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Chile e Uruguai testam eficiência do 'futebol-palestra' de seus professores

Reinaldo Rueda, técnico da seleção do Chile - Jeff Crawn
Reinaldo Rueda, técnico da seleção do Chile Imagem: Jeff Crawn

Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio de Janeiro

24/06/2019 04h00

Em entrevistas coletivas na Copa América, o técnico do Chile, Reinaldo Rueda, tem o hábito de agradecer às perguntas dos jornalistas, como se dessem a ele a oportunidade de expressar seus pensamentos. Suas respostas muitas vezes enveredam por temas bem além do próximo jogo para se transformarem em espécie de aulas sobre a formação de jogadores, ou sobre a cultura do futebol.

É batido no quesito palestra pelo técnico do Uruguai, Oscar Tabárez, que pode se estender até por cinco minutos após uma pergunta sobre a divisão de base de seu país. Suas falas são impregnadas de reminiscências de fatos do futebol que ele conecta com a realidade atual para criar um quadro histórico. Não raro surge ali no meio uma reflexão sobre a vida.

No jogo do Maracanã desta noite, Chile e Uruguai testam em campo a transformação em prática das teorias desenvolvidas por seus dois técnicos-palestrantes. Por trás do jogo físico de Vidal (que é dúvida) ou dos gols de Cavani e Suárez estão os longos anos de estrada dos dois treinadores dos dois times, que, não por acaso, têm uma admiração mútua.

"Há muitos meses tenho ratificado esse momento que vive o Uruguai pelo trabalho que fez o professor Tabaréz. Consolida um processo de mística do que representa o futebol uruguaio. Um país competitivo que tem esse nível de seleção sem ter uma superpopulação, como Brasil, Colômbia, Argentina", exalta Rueda.

Óscar Tabárez comanda a seleção do Uruguai na primeira rodada da Copa América, contra o Equador - Thomás Santos/AGIF - Thomás Santos/AGIF
Imagem: Thomás Santos/AGIF

"Reinaldo, quando falo publicamente de um técnico, é para elogia-lo ou não faço. Às vezes, nos falamos em sorteios ou seminários sobre logística, e o jeito que falo com Rueda é de respeito. Suas equipes são bem preparadas, crê em equilíbrio, como eu", devolve Tabárez.

Pelo estilo prolixo, e de raramente responder diretamente às perguntas, nunca se arrancará dos dois uma análise mais simples sobre o que deve ocorrer na partida do Maracanã. Nem mesmo as escalações. Portanto, não se sabe se Arrascaeta estará entre os titulares pelo Uruguai - há boa possibilidade - e se Torrera poderá jogar (indisposto), nem se Vidal e Alexis Sanchez (com problemas físicos) atuarão pelo Chile.

Muito menos vai se ouvir qualquer um dos dois técnicos falar em favoritismo. "Essa Champions vimos algo que ninguém esperava. A surpresa que vem na decisão", contou Tabárez.

Sem saber, repetia uma comparação feita pelo próprio Rueda ao falar sobre a possibilidade de jogadores não exaltados surpreenderem. O técnico do Chile lembrava que o Liverpool ganhara a Liga dos Campeões sem seus principais jogadores, Salah e Firmino, e que outros se tornaram protagonistas na decisão.

De pragmático, e objetivo, Rueda e Tabárez reconhecem o óbvio que é a força da dupla de ataque uruguaia composta por Cavani e Suárez. O técnico do Chile pretende marca-los por zona, e se preocupa com sua capacidade de interação: "Se complementam muito bem. Têm um faro de gol, e têm grande sacrifício. E veja a quantidade de gols que fizeram em nível internacional, no PSG, no Barcelona."

Já Tabárez exaltou o fato de poder desfrutar de seus dois centroavantes juntos, o que nem sempre foi possível na história do Uruguai. "Iniciaram como juvenis com 17 anos. São muito importantes. Em muitos períodos não tivemos eles juntos. São jogadores com uma capacidade goleadora muito importante", completou.

O técnico uruguaio parece ter muito mais prazer em falar de jogadores do passado como o chileno Figueroa, expoente do futebol do rival, de quem descreve até a forma que marcava o rival. Suas lembranças vão também até 1989 quando o Uruguai disputou outra Copa América, no Maracanã, e ele lembrava dos torcedores próximos da geral, destruída em reformas do estádio. "Não dava para o jogador ouvir a três metros de distâncias tal o barulho que faziam", contou.

Já Rueda, que tem um envolvimento mais próximo com o Maracanã em 2017 como técnico do Flamengo, chama o estádio de "místico". Ambos reconhecem que podem haver problemas no gramado, o que é lamentado por Tabárez que entende ser um efeito do desgastante Campeonato Brasileiro.

O Maracanã, de uma certa forma, dá outra dimensão a essa partida que decide a liderança do grupo, mas não a classificação. Ambos poderiam poupar jogadores pensando nas quartas de final. Mas Tabárez entende que é preciso jogar para ganhar sempre. E Rueda que é preciso correr riscos, ainda que seja o primeiro colocado do grupo com um empate. Assim se aplica ao campo a filosofia de desfrutar do jogo de ambos os treinadores.