Lula Pereira largou a carreira por saúde e hoje se recupera de AVC
Poucos são os negros e nordestinos atuando como técnicos em grandes clubes do futebol brasileiro e Lula Pereira foi um deles, enfrentando o racismo para atuar durante 25 anos. Depois de abandonar a carreira para evitar problemas de saúde, hoje ele luta para se recuperar de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), que sofreu em agosto deste ano, em Fortaleza.
Ex-zagueiro, ele treinou 16 clubes brasileiros, com passagens por todas as regiões brasileiras, além de uma experiência internacional na Arábia Saudita, pelo Al Hazm. O clube onde teve mais sucesso foi o Ceará, com cinco passagens e três títulos estaduais. Também levou o América ao título mineiro de 2001, ganhou o Catarinense com o Figueirense em 1994 e venceu a Série B do Brasileiro com o União São João, em 1996.
Lula também trabalhou na Portuguesa, no Bahia e no Flamengo, em 2002, quando comandou um time que contava com o ex-goleiro da seleção brasileira Júlio César, o ex-atacante e hoje comentarista Caio Ribeiro, além de um ainda novato Felipe Melo, hoje volante no Palmeiras.
Depois de quase 30 anos de carreira como treinador, ele chegou a atuar como diretor no Ferroviário do Ceará, em 2016, mas deixou o clube devido aos atrasos nos pagamentos. A volta ao trabalho de técnico já não estava mais em seus planos desde que viu outros profissionais terem a saúde afetada pelo trabalho e optou por se preservar.
"Futebol é ingrato. Então, ele disse que a maioria dos colegas dele estavam trabalhando e todos com problemas de saúde, como o Muricy Ramalho, entre outros, e que ele não queria morrer na beira do gramado, não", conta Luiz Eduardo, filho do ex-treinador.
Ao longo da carreira, ele precisou superar o racismo e também a discriminação por ser nordestino. Atualmente, não há treinadores nordestinos comandando os times brasileiros da Série A, enquanto Roger Machado, no Bahia, é o único negro.
"No futebol, os maiores jogadores são negros, mas me diga quem são os treinadores negros? O último campeão brasileiro foi o Andrade [Flamengo, 2009], vai ver aonde ele está, em alguma divisão que não é a primeira. Tem o Roger Machado, no Bahia, que está tentando, então o racismo continua né, infelizmente", diz Luiz Eduardo.
Lula tinha um quadro de arritmia, mas devido à falta de sintomas, nunca desconfiou que pudesse ter um problema mais sério de saúde, até sofrer o AVC no dia 6 de agosto e precisar ser internado às pressas no Hospital Geral de Fortaleza.
"Essa arritmia criou coágulos que os médicos chamam de trombo, esse trombo subiu e fechou a passagem pro cérebro dele do lado esquerdo. Então, ele sofreu esse AVC em casa. Ele ia sair esse dia, uma pessoa foi buscá-lo e quando bateram na porta do quarto, ele não respondeu", explica o filho do ex-treinador.
Lula Pereira precisou passar por cirurgia devido ao edema cerebral e atualmente segue em uma clínica particular no tratamento para recuperar das limitações nos movimentos e fala, que foram afetadas.
"Ele está acordado, ele come, mas ele não está falando, respondendo só quando ele quer. Quando ele não quer, diz que não e acabou, mas ele não fala, quando ele não quer uma coisa ele bota a mão, ele não está 100%, mas pelo AVC dele, que foi grande, ele está muito bem. Papai teve um AVC isquêmico com trombose e afetou o lado direito dele", conta o filho.
Antes de precisar ser internado, Lula Pereira comentava o panorama do futebol às segundas-feiras na TV Ceará, que era a sua ligação com o esporte. Hoje, Luiz Eduardo e suas irmãs Priscila e Bárbara acompanham o quadro do pai e esperam por boas notícias.
"Na realidade, os médicos não dão garantia de nada. Hoje, os médicos estão felizes com a recuperação dele por quê? Pelo dano que ele sofreu, mas os médicos não dão garantia de nada."
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