Crise institucional do Cruzeiro chega a campo antes de reencontro com Mano
A diretoria do Cruzeiro vive, desde maio, cercada por denúncias de lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e falsidade ideológica. Essa crise institucional se espalhou aos poucos e agora chegou ao campo. Em começo de trabalho, o técnico Rogério Ceni já vê as consequências dessa derrocada no desempenho de seu time, com ambiente ruim nos vestiários, enquanto a torcida protesta. É o pior momento no ano para o clube, que precisa abrir o olho para evitar um desfecho dramático na temporada.
Quando membros da diretoria celeste passaram a conviver com acusações de irregularidades na gestão do clube, o time, ainda comandado por Mano Menezes, comemorava o título mineiro e voava na Copa Libertadores. Ao gastar muito com contratações e salários, a diretoria repetiu a estratégia do ano anterior e apostou nos mata-matas para gerar receitas e brigar por títulos. Mais de cinco meses depois, a cúpula pena com o insucesso do planejamento. Eliminado de Libertadores e Copa do Brasil, o clube já não tem mais de onde tirar dinheiro e atrasa os salários de jogadores e funcionários. Já foi necessário o pedido de R$80 milhões em empréstimos para atenuar a situação.
Vitorioso em pelo menos dois anos, Mano Menezes se firmou no clube principalmente por causa dos resultados na Copa do Brasil, da qual ergueu as últimas duas taças. Mas o desempenho em campo nem sempre foi de encher os olhos, e o treinador ficou ainda mais conhecido por dar um padrão extremamente defensivo à equipe, sem explorar muito a qualidade também disponível no ataque.
Quando as vitórias deixaram de acontecer, ele foi demitido para a chegada de Rogério Ceni. Contudo, em três semanas, o novo comandante já deixou claro que a situação do time segue delicada e que será preciso fazer mudanças drásticas para melhorar. Isso ficou claro nos últimos dias, quando a equipe levou sete gols para os gaúchos Internacional e Grêmio, e só marcou uma vez. Medalhões como Thiago Neves, Fred, Edilson e Robinho estão longe de apresentar o futebol que um dia agradou à torcida. Eles estão entre os mais questionados e podem ser afastados.
O vestiário já dá novas provas que não está tão fechado como antes. As recentes declarações de Thiago Neves e Edilson, questionando o novo treinador, assim como a resposta de Ceni, mostram que, no mínimo, um grupo de jogadores e o técnico não estão na mesma sintonia.
O futebol ruim também parece ter esgotado a paciência do torcedor. Apostando suas últimas fichas em uma reação, eles fizeram uma bonita festa no embarque do Cruzeiro para Porto Alegre, antes da partida contra o Inter, pela Copa do Brasil. Mas a derrota por 3 a 0 e a baixa produção tiveram como consequência a onda de protestos que começou imediatamente após a eliminação. Na derrota contra o Grêmio, pipocas foram arremessadas no gramado. Em outros momentos, torcedores mostravam notas de dinheiro aos jogadores que deixavam o campo.
Na tarde de ontem, a Máfia Azul, principal organizada, voltou a se manifestar após um longo período e protestou em frente à sede do clube. Além dos diretores, a manifestação também teve como alvo alguns jogadores, como Edilson, Thiago Neves, David e Egídio.
Agora, somente com o Brasileirão pela frente, Ceni já deixou claro que a realidade do Cruzeiro não é buscar uma arrancada e lutar para entrar no G-6, mas escapar o mais rápido possível da zona de rebaixamento. O clube tem hoje um jogo e três pontos a mais que o Fluminense, primeiro integrante do Z-4.
Com apenas 18 pontos em 18 jogos, a equipe reencontra Mano Menezes ao visitar o Palmeiras no próximo final de semana. Se não vencer, o Cruzeiro terminará a primeira metade do campeonato com o pior turno de sua história. E não é que a sequência da tabela seja tranquila: depois, o time recebe o líder Flamengo antes de fazer outros dois jogos fora, contra o Ceará e Goiás. Diretoria, Rogério Ceni e, principalmente, a torcida só esperam que, em meio a essa trajetória perigosa, uma solução temporária para a crise, em campo, seja encontrada.
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