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Testemunha do caso Daniel relata assassinato em entrevista: "vivo com medo"

Lucas Mineiro, testemunha no caso de assassinato do jogador Daniel, dá entrevista para a TV RPC, do Paraná - Reprodução
Lucas Mineiro, testemunha no caso de assassinato do jogador Daniel, dá entrevista para a TV RPC, do Paraná Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

05/08/2019 13h42

Uma das testemunhas do assassinato de Daniel Correa, ex-jogador do São Paulo, morto por Edison Brittes, em São José dos Pinhais, no Paraná, em outubro de 2018, concedeu entrevista à RPCTV, afiliada Globo no Paraná, e descreveu o que viu no dia do crime quando Daniel foi agredido na casa de Brittes.

Lucas Stumpff, o Lucas Mineiro, concedeu entrevista gravada em São Paulo, local combinado pelo seu advogado. Ele deixou a cidade da Região Metropolitana de Curitiba e não é mais testemunha protegida pela mudança de domicílio. Aos 24 anos, Mineiro mostrou pela primeira vez o rosto. O jovem esteve na festa na casa noturna e na casa da família, para onde foi no mesmo carro que Daniel.

Ele relembrou os acontecimentos na entrevista exibida hoje (5). "Eu estava me divertindo, conversando com as meninas [5h da manhã] e em determinado momento o cara vem correndo e diz, "Meu Deus, vai acontecer uma tragédia aqui, vai dar cagada", e aí eu vou até a janela e olho dentro do quarto, aí o menino estava... dá até um ruim de falar isso", disse.

"Ele [Daniel] falava: 'não quero morrer, não quero morrer' e aí eles batiam, batiam, aí entraram outros rapazes e batiam, batiam... ele já saiu do quarto muito machucado". Segundo Mineiro, Daniel estava na cama de Cristiana Brittes. "No momento em que eu olho pela janela ele estava em cima da cama sendo enforcado, não sei se... mas eu vejo o Edison enforcando ele em cima da cama. Ele estava de cueca e camiseta".

Alana e Cristiana pediam que as agressões parassem

De acordo com Mineiro, a esposa e a filha de Brittes pediam auxilio para socorrer o jogador. "Ela [Cristiana] tentava pedir ajuda, mas ela não tinha o que fazer, creio eu. Ela não podia fazer nada naquele momento, creio eu. Ela pedia socorro. Não sei se era por algo que aconteceu por ela, mas no meu ver do momento, no momento dos fatos, o meu entendimento era que o pedido de socorro era pelo Daniel". A filha Alana também: "Ela pedia, estava assustada. Não lembro se ela falou com o pai dela, eu escutava ela falar muito assustada, 'meu Deus, o que está acontecendo'".

Mineiro ainda disse ter tentado separar Daniel dos agressores e foi impedido. "Eu cheguei e falei pro Edison, 'para, para' e ele, 'sai fora, senão você é o próximo' e eu digo pra Alana, 'pelo amor de Deus, não deixa teu pai chegar perto de mim', e ela, 'não chega perto do meu pai então, fica longe dele'".

Na entrevista, Mineiro afirma que outra testemunha, uma moça, tentou chamar o SAMU - Serviço de Atendimento Móvel Urgente. "Vou chamar o SAMU, e ele [Edison]: 'não chama, não chama!' e ela acaba não conseguindo pedir socorro pra ele. Muitas pessoas falaram pra mim, 'se eu tivesse lá eu pediria socorro, a polícia', mas as pessoas não sabem como é quando você está nessa situação. Estar nessa situação é uma coisa; estar de fora e falar o que faria é totalmente diferente. Quando você está nessa situação você só quer sair dali, só quer se proteger, você só quer ficar bem".

Mineiro ainda descreveu à reportagem da afiliada Globo outra cena. "Então ele [Brittes] passa atrás de mim com uma faca e naquele momento eu já não olho mais para trás", contou, antes de afirmar que viu Daniel caído fora do carro em que seria transportado: "Deitado no chão, muito machucado. Ele cuspia sangue, tentava falar e não conseguia. Muito muito machucado."

Mudança de cidade e convite para nova 'festinha'

Lucas Mineiro ficou mais 30 minutos na casa. Na mesma noite, recebeu mensagens para marcar um encontro e uma nova "festinha". "Foram os três dias mais agoniantes da minha vida ali. Por que eu tô assim e a pessoa não tá? Como uma festinha se acabou de presenciar tudo aquilo?"

Dois dias depois, ele e os Brittes acabaram se encontrando em um shopping de São José dos Pinhais. Lucas diz ter sido recebido com um beijo por Edison Brittes, também conhecido como Juninho Riqueza. "Eu já sabendo o que tinha acontecido, não tinha como olhar pra ele e não cumprimentar." Segundo ele, Brittes queria combinar uma versão: "O elo tá fechado, se alguém abrir, vou saber quem foi".

Então Lucas Mineiro decidiu deixar a região de Curitiba. "Rompi esse elo, vou à delegacia e conto tudo o que eu vi. No momento em que eu saio da delegacia, amigos meus, amigos de infância, avisando a minha mãe, 'olha tia, não deixa o Mineiro voltar pra cá porque tem uns moleques barra-pesada falando que vão pegar ele".

A reportagem exibiu ainda um áudio cujo emissor não foi identificado, mas que trazia uma ameaça a Mineiro: "Manda avisar que se tiver com intenção de pisar em São José vai morrer". Longe de Curitiba, Lucas Mineiro faz tratamento psicológico, razão apresentada para decidir exibir o rosto e falar no caso. "Medo é o que descreve o que eu vivo. Tomo remédios, tenho depressão, o medo me tirou da cidade onde eu cresci. Ali eu vi como se a vida não tivesse valor nenhum".

A testemunha havia dado entrevista exclusiva ao UOL Esporte na semana seguinte ao crime, quando relatou em primeira mão o que havia acontecido naquela noite na casa da família Brittes. Na ocasião, Lucas Mineiro não quis mostrar o rosto e pediu para não ser identificado por medo de represálias.