Após Fifa endurecer contra racismo, Copa América alivia gritos homofóbicos
A Fifa avisou a todos os seus filiados que vai ser mais rigorosa nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022 com racismo e homofobia durante as partidas. O árbitro seguirá as orientações que já apareceram para o Mundial da Rússia, em 2018, e poderá até cancelar o jogo em situações mais graves.
Na Copa América, entretanto, atos como esses só devem ser avaliados em casos extremos. A previsão é de que o ocorrido na abertura da competição entre Brasil x Bolívia, na sexta-feira (14), passe longe do Tribunal de Disciplina da Conmebol. Parte da torcida brasileira, principalmente no início da partida do Morumbi, gritava "bicha" quando o goleiro rival batia o tiro de meta.
O grito, importado de outros países latino-americanos e que virou moda em alguns estádios brasileiros nos últimos anos, já rendeu multas à seleção brasileira nas eliminatórias passadas. Foram cinco punições, que desfalcaram o cofre da CBF em mais de R$ 480 mil. Mas o classificatório é organizado pela Fifa, não pela Conmebol, que normalmente é mais condescendente com esses casos. Em 2016, no ápice de multas às seleções sul-americanas, chegou a pedir para que as punições fossem diminuídas porque alguns gritos considerados homofóbicos eram culturais no futebol da região.
Mariano Zavala, diretor da unidade disciplinar da Conmebol, disse ao UOL Esporte que não poderia comentar sobre casos que poderiam ser avaliados pelo Tribunal de Disciplina. A reportagem apurou, entretanto, que no momento atitudes como a da abertura não estarão no radar e só entrarão em pauta em casos gravíssimos.
O procedimento disciplinar da Conmebol na Copa América é o mesmo feito nas competições de clubes, como Libertadores e Sul-Americana: o árbitro relata na súmula o problema, a Unidade Disciplinar da Conmebol avalia e repassa para o Tribunal de Disciplina decidir se pune ou não.
O tribunal é formado por cinco membros, que estão nesta Copa América concentrados no Rio. Um deles é o brasileiro Antonio Carlos Meccia, que não pode atuar apenas em processos relacionados ao Brasil -- numa eventual análise dos gritos de "bicha" na estreia, por exemplo, ele estaria fora. Os demais membros são o paraguaio Eduardo Gross Brown, a venezuelana Amarilis Belisario, o chileno Cristóbal Valdéz e o argentino Diego Pirota.
O regulamento de disciplina da Conmebol prevê, em seu artigo 8, que as associações membro são responsáveis pelo comportamento de jogadores, treinadores e torcedores. Já o 13 diz que sanções podem ser dadas às associações em caso de comportamento inapropriado dos torcedores, em diversas situações, uma delas "o uso de gestos, palavras, ou outro meio para transmitir qualquer mensagem não apropriada em evento esportivo, particularmente de natureza politica, ofensiva ou provocativa". As palavras racismo e homofobia não existem nas regras da Conmebol, mas casos como a da abertura entrariam nesse artigo, segundo advogados ouvidos pela reportagem.
Enquanto isso, a Fifa promete punições mais rigorosas em casos mais graves e reincidências nas eliminatórias, que começa na América do Sul em março de 2020. Os árbitros estão liberados a interromper, suspender (com atletas nos vestiários) ou cancelar definitivamente a partidas em casos de ofensas graves por parte dos torcedores. Avisos nos telões e alto-falantes dos estádios pedirão para que os xingamentos parem e se isso não ocorrer o árbitro tem o poder de interromper o confronto. A punição, nesse caso, vai da perda dos pontos da partida até a eliminação da competição.
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