Faltou paciência com Gareca no Palmeiras, dizem ex-diretores e jogadores
Apontado como responsável por ter levado a seleção peruana à final da Copa América de 2019 após 44 anos, Ricardo Gareca já havia demonstrado o seu valor quando conduziu o país novamente a uma Copa (Rússia-2018) depois de mais de três décadas - a última participação em Mundiais havia sido na Espanha, em 1982. A passagem pelo treinador pelo futebol brasileiro, no entanto, ficou aquém do esperado.
Em conversas exclusivas com o UOL Esporte, personagens que participaram dos cerca de três meses de Gareca no Palmeiras recordam de algumas situações da época e apontam que o técnico não obteve sucesso à frente da equipe na temporada de 2014 devido à falta de paciência da diretoria e da torcida.
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Na época, José Carlos Brunoro, que exercia a função de diretor executivo do clube, recordou que o nome do 'hermano' não era unânime entre a diretoria alviverde para assumir a vaga de Gilson Kleina, que havia sido demitido no início de maio daquele ano.
"A gente se dividiu para escolher dois treinadores. Era o Arce ou o Gareca, então eu fui para o Paraguai falar com o Arce e o Omar Feitosa [gerente de futebol] e o Genaro Marino [vice-presidente de futebol] foram para a Argentina. Como não deu certo com o Arce, que era a preferência, ficamos com o Gareca."
Assim como defendeu o ex-presidente Paulo Nobre, Brunoro reforçou que o treinador argentino não teve tempo hábil para desenvolver o seu trabalho.
"Ele é um treinador que precisa de paciência com o trabalho dele. Ele é um cara bastante metódico, um cara que dá muita importância ao trabalho de grupo. Então, tem que conhecer bem os jogadores. Ele cria um ambiente muito bom. Ele teve esse tempo no Peru para formatar um trabalho e criar algumas coisas importantes para a seleção. Foi assim que ele classificou o Peru à Copa do Mundo e que está tendo sucesso na Copa América. Hoje, ele é um ídolo no Peru."
Já Genaro Marinho recordou que a pressão da torcida palmeirense devido à má fase do clube no Campeonato Brasileiro - o time brigava contra o rebaixamento e ocupava a 16ª colocação, com a mesma pontuação que o Criciúma, que abria a luta contra a degola à Série B.
"O futebol brasileiro não tem paciência com técnico e nós estávamos numa situação de ficar entre os últimos quatro da tabela. Resolvemos não correr mais o risco de rebaixamento. Não deu para segurá-lo. Numa condição normal, eu entendo que o Gareca traria resultado e uma forma de trabalho excelente. Na seleção peruana, ele chegou ao topo, mas não sei se vai segurar contra o Brasil", analisou.
Valentim reforça falta de tempo
Atual treinador do Avaí, Alberto Valentim foi incumbido de comandar o Palmeiras por quatro partidas antes que Gareca assumisse o time naquele ano de 2014. Apesar do rápido convívio, o ex-auxiliar do argentino do time alviverde também lamentou o pouco tempo que o colega teve para mostrar a sua qualidade.
"Foi um pecado de não ter dado certo. Estamos vendo agora o bom trabalho que ele está fazendo na seleção peruana e por tudo que o Palmeiras fez. Ele não teve tempo para fazer o trabalho dele, colocar as ideias e metodologia [em prática]. Infelizmente, o futebol é assim: se espera muitas coisas e acabam não acontecendo."
"O Gareca pegou um ano que o Palmeiras estava num ano difícil, nós tivemos dificuldades. Ele teve um pouco de azar de pegar o Palmeiras naquele momento difícil, tanto é que nós sofremos contra o rebaixamento até na última rodada, mesmo depois da saída do Gareca. Então, não foi com ele, porque foi um ano complicado, um ano de transição. Foi o segundo ano da gestão do Paulo Nobre. O terceiro ano já foi muito bom", analisou.
Legião argentina
Ao desembarcar em São Paulo, Gareca solicitou à diretoria do Palmeiras a contratação de quatro jogadores argentinos e acabou atendido. Entre os reforços, estavam Fernando Tobio, Agustín Allione, Pablo Mouche e Jonathan Cristaldo, todos com passagem pelo Vélez Sarsfield, clube que o treinador argentino havia comandado antes de assumir o Palmeiras.
Os jogadores, no entanto, tiveram pouco convívio com o treinador na nova casa. O empresário José Luiz Galante, que intermediou o acerto entre Palmeiras e o treinador, ressaltou que o Gareca sempre revelou talentos por onde passou.
"Eu esperei algo diferente do Gareca, porque ele está sempre em um time que chega para ser campeão. Foi assim em todos os trabalhos que ele montou nas equipes na Argentina. Ele é um treinador que revela jogadores. Só no Velez, ele revelou mais de 15 jogadores, todos vendidos por 4, 5, 8, 9 milhões de dólares. O Paulo Nobre teve um pouco de impaciência. Eu sei que o momento era conturbado, mas os jogadores tinham acabado de chegar e na época estavam todos de férias e precisavam de um tempo para se adaptar."
Já o atacante Jonathan Cristaldo afirmou que não está surpreso com o bom desempenho do ex-comandante à frente da seleção peruano e até reforçou que ele poderia ocupar a vaga de Lionel Scaloni à frente da seleção argentina.
"Todo mundo sabia que aconteceria isso [sucesso do Peru] porque ele é um treinador com muito prestígio na Argentina. Agora, todo mundo na Argentina está falando porque ele não foi para a seleção. Eu penso que ele vai ter esse momento na seleção da Argentina, se Deus quiser, e eu espero e torço que isso venha logo", comentou o jogador, sem apontar para quem irá torcer na decisão de amanhã.
"Será um jogo muito difícil e eu não vou torcer para ninguém, porque eu tenho muitos amigos aí no Brasil. Eu gosto muito do Brasil e espero que seja um bom jogo, um espetáculo. Tenho sentimentos pelos dois lados. Só quero que ganhe o melhor, só isso."
Também contratado a pedido de Gareca, o atacante Pablo Mouche enfatizou que teve poucas oportunidades no clube após a demissão do treinador.
"Senti muito a saída dele. Acho que os argentinos ficaram chateados e sentimos muito. Achamos que foi muito fundamental para nós, buscar uma saída porque ele chegou e pediu a nossa contratação [dos argentinos]. A chegada do Alexandre Mattos [diretor de futebol alviverde] também foi muito significante para eu sair do Palmeiras."
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