Zagueira Erika avalia desabafo de Marta e espera chances a nova geração
A eliminação do Brasil nas oitavas de final da Copa do Mundo feminina 2019, na França, acendeu um alerta. Após a derrota por 2 a 1 para a França, Marta se emocionou e fez uma cobrança pública.
"É isso que peço para as meninas: não vai ter uma Marta para sempre, não vai ter uma Formiga para sempre, não vai ter uma Cristiane para sempre. O futebol feminino depende de vocês! Valorizem mais", disse a camisa 10, que disputava seu quinto Mundial com a seleção, à Rede Globo.
Por aqui, a declaração ainda repercute. Na edição de hoje do programa Boleiragem, do Grupo Globo, nomes de destaque da modalidade discorreram a respeito de possíveis interpretações - não apenas a respeito das cobranças por melhores condições, mas também sobre a evolução de nomes que podem buscar resultados que não foram conquistados por atletas mais experientes.
A zagueira Erika, cortada antes da Copa, destacou a preparação física da seleção, por exemplo. A ênfase, no entanto, foi dada aos cuidados de cada jogadora. Para ela, Marta quis que as companheiras se cuidassem em mais alto nível.
"A primeira interpretação foi: 'Vamos começar a alertar, que teve outras falas sobre as atletas, para as atletas brasileiras pensarem um pouco mais como atletas, e não como jogadoras de bola'. E a gente levou isso superbem. A gente precisa ser atleta, chegar em uma seleção brasileira e estar superbem. E foi para ela mesma também, para a Cristiane, para a Formiga, foi para todas as meninas que estavam ali", disse.
"Independentemente do que tenha acontecido (no período pré-Copa), nem todo mundo chegou na Copa tão bem, como a gente sabe. Então serviu para ela. Ela ter passado a informação, OK, mas também serviu para ela e ela sabe muito bem disso. E depois a gente conversou sobre isso."
Mas Erika mostrou não estar 100% de acordo com a declaração da atacante. Para a zagueira, se o Brasil não terá "uma Marta para sempre", precisará dar condições para que outras jogadoras também brilhem, sem dependência de outras atletas. Ou seja: é preciso dar chances a quem está chegando, justamente para que a seleção não seja prejudicada na passagem de bastão entre as gerações.
"Tenho minha personalidade e até ouvi algumas meninas, o comentário de algumas, e falei pra elas: 'Gente, ela podia ter sido mais feliz'. No meu ver, ela foi um pouco infeliz em colocar aquela situação ali. Ela podia falar de uma outra forma (...). Não vai ter outras Martas, outras Formigas, OK, mas então que dê oportunidade para outras meninas, porque aí teremos Debinhas melhores, Andressinhas melhoradas, Bias melhoradas, zagueiras melhoradas", alegou.
"Vai passar? Vai. Mas ela vai deixar um legado. Como a Sissi passou e deixou o legado dela. Mas que dê oportunidade, então. E quem estiver no comando, que dê oportunidade para que tenha outras meninas melhoradas, e não mais uma Marta. A gente não quer outra Marta, quer outras melhores. Eu interpretei dessa forma. Eu queria que ela tivesse passado isso, que desse moral também para as meninas que estavam lá correndo por elas, pela gente. Todo mundo correu. A Debinha correu por mim, por você, pelo seu pai, pela sua mãe. Thamires correu também 'pra' caramba. Então por que ela não valorizou naquele momento? Eu espero um pouco mais disso da parte dela. Porque elas (Marta, Cristiane e Formiga) têm mais poder", acrescentou.
O exemplo de Cristiane
Aline Pellegrino, ex-zagueira e hoje dirigente da Federação Paulista de Futebol, ampliou a discussão. Para ela, a cobrança não é apenas pela renovação da seleção, mas pelas condições para que essa renovação entregue jogadoras prontas para desafios de alto nível.
"Acho que é um conjunto, desde a organização, as atletas, e uma leitura. Vou dar um exemplo da Cris, em 2004: tinha a Kátia Cilene, que era titular absoluta, e se machucou, e tinha a Pretinha, a Roseli. E a Cristiane, com 19 anos, atropelou", lembrou, citando a Olimpíada disputada em Atenas - a seleção foi medalha de prata e Cristiane marcou cinco gols, dividindo a artilharia do torneio com a alemã Birgit Prinz. "E tinha uma comissão que dá oportunidade para quem tá melhor. E a Cristiane é escalada ali na Copa e termina como artilheira."
A zagueira Mônica também usou Cristiane como exemplo para analisar a declaração, analisada de forma a dividir a pressão pelo futuro da seleção brasileira. Para a camisa 21, Marta cobrou que as jogadoras mais jovens estejam prontas para substituir as mais experientes.
"A Cristiane não se importava com quem era, ela estava pronta para assumir aquele lugar. Eu acho que é isso que a Marta quis dizer: que a gente tem que estar pronta para esse momento. Porque a oportunidade, às vezes, até vem, mas a atleta não está pronta. Eu entendi que ela quis dizer isso: a gente tem que se preparar melhor, para estar pronta quando a oportunidade aparecer, não importa se for a Cristiane, a Marta ou a Formiga", analisou.
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