que seguia a seleção nos compromissos oficiais, enfrentou problemas de relacionamento com outros presos e passou um tempo isolado. Atualmente, se relaciona com os demais reclusos e vive uma rotina comum na comparação com os outros detentos, segundo pessoas que acompanham os processos contra Bebote.

A ausência do polêmico torcedor, entretanto, não diminui o plano traçado pelas autoridades para conter a entrada de torcedores violentos no Brasil. Mesmo com a dissolução das Hinchadas Unidas Argentinas, os barras seguem sob vigilância constante do Ministério da Justiça e órgãos públicos de segurança, especialmente em grandes competições, e são prioridade para Brasil, Argentina, Conmebol e comitê de organização do torneio.

Boca e a La Doce se aproximam

Rafa Di Zeo Mauro Martín - Amilcar Orfali/Getty Images - Amilcar Orfali/Getty Images
Rafa Di Zeo e Mauro Martín (centro) estão na lista dos barras vetados na Argentina
Imagem: Amilcar Orfali/Getty Images

Desde o fim da organização que tinha Bebote como líder, a La Doce, organizada mais famosa do Boca Juniors, assumiu a condição de apoio extraoficial à seleção. Esta aproximação ocorre como consequência do crescimento do elo entre a AFA (Associação do Futebol Argentino), o Boca e a presidência do país, atualmente sob poder de Mauricio Macri, ex-mandatário do time.

O Boca e a La Doce se tornaram um escudo para a seleção no pior momento nas eliminatórias. A AFA usou La Bombonera em duas oportunidades marcantes do período pré-Copa do Mundo: empate por 0 a 0 com o Peru, pela penúltima rodada do qualificatório, e na goleada por 4 a 0 sobre o Haiti, na despedida do time antes do embarque para a Rússia.

O Brasil, entretanto, deve sediar uma mudança no comportamento dos barra bravas. Desde a prisão de Bebote e o veto a Rafa Di Zeo e Mauro Martín, líderes da La Doce (maior torcida do Boca Juniors) e proibidos de ingressar em estádios sul-americanos, nenhuma pessoa assumiu a liderança da "hinchada" da seleção.

Outro fator que joga contra a maciça presença de barras no Brasil é econômico. Um dólar está mais de 40 pesos, caro para a população argentina. Até o momento, a previsão de jornalistas argentinos chega a um número mínimo de 5 mil para a competição no Brasil.

Acordo Moro e Argentina

Sergio Moro - Ueslei Marcelino/Reuters - Ueslei Marcelino/Reuters
Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

A ausência de Bebote tranquiliza as autoridades. Brasil e Argentina assinaram no último dia 31 um sistema de intercâmbio de listas de torcedores violentos dos dois países. Neste acordo, que se estende a outros países, se encontra os nomes de Di Zeo e Mauro Martín.

O acordo acabou formalizado depois de reunião em Buenos Aires entre o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e da ministra de Segurança, Patrícia Bullrich, e serve como medida para até impedir a entrada de barra-bravas no território brasileiro.

São 5 mil nomes de argentinos nas mãos das autoridades dos dois países e da Conmebol. A entidade máxima do futebol sul-americana é a grande responsável pela organização da Copa América e assumiu esta questão como uma das prioridades.

Esta questão de segurança se tornou um dos focos da entidade sul-americana dentro do solo argentino.

A Conmebol repassou recentemente R$ 6 milhões para Boca Juniors e River Plate com o simples objetivo de aumentar a segurança nos estádios e nos arredores, ainda sob o holofote da confusão próximo ao Monumental de Nuñez que levou a final da Libertadores de 2018 para Madri.

"Bebote" enganou polícia argentina e brasileira em 2014

Bebote Copa América - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

A relação de Pablo Álvarez com a seleção argentina vem de alguns anos. Ele era um dos chefes da Hinchadas Unidas Argentinas, organização que reunia barras bravas de diversos clubes para apoiar a equipe nacional. Inserido em uma lista de veto da polícia argentina repassada às autoridades brasileiras, Bebote enganou os dois países e conseguiu acompanhar in loco a Copa de 2014.

O barra brava ainda usou as redes sociais para expor a "façanha". Contra a Nigéria, usou uma peruca celeste e viu Lionel Messi comandar a vitória por 3 a 2 no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre. Já nas oitavas de final contra a Suíça, na Arena Corinthians, Bebote foi além: pintou a cara de suíço e postou uma foto seguida de mensagem no Facebook para zombar das autoridades.

"Agradeço aos que me confiaram os ingressos para o jogo de hoje. Conseguimos essas entradas para celebrar: Bebote 2 x 0 Polícia Federal Argentina", escreveu Bebote, em alusão às duas vezes em que superou a fiscalização para prestigiar no estádio a seleção argentina.

A Polícia brasileira deteve Bebote apenas horas antes do duelo entre Argentina x Bélgica, ocorrido em Brasília e válido pelas quartas de final do Mundial. O torcedor acabou flagrado com uma camiseta do Flamengo, a mesma com a qual retornou ao país de origem horas mais tarde.

Sem Bebote, Di Zeo ou qualquer figura mais midiática entre os barras, a Argentina chegou ao Brasil na noite do último domingo e está hospedada em Salvador, onde estreia no sábado (15), às 19h (de Brasília), contra a Colômbia.