Cidade que recebe seleção feminina tem mais clima de México do que de Copa
Lille tem sido a casa da seleção feminina antes do jogo decisivo contra a Itália. Mas a cidade que recebe os treinos do Brasil nesta semana tem quase zero "clima de Copa do Mundo". O que se vê pelas ruas, na verdade, é uma extensa declaração de amor ao México, que não disputa o torneio neste ano.
A cidade não é sede da Copa feminina, e o jogo entre brasileiras e italianas ocorrerá em Valenciennes no dia 18 de junho. Mesmo assim, outras regiões do país ao menos estampam cartazes de propaganda da seleção da casa. Se ignorarmos o fato de que todos falam francês, a decoração nos faz pensar que estamos em solo mexicano.
Os moradores de Lille só mergulharam para valer no clima da Copa em 7 de junho, quando as francesas estrearam em Paris. De lá para cá, as demonstrações de empolgação passaram a ser mais restritas aos turistas estrangeiros, já que a estação principal da cidade tem trens para Valenciennes todos os dias.
"Clima de Copa igual ao Brasil realmente não tem, mas tem movimentações diferentes na cidade", disse Gescilam Mota, brasileiro, admirador de futebol (feminino e masculino) e estudante em duplo diploma entre a École Centrale de Lille e a Universidade Federal do Ceará.
Ao desembarcar na estação Lille Flandres, o UOL Esporte já encontrou enormes esculturas de "alebrijes" espalhadas pela Place des Buisses e ao longo da avenida. De cachorros a cobras, os coloridos animais são parte de uma lenda mexicana para espantar energias ruins.
O evento "Eldorado" teve início em 27 de abril e irá até dezembro de 2019, com exposições em museus, arte de rua e desfiles. "É um movimento que enaltece as qualidades da região de Lille, um projeto que encoraja iniciativas individuais e coletivas", explica a organização.
A prefeitura vai além: "Eldorado é um país fabuloso, cheio de ouro, com o qual os espanhóis tanto sonhavam. Em um mundo cheio de dúvidas, isso nos convida a olhar para o futuro: qual é o nosso Eldorado contemporâneo? Para qual mundo queremos ir?".
Estes eventos dividem a atenção local. Com exceção de pequenos grupos de brasileiros fieis que foram ao local dos treinos e puderam acompanhar 20 minutos de um deles, Lille dá menos calor humano à seleção do que Grenoble e Montpellier, que receberam o Brasil nas primeiras rodadas e fizeram festa. Naturalmente, o fato de que o time vem de um tropeço contribui com a blindagem.
De certa forma, estar em uma cidade mais desconectada da Copa do Mundo feminina pode ser bom para a equipe brasileira, que tem sido questionada após a derrota por 3 a 2 para a Austrália. Porém, por mais que sejam minoria em Lille em comparação com as outras cidades, alguns fãs seguem a seleção.
Gescilam, que é nordestino, se encanta com Marta. "O Nordeste não tem hoje jogadores na linha de frente da seleção masculina, embora no passado tivesse. Então é legal ver a Marta de Alagoas não negando as origens. Acho que deve incentivar várias meninas nordestinas", exaltou.
Enquanto isso, Valenciennes foi o palco das imagens mais impressionantes de uma torcida estrangeira neste Mundial até agora. Anteontem (15), antes da vitória da Holanda sobre Camarões, um mar laranja invadiu as ruas da cidade para empurrar o time. A cena rodou o mundo.
A Fifa e a federação holandesa estimam que mais de 10 mil torcedores tenham desfilado pelas ruas. A seleção das "leoas" dos Países Baixos conta com o fato de que Lille fica muito perto da Holanda - saindo de Amsterdã e cruzando a Bélgica, basta uma viagem de 3 horas de trem ou carro.
"Após o jogo, eu estive no centro da cidade e tinha muitos holandeses festejando a partida contra Camarões. Uma massa laranja nos bares, cantando e dançando pela vitória das holandesas", contou Natália Figueira, estudante em duplo diploma de engenharia industrial e informática entre Valenciennes e a Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Lá, sim, há clima de Copa. "Ainda que a cidade seja pequena, isso e visível nos comércios, nos meios de transporte e até nos cidadãos. É notável essa implicação tanto em termos de estrutura, quanto da mentalidade dos habitantes", completou ela, que joga futebol nas horas vagas e está radiante com o que vê.
Talvez seja possível imitar os holandeses. "Muitos brasileiros que moram em Lille e em Paris pretendem vir prestigiar a seleção. E uma torcida brasileira apaixonada por futebol pode fazer uma festa tão bonita quanto a dos holandeses", prevê Natália.
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