Calendário de 2020 da seleção ameaça desfalcar clubes nacionais ainda mais
"A gente teria que lidar com esses problemas durante esse ano. No ano que vem, nosso presidente disse na posse que isso não irá acontecer, jogos da seleção durante jogos da Copa do Brasil e do Brasileiro. Isso já está resolvido, vamos ter que lidar com esse problema somente mais neste ano."
A frase anterior é de Juninho Paulista. O coordenador de seleções da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) admitiu ontem (20) os problemas do calendário nacional e assegurou que a partir de 2020 será diferente, sem jogadores desfalcando clubes nas grandes competições daqui. Entretanto, no próprio planejamento da entidade, o cenário vai se repetir no ano que vem, já que, ao contrário de 2019, não haverá pausa para a Copa América.
Mas, até o calendário chegar ao torneio continental, os clubes nacionais já devem enfrentar problemas. Incluindo uma novidade na programação da CBF em eventos com clubes. Estamos falando da recém-criada Supercopa, que vai opor o campeão da Copa do Brasil ao do Brasileirão. Caso siga no Athletico, o volante Bruno Guimarães, destaque no título da Copa do Brasil, perderia a disputa do primeiro troféu da temporada pelo clube paranaense. A Supercopa será disputada no dia 22 de janeiro, em meio à disputa do torneio Pré-Olímpico -- o meio-campista foi chamado para o time sub-23 ontem (20).
A situação piora no meio da temporada. Segundo apuração do UOL Esporte, apesar da promessa de paralisação nas Datas Fifa de amistosos e eliminatórias, os jogos prosseguirão durante as duas grandes competições do ano que vem: Copa América e Jogos Olímpicos de Tóquio.
Ao todo, as equipes poderão perder atletas por até um mês e meio. O torneio continental, com sede na Argentina e na Colômbia, está marcado para durar 30 dias (12 de junho até 12 de julho). Já a Olimpíada, caso o Brasil se classifique no início do ano, tem a abertura em 24 de julho e o encerramento em 9 de agosto.
Para as duas competições, o Brasil vai tentar levar força máxima. O próprio Tite, ciente das reclamações recorrentes com a lista de ontem, se pronunciou.
Diante de Senegal e Nigéria, o treinador levou Santos (Athletico), Weverton (Palmeiras), Daniel Alves (São Paulo), Gabriel e Rodrigo Caio (Flamengo), Everton Cebolinha e Matheus Henrique (Grêmio). Os sete desfalcam os times em duas rodadas do Brasileirão.
"Quero colocar às pessoas que nos ouvem que existe outro lado da questão, que é o lado da convocação da seleção brasileira, que têm que entregar desempenho e resultado. Fomos campeões da Copa América e quinto no Mundial, precisamos entregar resultado. Estou tendo o máximo de bom senso", afirmou Tite.
"O calendário é muito mais decisivo numa competição de Copa do Brasil do que numa competição de pontos corridos. Há controvérsias, há situações que podem ser defendidas das duas partes. Cada um busque a situação que achar melhor", acrescentou o técnico da seleção brasileira.
Pensamento semelhante é exposto por André Jardine, treinador responsável por comandar o projeto olímpico. O ex-técnico do São Paulo também ambiciona reunir as melhores opções, e já encarou conflitos com times do futebol brasileiro em convocações recentes.
Para o Torneio de Toulon, Jardine chamou Renan Lodi, na época atleta do Athletico, e Rodrygo, então jogador do Santos. Os dois não se apresentaram à seleção e acabaram preteridos pelos próprios clubes de entrar em campo pela sétima rodada da Série A deste ano. O temor se associava a uma possível punição da própria CBF, respaldada pelo Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD).
Como mostrou o blog Lei em Campo, o artigo 214 diz que "incluir na equipe, ou fazer constar da súmula ou documento equivalente, atleta em situação irregular para participar de partida, prova ou equivalente" pode gerar a perda de pontos da equipe e uma multa de até R$ 100 mil. Consequentemente, os clubes são proibidos de negar a convocação de um atleta para a seleção.
Desta forma, em 2020, especialmente durante o período de Copa América e Jogos Olímpicos, clubes brasileiros devem voltar a sofrer com as ausências de atletas em semanas decisivas nas competições nacionais.
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