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Caso Daniel: Amigo relata choro e fuga de Brittes na prisão de Cristiana

@zeotavio/UOL
Imagem: @zeotavio/UOL

Adriano Wilkson e Karla Torralba

Do UOL, em São Paulo

02/09/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Cristiana Brittes foi presa em 31 de outubro, quatro dias após a morte de Daniel Correa
  • Acusada de participação no crime, ela foi detida em um posto de gasolina, em Curitiba
  • Edison Brittes estava com ela nesse dia e tinha mandado de prisão contra ele, mas fugiu do local ao ver a polícia
  • Um amigo da família, que estava junto, contou o que aconteceu naquela noite
  • Edison Brittes foi preso no dia seguinte e confessou ter matado Daniel no dia 27 de outubro

Passava das 22h do dia 31 de outubro do ano passado quando carros da Polícia Militar pararam em um posto de gasolina de Curitiba após uma ligação avisar sobre a presença de Cristiana e Edison Brittes, então suspeitos do assassinato do jogador Daniel Corrêa quatro dias antes.

O casal estava em um carro dirigido pelo comerciante Denis Araújo quando foi surpreendido pelas sirenes e o cerco policial, montado para efetuar a prisão de Cristiana e Edison, um empresario conhecido na região como Juninho Riqueza.

Denis Araújo foi uma das testemunhas de defesa de Edison Brittes na audiência de instrução do caso, em 2 de abril de 2019, porém na ocasião não foi questionado sobre a noite da prisão de Cristiana Brittes. Ao UOL Esporte, ele explicou como Juninho conseguiu fugir da polícia naquela noite enquanto a mulher era presa. Edison se entregaria à polícia no dia seguinte.

Os Brittes, agora na condição de réus, permanecem presos e aguardam julgamento, que deve acontecer nos próximos meses. Eles serão interrogados pela primeira vez pela Justiça a partir de quarta (4), no Fórum de São José dos Pinhais (PR). Além de Edison e Cristiana, outros cinco réus respondem por envolvimento no caso - incluindo Allana, a filha do casal, que deixou a prisão no último mês após pedido de habeas corpus.

"Eu tinha uma rede de lojas em Curitiba e o Júnior e a Cris eram clientes meus. Quando aconteceu o caso, lembro até hoje, eu estava vendo um ponto comercial para comprar, e o Junior me ligou, falando que precisava falar comigo urgente", conta Denis Araújo. "Peguei meu carro e fui no meu depósito encontrar eles. Quando cheguei, o Júnior me deu um abraço e começou a chorar."

Denis conta que o amigo não explicou exatamente o que tinha feito e logo pediu para que ele o levasse ao escritório do advogado da família.

"Peguei meu carro, uma [Land Rover] Evoque. A Cris [foi] no banco de trás e ele na frente. A Cris [estava] tensa, sem falar nada, o Juninho pálido, sem falar nada com nada. E eu nervoso sem saber o que estava acontecendo."

Ao chegar perto de um posto de gasolina, no bairro Bom Retiro, em Curitiba, Denis diz que Cristiana pediu para Juninho comprar uma água. "O Júnior desceu no carro, e a Cris ficou comigo. Ele entrou na loja de conveniência para comprar água e, de repente, chega uma viatura da polícia no meu carro. O Júnior viu a gente ser abordado e saiu pelo lado da loja de conveniência. E foi para a rua a pé."

A reportagem conseguiu confirmar o relato da fuga com outras testemunhas da cena. Elas contaram que Juninho estava dentro da loja de conveniência e, quando viu a polícia, deixou o local como um cliente normal. Os investigadores também citaram em seus depoimentos, em fevereiro, que Juninho esteve no posto aquela noite, mas fugiu.

De lá, Juninho foi caminhando ao escritório de Cláudio Dalledone Júnior, a menos de 1 km do posto. O advogado assumiria sua defesa e recomendaria que ele se entregasse à polícia, junto com a filha Allana, na manhã do dia seguinte, 1 de novembro.

Enquanto isso, Denis e Cristiana eram levados à delegacia. Denis, sobre quem não pesa nenhuma acusação relacionada à morte do jogador, foi liberado. Mas ela permaneceu na cadeia, na época como suspeita. Hoje Cristiana é ré pelo homicídio de Daniel, coação de testemunha e fraude processual.

O advogado de Juninho, no entanto, nega a fuga. "O boletim de ocorrência tem que retratar a ocorrência. Se tentou, não conseguiu. Esse fato não existiu. Tivesse existido, o posto de gasolina, repleto de câmera de segurança, por que não buscaram as câmeras? Por que não consta no B.O uma ocorrência tão grave? Não pensa que foi uma viatura. Tinha um cerco ali no posto de gasolina", disse o defensor.

Crime prejudicou negócios de amigo testemunha

Em seu depoimento à Justiça, Denis Araújo explicou a relação de amizade e profissional com a família Brittes.

"Eu tenho uma rede de lojas chamada Multi Gula. Elas são minhas e o Edison junto com a Cris queriam abrir uma loja também de Gula, no formato do meu. Eu acabei vendendo uma dessas lojas para eles. A marca é minha, e eu fui abrindo lojas. Uma dessas lojas eu vendi para o Edison e para a Cris", afirmou.

A loja vendida por Denis a Edison Brittes ficou nas mãos de Juninho por seis meses. "Eu peguei essa loja de volta. E o Edison montou uma outra loja, chamada Gula Express, em Santa Felicidade, e ele era meu cliente. Como eu tenho as minhas lojas, eu tenho um barracão grande que centralizo minhas mercadorias lá. Como eu tinha muita mercadoria para vender, o Júnior ia no barracão uma vez por semana e comprava mercadoria minha para vender na loja dele".

O crime e a atenção que ele despertou na imprensa impactaram os negócios do empresário, que optou por se desfazer deles. Denis afirma ter vendido todas as lojas que tinha em Curitiba por causa da repercussão do caso.

"Me atrapalhou muito", afirmou Denis, que continua morando em Curitiba. "Saiu na mídia que o Juninho era meu sócio, que eu mexia com carga roubada nas lojas. O movimento das minhas lojas caiu um monte, um monte de funcionário pediu as contas. Deu uma repercussão muito negativa para mim, e eu não tinha nada a ver com nada. E ele nunca foi meu sócio, era só um cliente meu. Eu vendi todas as lojas. Não tenho mais comércio hoje em dia."

Investigações por estelionato e apropriação indébita

Denis Araújo é investigado pela polícia pelo menos desde 2012, quando virou réu por apropriação indébita de um carro Volkswagen Fox.

O caso ainda tramita na 8ª Vara Criminal de Curitiba, parado porque "o réu não foi encontrado para ser citado". "A última movimentação do processo diz respeito a um pedido de endereços do réu junto às instituições financeiras, mas ainda não houve resposta com dados", informou o Tribunal de Justiça do Paraná à reportagem.

O comerciante, por outro lado, afirma que o caso foi arquivado depois que ele devolveu o carro à sua proprietária, após não conseguir pagá-lo. "Comprei um carro de uma amiga, mas não tinha condição financeira de pagar, atrasei algumas parcelas, acabei não pagando. Ela ficou chateada, fez o boletim de ocorrência, e o carro foi devolvido logo em seguida."

Denis Araújo também é investigado por estelionato em dois inquéritos policiais diferentes. O primeiro deles, de fevereiro de 2016, foi devolvido pelo Ministério Público à Delegacia de Estelionato de Curitiba em fevereiro de 2019, para que os policiais continuem com as investigações.

O segundo inquérito é de dezembro de 2016 e é de responsabilidade da 1ª Delegacia Regional de Polícia de São José dos Pinhais, a mesma que investigou o assassinato de Daniel. O UOL Esporte apurou que esse inquérito diz respeito à venda de carga de camarões.

Questionado, o amigo do casal Brittes disse não ter certeza sobre as investigações. "Se não me engano, um carro que estava em meu nome foi usado numa transação, um vendeu por outro e não pagou, deu algum problema, mas foi resolvido na delegacia", disse.

O caso chegou à 2ª Vara Criminal de São José dos Pinhais, mas foi devolvido à delegacia em março de 2017 para que, assim como no segundo inquérito, mais diligências fossem realizadas.

As últimas atualizações sobre os dois inquéritos são que "ainda estão em andamento".

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