Quem é o "pai" do pisco? Chile e Peru travam briga histórica por bebida
Quando Chile e Peru entrarem em campo às 21h30 de hoje, em Porto Alegre, uma disputa de décadas voltará à tona com mais força. Rivais na luta por uma vaga na final da Copa América, os países brigam há 90 anos pela "paternidade" do pisco, bebida alcoólica extremamente popular na região.
Desde o começo do século passado, chilenos e peruanos reivindicam a origem do pisco e ainda tentam proibir o uso da expressão por parte do vizinho, que teria de denominar a bebida como uma aguardente. O assunto parece banal, mas transcendeu as mesas de bares e já virou até tema da alta cúpula dos respectivos governos.
No começo deste ano, por exemplo, o ministro da agricultura chileno tentou colocar um ponto final na questão ao propor ao governo peruano que a origem seja dividida entre os dois países. Assim, ambos teriam direito a vender o produto ao mercado internacional com tal denominação, sem qualquer litígio. A resposta veio rápido: o Peru disse não e tratou o pisco chileno como uma aguardente.
As duas partes defendem suas teses
Para entender melhor a situação e trazê-la para o cotidiano brasileiro, a reportagem do UOL Esporte visitou dois restaurantes da cidade de São Paulo: o El Guatón e o Rinconcito Peruano, ambos no bairro de Pinheiros, na zona oeste da capital paulista. Como já era esperado, ambos não deram a braço a torcer, mas deram seus argumentos pela "paternidade" do pisco.
Carlos Felipe Riquelme, chileno e dono do El Guatón e há 42 anos radicado no Brasil, acredita que os primeiros indícios das sementes de uvas foram encontrados em território chileno e levados até o Peru pelos Incas. "A maior parte está no Chile, a fruta é de lá", disse.
Apesar de o nome ser originário de um porto peruano ao sul do país - onde hoje é localizado cidade e província homônimos -, os chilenos acreditam que pisco é genérico. "Passou o tempo e ficou a palavra pisco. O povo simplificou as coisas", explicou Riquelme.
Já os peruanos se agarram à ideia de que o nome só existe por causa da região às margens do Oceano Pacífico. "É o nome do porto. A fruta foi trazida pelos espanhóis até a região. É um tema comercial, eles também querem vender, mas a origem é peruana", disse Jorge Trujillo, barman do Rinconcito Peruano, que chegou ao Brasil há dois anos.
Segundo a sommelier e especialista em bebidas Gabriela Bigarelli, as variedades do pisco se baseiam no processo de destilação do mosto da uva. Ela explica que o Peru se atém no exemplo da bebida Champagne, produzida numa região francesa de mesmo nome.
"O pisco produzido no Chile possui processo de destilação com grau alcoólico diferente em relação ao pisco peruano, assim como as uvas utilizadas também são diferentes. O que importa é o gosto pessoal de cada um", explicou Gabriela.
Para alguns historiadores, porém, a disputa é inócua, pois toda a região era dos espanhóis à época do surgimento do pisco. Outro ponto que aflora a rivalidade é a Guerra do Pacífico, travada entre 1879 e 1883. A batalha incluiu a Bolívia também, como aliada do Peru. Após a vitória chilena, mudou-se a configuração geográfica da região.
O Chile conseguiu estender sua faixa até Arica, ao norte, enquanto os bolivianos ficaram sem a saída para o Oceano Pacífico. Como os peruanos também perderam terra, a rixa se instalou na região e aumentou com a situação do pisco anos mais tarde.
E o gosto? A decisão é sua
Separados por alguns quarteirões, o dono do El Guatón e o barman do Rinconcito Peruano usam o mesmo argumento para acabar com a discussão. Pelo menos em relação ao pisco mais saboroso, deixando à parte a questão da origem e do uso do nome. Segundo eles, basta tomá-lo
"Realmente não levanto bandeiras, porque a história é complicada. Mas basta provar o nosso para ver que é o melhor", disse o chileno.
"Eu provei [o chileno], mas não gostei. Não quero ofender ninguém, mas nosso pisco é superior, o sabor é melhor", rebateu à distância o peruano.
FICHA TÉCNICA
CHILE X PERU
Data: 3 de julho de 2019, quarta-feira
Horário: 21h30 (horário de Brasília)
Competição: Copa América (semifinal)
Local: Arena do Grêmio, em Porto Alegre (RS)
Árbitro: Wilmar Roldán (COL)
Auxiliares: Alexander Guzman e Wilmar Navarro (ambos da COL)
Árbitro de vídeo: Andrés Rojas (COL)
CHILE: Arias; Isla, Medel, Paripán e Beausejour; Pulgar, Vidal e Aránguiz; Fuenzalida, Vargas e Alexis Sánchez. Técnico: Reinaldo Rueda
PERU: Gallese; Advíncula, Zambrano, Abram e Trauco; Renato Tapia, Yotún; Carrillo, Cueva e Flores; Paolo Guerrero. Técnico: Ricardo Gareca
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