Refugiados da Venezuela vão ao Maracanã em dia de reencontro com as origens
Em meio ao vai e vem de pessoas que chegam ao Maracanã para acompanhar o jogo entre Venezuela e Argentina, um grupo de pessoas, todas integrantes de um curso de português promovido pela organização Cáritas, tem uma tarde de reencontros com suas origens desde um novo ponto de partida.
Por iniciativa da organização da Copa América, estes 36 refugiados venezuelanos foram convidados para irem ao estádio, em uma rara oportunidade de reforçar os laços com uma vida que ficou para trás. As histórias são diferentes, mas todas têm em comum o traço do recomeço após a decisão de cruzar a fronteira e se reinventar.
Ao lado da pequena Fernanda, que tinha a bandeira da Venezuela pintada no rosto, Maria Gabriela Moreno falou sobre o sufoco de reiniciar do zero uma trajetória em um país estranho. Para fugir da crise de seu país, vendeu casa, sua livraria e encarou três dias de ônibus até o Brasil. De Roraima, pegou um avião até o Rio de Janeiro e viveu mais de um ano em favelas cariocas até conseguir se estabelecer no bairro da Tijuca. Atualmente, vende comida de seu país em uma feira de refugiados. O marido, por sua vez, abandonou a carreira como administrador de empresa e hoje trabalha em um restaurante.
"Chegou em um ponto que não tinha mais como pagar escola das crianças e passagens de ônibus. O dinheiro era para comer. Fiquei grávida por falta de anticoncepcional no meu país. A gente veio para o Brasil para uma reinvenção. Hoje é um dia raro de alegria, de júbilo. É como se sentir em casa, é uma emoção sem comparação", disse ela.
Maria Gabriela não é uma exceção no grupo. Assim como ela, Jessie Orozco vendeu seu negócio, uma casa de laticínios, para levantar fundos para a fuga. Sua travessia, no entanto, foi mais dramática e inclui uma viagem de 11 dias de ônibus de Roraima até o Rio. No Norte do país, experimentou a solidariedade de muitos locais quando vendia tapetes de porta em porta, mas também provou uma boa dose de intolerância.
"Ouvi coisas do tipo "o Brasil é dos brasileiros", mas era uma minoria. O desespero fez com que alguns venezuelanos tivessem que roubar para sobreviver, isso fez com que alguns não nos tratassem bem. É uma experiência muito forte", contou.
A crise política no país vizinho foi decisiva para que Luis Manuel abandonasse sua pátria. Opositor do regime de Nicolás Maduro, foi demitido de seu emprego no banco estatal venezuelano. Hoje estabelecido em Honório Gurgel, zona norte do Rio, ele conseguiu trabalho em uma empresa que cuida de algumas atrações turísticas da cidade.
Luis não vê possibilidades de um retorno e enxerga o futuro de sua família em solo brasileiro. Ele festeja a liberdade que reconquistou em sua nova casa, mas deixa escapar uma certa mágoa com o regime que controla o país.
"Eu não sou traidor da pátria, sou venezuelano. Aquilo parece uma máfia", disparou.
Entusiasmados, todos subiram a rampa do Maracanã para ver sua seleção em campo. Para eles, a sensação é que o jogo já tinha sido ganho antes mesmo de a bola rolar.
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