Após cinco meses na cadeia, jogador ganha chance ao lado de CR7 em Portugal
Enquanto Bernardo Silva, do Manchester City, e João Félix, do Atlético de Madrid, se divertiam com a bola antes do treino de ontem (10), Cristiano Ronaldo concentrava todos os cliques das câmeras ao deixar um dos vestiários da Cidade do Futebol, centro de treinamento da seleção portuguesa localizado na região metropolitana de Lisboa. Um pouco mais à sua frente, estava o estreante Rúben Semedo, que chegou ao grupo após passar cinco meses na cadeia. O zagueiro de 25 anos será uma das novidades para o confronto com Luxemburgo, marcado para hoje, às 15h45 (de Brasília), pelas Eliminatórias da Eurocopa.
A presença de Semedo no mesmo ambiente que Ronaldo e companhia é quase um milagre. Até pouco tempo atrás, o destaque do Olympiakos era dado como caso perdido no futebol. A sua carreira era tida como encerrada. E seu futuro não poderia ser mais sombrio enquanto ele deixava o Centro Penitenciário de Valencia, na Espanha, em 13 de julho de 2018.
Foram cinco meses atrás das grades sob acusações de roubo com violência, agressão, ameaças, detenção ilegal, posse ilegal de armas e tentativa de homicídio. Ele teve a sua prisão preventiva decretada sem possibilidade de fiança enquanto ainda defendia o Villarreal.
Semedo nunca se declarou culpado de nenhum dos crimes. Foram meses tentando negociar a sua liberdade até que uma juíza, enfim, aceitou mediante o pagamento de 30 mil euros (R$ 132 mil) e o cumprimento de medidas de restrição que, entre outras, incluíam manter distância de 300 metros da suposta vítima e não frequentar os mesmos locais que ela.
O jogador, que havia sido vendido por 14 milhões de euros (R$ 62 milhões) pelo Sporting para o Villarreal em 2017, era considerado uma verdadeira ameaça para a sociedade.
Hoje, em uma dessas reviravoltas que o futebol é capaz de proporcionar, ele entrará em campo ao lado de Ronaldo e companhia para seguir mostrando que merece uma segunda chance e que o passado nebuloso ficou para trás.
"Não há nada impossível? Seguramente. Acho que não é por um percalço que acontece na vida que as pessoas não têm direito de viver e seguir o seu caminho. Ele soube reagir e está fazendo uma temporada muito boa no Olympiacos. Temos acompanhado há bastante tempo", afirmou o treinador da seleção, Fernando Santos.
"Na última vez, esteve perto da convocação, mas por lesão não foi chamado. O que conta é o que pode dar à equipe. Não tenho dúvida de que já ultrapassou isso", completou.
Assim que deixou a prisão em julho do ano passado, Semedo foi reintegrado pelo Villarreal e emprestado ao Recreativo Huelva para recuperar a forma. Sem a rodagem que esperava, acabou devolvido em janeiro e foi parar no Rio Ave, mais uma vez cedido. De volta ao seu país, conseguiu se sobressair, chamou a atenção de outros times e fez o Olympiacos pagar 4,5 milhões de euros (R$ 20 milhões) por ele.
Até aqui, não tem decepcionado nesta temporada. Em 12 jogos com os gregos, marcou três gols, um deles pela Liga dos Campeões.
"Deixar a prisão foi nascer outra vez"
No intervalo de um ano, o português, que tem laços familiares em Cabo Verde, passou de presidiário para um jogador de R$ 20 milhões no mercado. Ele está empenhado a não desperdiçar essa nova chance.
"Eu tinha um grupo de pessoas que conheci em Valencia em uma discoteca. Pensei que eram meus amigos. Algumas vezes ficavam em minha casa ou com os meus carros quando eu vinha para Portugal ver a minha família. Em outubro [de 2017], um deles me pediu dinheiro emprestado. E eu emprestei. Depois, andou a me enrolar três ou quatro meses, e eu lhe disse que ele estava me enganando. Eu falei que ou me pagava ou chamava a polícia e o denunciava", relembrou, em entrevista à emissora TVI.
"Ele tinha passado golpe a outros jogadores e problemas com tráfico de drogas. Alguns dias depois, ele veio na minha casa para falar, e tivemos uma discussão com agressões. Ele pegou em uma ameaça que eu fiz e foi à polícia me denunciar. Montou a história para ser eu o mau da fita. Depois, a polícia vai à minha casa, sou detido, e aconteceram uma série de coincidências que não me ajudaram em nada", acrescentou.
A situação fez Semedo refletir sobre o fundo do poço em que se encontrava e tentar renascer para deixar a cela.
"Estava preso e vi a minha mãe chorando na televisão. Nenhum filho quer isso, dar essa tristeza à sua mãe. Deixar a prisão foi nascer outra vez", disse Semedo, ao jornal "A Bola".
Com longo histórico problemático, ele tem se mantido na linha e não se envolveu em nenhuma outra confusão desde que reconquistou a sua liberdade. Retornar com a seleção nesta sexta ao estádio de Alvalade, sua antiga casa, é apenas mais um capítulo nesta história.
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