Marco Aurélio Cunha: "Sei o quanto fui importante para o futebol feminino"
O coordenador da CBF, Marco Aurélio Cunha, disse ao UOL Esporte que, mesmo com críticas recebidas nos últimos anos por parte dos torcedores da seleção brasileira feminina de futebol, não mudaria nada no trabalho que realizou à frente da equipe nos últimos anos e foi além: deixou claro que acredita ter sido muito importante para a modalidade.
"Eu sei o quanto fui importante para o futebol feminino nestes quatro anos. Quem trabalhou comigo reconhece isso. Pode até não gostar por algum motivo, mas reconhece. Eu não mudaria nada do que fiz. Tudo o que podia ser feito foi feito. Dentro de um curto prazo, com um número enorme de atletas que vinham de lesões anteriores em seus próprios clubes, com diferenças de agenda... A gente conseguiu jogar em alto nível", respondeu.
"Eu tenho colaborado com o futebol feminino, embora não se dê crédito. Eu tenho feito o melhor que posso, e acho que nós atingimos níveis importantes de popularidade, crescimento. A minha função é fazer a gestão das seleções. Eu gosto do que faço, tenho boa relação com todos. Eu ouço aqui o que falam, relevo muita coisa e procuro não dar muito crédito", completou.
Em seguida, o dirigente foi questionado pela reportagem sobre quais méritos enxerga em seu trabalho à frente da seleção. Quais pontos ele acredita que poderiam receber mais crédito dos críticos em geral?
"Eu jamais falo dos meus méritos. As atletas sabem. Há os elogios que as seleções têm recebido quando jogam Olimpíada, Pan, esta última Copa do Mundo... Há um reconhecimento muito grande pela forma como tudo foi feito, como jogaram. O espaço que o futebol feminino ganhou dentro da CBF, as condições de trabalho que as jogadoras receberam neste período", disse.
"Eu tinha uma missão de fazer com que o futebol feminino fosse visto, lembrado e inserido dentro da CBF. Que as atletas pudessem viver do futebol, e hoje isso é uma realidade. Isso se deve ao desenvolvimento interno das situações aqui. Ninguém tem visibilidade e reconhecimento em cima de um trabalho mal feito. Se hoje isso existe, é porque algo foi bem feito", acrescentou.
Na mesma entrevista e em trecho publicado ontem (23), Marco Aurélio revelou ter recebido de Rogério Caboclo a "missão" de definir o novo técnico da seleção brasileira. No entanto, ele não descarta a possibilidade de deixar o cargo (ou mudar de função dentro da entidade) se o presidente da CBF assim desejar: "Eu não peço para permanecer, nem me preocupo com isso. A minha missão é acatar o que o presidente quer. Eu sou desapegado das coisas."
"O presidente me dá as missões, e eu cumpro as missões que ele me dá. Eu não estou aqui para ser reconhecido, aclamado ou criticado. Posso não preencher as expectativas de algum segmento, mas eu cumpro as minhas missões. A minha vontade é de continuar colaborando da forma que eu puder com o futebol brasileiro", desconversou, sem dizer se gostaria de assumir outra função na diretoria da CBF - porém, afirmou que não pensa em voltar a trabalhar em clubes neste momento.
"Vou ficar preocupado com críticas?"
A cada quatro perguntas feitas pela reportagem, pelo menos uma resposta de Marco Aurélio ressaltava o quanto ele releva e não sofre com as críticas. Além de acreditar que muitas delas só passaram a existir depois que a treinadora Emily Lima foi demitida do comando da seleção, como se alguns tivessem ficado predispostos a desaprovar seu trabalho a partir daquele ponto, ele diz respeitar opiniões contraditórias.
Marco só faz questão de dizer uma coisa: também tem suas opiniões.
"Nesta altura da vida, eu vou ficar preocupado? Eu respeito críticas, mas tem dois segmentos de crítica: um popular, que elogia e fala que a seleção foi muito bem, nos aeroportos e na rua, e a crítica mais fechada, uma crítica contra o nosso trabalho desde que houve a saída da Emily. Isso passou a ser um conceito, e eu não estou aqui para mudar esse conceito. Estou aqui para fazer o meu trabalho", declarou, com firmeza.
"A opinião da maioria, que gosta de futebol, foi boa. Eu respeito opiniões contraditórias, mas também apresento os meus motivos. Ninguém está totalmente equivocado ou exagerado ao extremo, são posições. Tem pessoas que criticam por antipatia. E eu sei exatamente diferenciar uma coisa da outra. Existe exagero crítico, existe opinião bem postada", completou Marco.
Ambiente conturbado na seleção?
Após a eliminação do Brasil nas oitavas de final da Copa do Mundo, Marta cobrou as atletas mais jovens e pediu profissionalismo. Cortada do torneio por lesão, Erika questionou este discurso e a responsabilidade que ela atribui às jogadoras. A camisa 10 não respondeu, mas deu "like" em comentários polêmicos sobre a defensora, feitos por seus seguidores do Instagram.
Uma das mensagens curtidas por Marta questionava o papel de Erika na seleção e a tratava como "uma zagueira que ninguém conhece". Não é possível dizer se a jogadora do Orlando Pride apertou o botão de "like" intencionalmente ou sem querer, mas a reação dos torcedores foi previsível e até inevitável: muitos passaram a se preocupar com a "saúde" do ambiente da equipe.
"Neste ponto, eu acho que não é mais o futebol feminino nem nada, é a vida. A Marta falou uma coisa, a Erika falou outra, e a Emily falou outra. Nós estamos em uma época de liberdade absoluta de opiniões, mas, quando as opiniões são de pessoas relevantes, criam-se as polêmicas. Isso não é antagonismo, é opinião divergente. As redes sociais geram esse conflito que, na verdade, nem é conflito. Eu acho isso absolutamente natural, normal", disse Marco Aurélio.
Eliminação tem culpados ou foi fatalidade?
Todos esperavam um confronto difícil contra a França nas oitavas do Mundial, mas a verdade é que a seleção brasileira teria encontrado um caminho relativamente mais simples no torneio se tivesse feito um gol a mais na fase de grupos. Este objetivo poderia ter sido alcançado na vitória por 3 a 0 sobre a Jamaica ou no triunfo por 1 a 0 sobre a Itália, no qual Vadão recuou o time nos minutos finais - mesmo sabendo que um eventual empate das italianas não mudaria nada para o Brasil.
Neste caso, a equipe comandada por Vadão teria se classificado na segunda colocação do Grupo C e jogaria o mata-mata na outra chave, considerada menos complicada. Para efeitos de comparação, a rival nas oitavas teria sido a Noruega, não a França. A seleção nórdica seria uma adversária difícil, mas provavelmente assustaria menos do que a anfitriã e sua torcida.
"Eu não culpo ninguém por isso, são as circunstâncias do futebol. Do mesmo jeito que a Croácia chegou em uma final de Copa no masculino por um caminho que foi facilitado. Nós terminamos com o mesmo número de pontos (que a líder Itália e a Austrália), faltou um gol (para avançar em segundo lugar). Mas só porque faltou um gol o trabalho era equivocado? Não!", defendeu ele.
"Jogar contra a França com 30 mil presentes (nota da redação: foram 23.965 torcedores) cantando o hino francês, não tinha 500 brasileiros, e o Brasil jogando o que jogou, lutando pau a pau até o fim... E não se dá mérito a ninguém. Eu acho isso injusto, mas são opiniões. Eu estou bastante vivido no futebol, então não crio expectativas", concluiu Marco.
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