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Chama o Olodum: conheça "indústria da emoção" que empolga Galvão em jogos

Público comparece às apresentações do Olodum de forma organizada desde a Copa do Mundo de 2002 - Divulgação
Público comparece às apresentações do Olodum de forma organizada desde a Copa do Mundo de 2002 Imagem: Divulgação

Gabriel Carneiro

Do UOL, em Salvador

18/06/2019 04h00

"Alô, Bahia! Alô, Salvador! Chama o Olodum que eu quero ver!"

É uma tradição em transmissões de jogos da seleção brasileira na TV Globo: desde 2002, o narrador Galvão Bueno vibra em frente às câmeras para chamar no ar, ao vivo, flashes de apresentações do bloco Olodum no Pelourinho, centro histórico de Salvador. A participação não foge à regra, com batuques, dança, cores, multidão, tambores, energia e sorrisos em alguns segundos antes, no intervalo e depois dos jogos do Brasil.

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"É sempre uma honra, mas muita gente que vê na TV pensa que nós nos preparamos o ano inteiro para aparecer um minuto com Galvão na Globo. Não é assim", brinca João Jorge, presidente do Olodum: "Nós somos uma indústria de emoção. Nós criamos o samba reggae no Brasil, temos parceria com artistas internacionais e valorizamos a relação da luta contra o racismo com os símbolos e cores do Olodum. Essa soma, junto com nossa paixão por futebol e pelo Pelourinho, não tem igual no Brasil."

O UOL Esporte visitou a Casa do Olodum, no Pelourinho, para conhecer a tal "indústria de emoção". As máquinas andam agitadas nas últimas semanas, porque a seleção brasileira joga hoje em Salvador, a poucos quilômetros da batucada. Às 21h30, o time do técnico Tite enfrenta a Venezuela pela segunda rodada da fase de grupos da Copa América. Alô, Bahia! Chama o Olodum!

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Há exibição de flashes da apresentação antes, durante e depois dos jogos da seleção brasileira
Imagem: UOL

Mais de 500 pessoas envolvidas

O Olodum vai bem além de um bloco carnavalesco que agita as transmissões de futebol da Globo. Além da Casa Olodum, que é um espaço para eventos, reuniões, exposições e também uma grande loja de itens licenciados, há a Escola Olodum, que oferece cursos de percussão, dança, canto, coral e até temas mais abrangentes, como empreendedorismo cultural e informática. Ainda há o bloco carnavalesco, a realização de ensaios e produção musical. "Faraó Divindade do Egito", do marcante refrão "eu falei faraó, êêêê faraó", é coisa deles.

Hoje, a operação do Olodum envolve entre 500 e 600 pessoas, sendo "apenas" 120 que tocam na banda e mais quatro cantores. Em eventos específicos há contratações pontuais, o que João Jorge define como uma "empregabilidade bacana". Não são todos os músicos que participam das entradas ao vivo com Galvão Bueno. Não há um número exato, depende do espaço e do público, mas a média é de 25 percussionistas. Também não há preparação exclusiva para esse tipo de participação. Os ensaios semanais criam o repertório e a lógica das apresentações.

Apoio ao futebol desde 1988

O Olodum começou a se meter com futebol durante a campanha do bicampeonato nacional do Bahia, em 1988. "Em alguns momentos os músicos iam por livre e espontânea vontade nos jogos da Fonte Nova que antecederam o título. Aquilo marcou muito, porque era a presença de uma banda no estádio e com discurso político proativo, de direitos humanos e cultura negra. Participamos ativamente dos jogos até o titulo", conta o presidente do grupo fundado em 1979.

Olodum 2 - Divulgação - Divulgação
Cerca de 25 músicos num universo de 120 participam das entradas ao vivo na TV
Imagem: Divulgação

Em 1990, a diretoria do bloco decidiu colocar uma TV na sede para assistir aos jogos da Copa do Mundo, mas os jogos da seleção de Camarões empolgaram mais que os do Brasil - os africanos chegaram até as quartas de final, enquanto o Brasil caiu nas oitavas. Nas Copas de 1994 e 1998 o procedimento se repetiu. Até que chegou 2002 e uma repórter chamada Wanda Chase propôs um desafio.

"Ela nos chamou para ir à rua de madrugada torcer pelo Brasil. Algo completamente inusitado. Os artistas todos disseram não. Mas depois pensando, pegamos 13 músicos e alguns gatos pingados torcendo e deu certo. Deu um tom de sorte para Galvão Bueno. Aí no último jogo já foi um superpalco, quase cem músicos, gente de todos os bairros. Foi festa, fomos a Brasília receber jogadores e Galvão cravou que éramos a torcida pé quente do Brasil."

Torcida pela... Argentina?

O Olodum tem feito apresentações frequentes na Argentina e estreitado laços com grupos de percussão do país. A fama da "Torcida Olodum" despertou nos músicos hermanos a ideia de desenvolver um projeto semelhante para apoiar a seleção local. O grupo baiano, então, ajudaria no processo de implantação da iniciativa. Ou será que não?

"Querem que o Olodum faça uma torcida para a Argentina. Nós temos um grande público lá, é doideira, estão insistindo em fazer alguma coisa. Mas estamos no Brasil. Torcemos para o Brasil e para os times negros do Caribe, Argentina é outra realidade. Nós nos sentiríamos extremamente acanhados se tivermos que fazer isso. Não é todo mundo do Olodum que torce para o Brasil, tem quem torça para a Argentina. Mas todos sabemos que é uma seleção que pode encontrar com Brasil e historicamente é adversária", conta, em dúvida, João Jorge.

Vai deixar barato, Galvão?