Ex-parceiro de Cristiano Ronaldo treinou com Felipão e agora está preso
Rodeado de jornalistas em sua apresentação no Manchester United em 2003, Cristiano Ronaldo distribuía sorrisos e era o retrato da felicidade. Longe de se sentir desconfortável na nova casa, arriscou até mesmo uma previsão de forma espontânea: "se acham que sou bom, esperem pelo Paim". No caso, Paim era Fábio Paim, outra promessa da base do Sporting e que, naquela altura, gerava mais frisson que o próprio craque português.
Com passagem por todas as seleções de base, no radar de gigantes europeus e com o poderoso agente Jorge Mendes cuidando de sua carreira, o atacante ganhava mais do que boa parte do elenco profissional. Aos 16 anos, recebia 20 mil euros mensais (R$ 86 mil na cotação atual) e luvas de 150 mil euros (R$ 650 mil) ao fim de cada temporada.
Cinco anos depois de Ronaldo, foi a sua vez de desembarcar na Premier League emprestado ao Chelsea então comandado por Luiz Felipe Scolari. Dividia a mesa de café da manhã com estrelas como Deco e Ricardo Carvalho, treinava pela equipe reserva com Felipão, mas nunca chegou a entrar em campo. A partir dali, sua carreira foi apenas ladeira abaixo.
Pouco tempo atrás, o Sport TV, principal canal esportivo português, fez um documentário chamado "Quem quer ser Fábio Paim?".
Com passagens por diversos países, entre eles, o Brasil, Paim virou uma figura praticamente lendária do outro lado do oceano, participando de reality shows, sendo convidado para comentar na TV a ida de Ronaldo para a Juventus. Mesmo assim, é seguro dizer que hoje ninguém gostaria de estar em seu lugar. Na última semana, em mais uma reviravolta em sua vida, ele foi preso de forma preventiva sob a suspeita de tráfico de drogas.
Aos 31 anos, não se encontra correndo pelos gramados mundo afora, mas atrás das grades no Estabelecimento Prisional de Caxias, na região da grande Lisboa, no aguardo de julgamento. Um dos mais lotados do país, o presídio é classificado como de segurança elevada.
O seu nome continua sendo citado no centro de treinamento do Sporting, em Alcochete, porém, é mencionado atualmente por treinadores e psicólogos como exemplo a não seguir. Não era esse definitivamente o futuro que se desenhava para Fábio Paim.
"Como treinadores, a gente sabia quem estava sendo monitorado (por outros clubes)", conta Luís Martins, ex-coordenador da base do Sporting, ao UOL Esporte.
"Eu, por exemplo, fiz uma semana de estágio no Real Madrid. Quando estive lá, os responsáveis pela academia deles me perguntaram claramente (pelo Fábio) e afirmaram que o seguiam, que era um dos melhores do mundo em sua idade. Ele fez parte de uma geração de jogadores (no Sporting) que tinha muita visibilidade não só pelo rendimento, mas pelos títulos", prossegue.
"Em determinada altura, achávamos que ele tinha mais potencial que Ronaldo e até acreditávamos que seria difícil segurá-lo no mercado. Tinha o Real, o Manchester United e outros em seu encalço, era empresariado pelo Jorge Mendes desde muito cedo, portanto, imaginávamos que tudo seria muito rápido para ele", completa.
No fim das contas, ainda que não da maneira como se previa, foi exatamente isso que aconteceu.
"Deveria ter sido campeão da Eurocopa com Ronaldo"
Dois anos atrás, Luís Martins esteve em um jantar com parte da safra que comandou na base do Sporting. Entre outros, compareceram o goleiro Rui Patrício, o meia Adrien Silva e o próprio Fábio Paim. Boa parte deles fez parte do elenco que conduziu Portugal ao título mais importante de sua história, ao conquistar a Eurocopa em 2016.
Uma das marcas daquela campanha foi a grande contribuição do time de Alvalade entre os convocados.
Ao todo, 10 dos 14 jogadores que entraram em campo na final haviam sido revelados em Alcochete. Em circunstâncias normais, Paim deveria ter estado entre eles e acabou se perdendo pelo caminho.
"Na geração dele, o nosso diagnóstico no Sporting era de que tínhamos seis, sete, oito atletas de rendimento alto, (Hugo) Viana, (Ricardo) Quaresma, Cristiano Ronaldo, Rui Patrício, Miguel Veloso, (João) Moutinho e Daniel Carriço, que era como se fosse um irmão para ele. O Fábio fez todas as seleções, tinha grande qualidade, mas foi desviado no processo de afirmação", explica Martins.
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