"Meu negócio era tocar em banda de axé", diz Marinho, atacante do Santos
O atacante Marinho voltou ao Santos após 12 anos e, se depender do jogador, agora será para ficar. O camisa 31, que queria ser músico na infância, já fala em criar raízes no Peixe e sonha em receber uma placa comemorativa por alguma marca expressiva de jogos com a camisa alvinegra, algo que nunca conseguiu em sua carreira.
Marinho rodou por 13 times desde que começou no futebol. Passou pela base do próprio Santos, em 2007, do Fluminense e do Internacional. Depois, jogou em 10 times diferentes: Caxias, Paraná, Goiás, Ituano, Náutico, Ceará, Cruzeiro, Vitória, Changchun Yatai (da China) e Grêmio. Ele torce para ficar muitos anos no Peixe.
"Se os caras não me venderem, né? (risos) Em todo clube que eu vou me negociam. Quero criar uma identidade no clube. Uma coisa que eu me amarro é quando o cara recebe a plaquinha de tantos jogos pelo clube. Essa é uma meta pra mim aqui, e ganhar títulos. Você é valorizado no clube quando ganha títulos. Temos um treinador vencedor e jogadores também. Quero poder dizer que tenho tantos jogos pelo Santos e tais títulos", disse em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
Muito antes de ser negociado pelos clubes por onde passou, o garoto Marinho tinha outro sonho: ser percussionista. O atacante sempre jogou futebol com os amigos e gostava do esporte, mas seu real desejo era ser músico.
"Eu gostava mais de percussão. Meu negócio era tocar em banda de axé, até meus 12 anos. Eu gostava muito do futebol, mas meu sonho era ser percussionista de banda. Mudou isso quando comecei a jogar em uma escolinha do Penedense, time da cidade, e me deram bolsa para continuar", explicou.
Aos 29 anos, Marinho admite que sua melhor temporada na carreira foi em 2016, quando marcou 21 gols em 43 jogos pelo Vitória. Para ele, o grande diferencial daquele ano foi a confiança que o clube tinha nele e o atacante vê a mesma confiança na Vila Belmiro.
"Lá eu era importante porque me tratavam assim, então a confiança era muito grande. Foi esse o diferencial. Quanto mais eu jogava, mais confiança eu pegava. Foi o que aconteceu aqui no início também, cheguei e o Sampaoli já me deu confiança e me colocou para jogar. Não saiu o gol ainda, mas estou dando conta dentro de campo. É a confiança. Estou feliz de jogar, sentindo prazer de pisar na Vila Belmiro. Reencontrei o prazer de jogar futebol", confessou.
A adaptação, as brincadeiras no vestiário, os apelidos e o famigerado meme: confira abaixo a entrevista completa do "poliglota" Marinho ao UOL Esporte.
UOL Esporte: Como está sendo a adaptação na cidade e ao time?
Marinho: Bem demais. Como se eu já morasse aqui, até porque já tive esse prazer imenso de viver aqui por quatro meses. Não foi muito, mas já deu tempo para conhecer e ter a noção de que um dia eu retornaria. Mais adaptado do que eu, dos meninos que chegaram, não tem não. Me receberam super bem e já sou de casa há muito tempo, parece.
UOL: Esse seu jeito irreverente é sempre um fator que te ajuda na adaptação? Ou já deu problema alguma vez?
Marinho: Já teve, principalmente quando fui pra China. Acho que por ninguém entender muito o português. Adaptação lá pra mim foi complicada, os primeiros seis meses principalmente. Era tudo diferente, forma de jogar, cultura... Isso atrapalhou um pouco, mas no Brasil nunca tive problemas.
UOL: estava falando chinês nesse tempo que ficou lá?
Marinho: Aprendi a falar algumas coisinhas, né? Pedir conta, pedir água, agradecer, cumprimentar, o básico que dá pra você viver. É diferente porque você tem os chineses para jogar junto e o entrosamento é um pouco difícil. Os times que ganham lá são os que tem os chineses mais qualificados, que estão na seleção. A gente tinha dificuldade para enfrentar esses times.
UOL: Você chegou e já foi colocando apelidos em vários jogadores do elenco e até no técnico, que virou o mestre Kame. Tem apelido pra todo mundo já?
Marinho: É o mestre Kame, mas também parece o Kuririn. Tem o Pituca, que é o Pitukovic pra mim. Eu, Kaio e Jean Lucas, que nós chamamos de Gabeira, que é o auxiliar do Renato Gaúcho, porque toda hora o Renato ficava chamando o Gabeira e eu comecei a brincar. Dá pra escalar o time inteiro com apelidos, mas vou manter em off e aos poucos eu vou soltando.
UOL: Você é um cara bastante ativo no Instagram, mas o diferente é que você não posta somente em português, né?
Marinho: Às vezes posto em árabe, às vezes em espanhol. Sou poliglota, hablo mucho. Sou um cara que sempre brinca. É bom também se um árabe vai olhar seu Instagram, já tem alguma coisinha. Espanhol também, que não é tão difícil e a gente desenrola. To aprendendo com a comissão e logo estarei fluente. Vou falar só espanhol, falei já que sou o novo gringo do pedaço. Não é à toa que joguei futmesa com Derlis e Sánchez e nós atropelamos Jorge, Felipe Jonatan e Veríssimo. O time dos gringos ganhou.
UOL: Quem mais te surpreendeu do elenco no Santos?
Marinho: Eu conhecia o Sampaoli mais pelo trabalho dele no Santos. Era um cara que eu admirava, mas não por conhecê-lo. Depois de conhecer, virei fã. O trabalho dele, a forma que ele vê o futebol e o que ele passa pra gente. Sempre falo pra ele que quero aprender muito com ele e crescer como atleta e pra isso tenho o melhor treinador para tirar o máximo de mim. É um cara que eu admiro bastante, assim como o grupo do Santos, que conhecia de jogar contra. Isso tem me deixado cada vez mais motivado para conquistar coisas boas na temporada.
UOL: O que o Sampaoli fala que gosta no seu futebol e o que ele pede para que você melhore?
Marinho: Ele quer que eu evolua em muitas coisas, porque ele acha que se eu crescer da forma que ele pensa, vou crescer muito. A cada dia peço para ele me cobrar mais dentro do que ele acha que necessito para que eu possa crescer.
UOL: Quem são os principais parceiros de bagunça no vestiário?
Marinho: O Kaio, o Yuri. O Sánchez também gosta da resenha e o Jobson, que só filma as roupas que eu venho e fica me 'cornetando', mas já vou falar aqui: ele tem um perfume que é da Frozen, da Hello Kitty... Só não é mais doce que açúcar. Se colocar na camisa do cara, desmaia. Sem falar no estilo dele: vem com uma camisa toda lisa e uma bermuda de basquete. Vou filmar ele qualquer dia, com o estilo fraco dele também. É aqueles caras que 'corneta' seu estilo, mas queria usar igual (risos).
UOL: Desde o ocorrido naquela entrevista na época do Ceará e que virou meme, sempre que você troca de time se lembram disso. Essa história te cansa?
Marinho: Normal. Uma hora vai acabar. Os comentários no Instagram também direto são disso. Mas é tranquilo, sou um cara da resenha e levo na boa. O que eu acho chato é quando estou na rua e pessoas que acham que só porque viram o vídeo tem intimidade com você pra chegar falando "que merd..., hein, sabia não". Eu fico calado e não falo nada, aí o cara diz que achava que eu era mais engraçado. Todo mundo vê que eu sou um cara engraçado, mas não é toda hora que eu vou ficar falando isso. Quando alguém fala comigo lembrando da entrevista, dizendo que achou engraçado, eu acho maneiro, mas falando isso só para querer tirar sarro de mim? Aí não, eu corto o barato.
UOL: Você procura manter essa autenticidade que você demonstrou nessa entrevista? É uma coisa que te norteia?
Marinho: Todo mundo sabe que eu sou um cara engraçado, que brinca. Onde eu chego, mostro aquilo que eu sou. Não sou um cara arrogante. Mas quando eu vejo que as pessoas querem fazer algo para me diminuir, aí eu também sei apelar. Sou muito tranquilo para isso, respeito todo mundo, mas também quero respeito. Brincar é uma coisa, desmerecer é outra.
UOL: Você rodou bastante na sua carreira, passou por 13 times contando as categorias de base. Agora no Santos, chegou a hora de parar?
Marinho: Creio que sim, se os caras não me venderem, né? Em todo clube que eu vou, me negociam. Quero criar uma identidade no clube. Uma coisa que eu me amarro é quando o cara recebe a plaquinha de tantos jogos pelo clube. Essa é uma meta pra mim aqui. E ganhar títulos. Você é valorizado no clube quando ganha títulos. Temos um treinador vencedor e jogadores também. Quero poder dizer que tenho tantos jogos pelo Santos e tais títulos.
UOL: A temporada com o Vitória foi o melhor ano da sua carreira? Por quê?
Marinho: Foi o melhor. Lá eu era importante porque me tratavam assim, então a confiança era muito grande. Já no estadual fomos campeões e ganhei prêmios. Tive regularidade e me davam confiança. Foi esse o diferencial. Quanto mais eu jogava, mais confiança eu pegava. Foi o que aconteceu aqui no início também, cheguei e o Sampaoli já me deu confiança e me colocou para jogar. Não saiu o gol ainda, mas estou dando conta dentro de campo. É a confiança. Estou feliz de jogar, sentindo prazer de pisar na Vila Belmiro. Reencontrei o prazer de jogar futebol. Creio que tem muito para mostrar aqui ainda, quero criar raízes aqui, ver os gols começarem a sair, e ser como o Victor Ferraz, que tem vários jogos com a camisa do Santos, é nosso capitão e tem nosso respeito.
UOL: Como você começou a se interessar por futebol?
Marinho: Eu gostava mais de percussão. Meu negócio era tocar em banda de axé, até meus 12 anos. Sempre joguei na rua também, meu pai reclamava que jogava com os caras maiores. Eu gostava muito do futebol, mas meu sonho era ser percussionista de banda. Mudou isso quando comecei a jogar em uma escolinha do Penedense, time da cidade, e me deram bolsa para continuar. Ainda nessa época eu tocava na banda da rua com meus amigos, mas a banda só tocava quando o povo ficava tomando cachaça, quando ninguém bebia não tinha banda (risos). A gente gravou uma fita uma vez e ficava uma semana na casa de cada um, mas quando chegou a minha vez perderam a fita e nunca mais acharam. Aí acabou a banda, cada um foi pra um lado e eu decidi jogar bola mesmo.
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