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Como Bolsonaro na Copa América incomoda e agrada CBF ao mesmo tempo

 Bolsonaro exibe camisa ao lado de Neymar, do presidente da CBF, Rogério Caboclo, e do general Augusto Heleno, chefe do GSI - Divulgação
Bolsonaro exibe camisa ao lado de Neymar, do presidente da CBF, Rogério Caboclo, e do general Augusto Heleno, chefe do GSI Imagem: Divulgação

Danilo Lavieri, Marcel Rizzo, Pedro Lopes e Rodrigo Mattos

Do UOL, em Teresópolis e no Rio de Janeiro

05/07/2019 04h00

A presença do presidente da República, Jair Bolsonaro, na final da Copa América é considerada certa entre os organizadores da competição e membros da CBF. Será seu quarto jogo ao vivo com a seleção brasileira nos últimos meses. A sua participação no torneio tem dividido a confederação: há incômodo pelas entradas em campo ao mesmo tempo agrada a aproximação com o poder.

Na semifinal diante da Argentina, Bolsonaro avisou no mesmo dia que iria ao jogo. Ao chegar no Mineirão, tinha uma comitiva de 120 pessoas, com mais de dez ministros, que fechou metade da tribuna. Entrou em campo no intervalo com outros políticos para dar uma meia volta olímpica entre aplausos e vaias.

O fato incomodou a AFA (Associação de Futebol Argentina) que, em nota, reclamou que manifestações políticas são vedadas pelos regulamentos da Fifa e da Conmebol. Dois advogados consultados pelo UOL Esporte que pediram anonimato confirmaram que a volta olímpica está em uma zona cinzenta de política que poderia levar à punição de organizadores da Copa América. Mas isso não ocorrerá porque é um tribunal da própria Conmebol que trabalha juntamente com o Comitê Organizador.

Em relação a domingo, há o temor em setores da CBF de que Bolsonaro desça para o gramado para não só entregar a taça como levantá-la como fez no título brasileiro do Palmeiras. Organizadores consideram impossível vetar a presença do presidente no gramado se ele desejar entrar.

E não é considerado positivo associar a imagem da competição ao presidente porque pode desagradar boa parte da população que não gosta dele em um país extremamente polarizado. Na última pesquisa Ibope, do final de junho, Bolsonaro registrou 32% de aprovação (bom ou ótimo), contra 32% de reprovação (ruim ou péssimo). Sua popularidade tem caído durante o mandato.

Ao mesmo tempo, a diretoria da CBF gosta da ideia da aproximação com o presidente da República. Presidentes da confederações costumam buscar conexões com a presidência - como fez Ricardo Teixeira com o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva - porque isso ajuda em discussões legislativas de interesse da confederação ou em casos de investigações da entidade no Congresso.

Na comissão técnica da seleção, não cai bem a ideia de o presidente descer para o gramado para entregar a taça. Em entrevistas, o técnico Tite já afirmou e reafirmou que entende que atividade de políticos não deve ser relacionar com o futebol. "Não, minha atividade não se mistura. Eu não me sinto confortável", disse, em dezembro, sobre eventual encontro com o presidente por título da Copa América.

A pergunta ocorreu depois de o presidente entrar em campo para levantar a taça do Palmeiras campeão brasileiro. Há outras resistências dentro da comissão técnica a presença de Bolsonaro em campo no domingo.

Ao mesmo tempo, o presidente da República costuma ter boa popularidade entre os jogadores. Sua ligação com o Neymar, fora da Copa América por contusão, se estreita a cada dia. Houve vídeo de apoio, visitas do presidente e encontro durante a semifinal.