Ex-lateral do Palmeiras se esqueceu da própria carreira no futebol
Os títulos conquistados e os ídolos que vestiram a camisa do Palmeiras na era Parmalat fizeram com que muitos jogadores que atuaram nos 16 anos de fila caíssem no esquecimento da torcida. Um deles, foi o lateral direito Marques. Hoje, nem ele se lembra da própria carreira.
Com passagens por Platinense-PR, Athletico e Caxias, Marques chegou ao Palmeiras em 1990, indicado por Telê Santana, e atuou com jogadores como César Sampaio, Cuca, Evair e Tonhão. Foram 53 partidas e três gols vestindo a camisa do clube, dois pelo Brasileirão de 1992, contra Flamengo e Fluminense, e o outro diante do Hamburgo, na Copa Euro-América de 1991. Mas a chegada dos reforços da Parmalat e do técnico Otacílio Gonçalves reduziram seu espaço no Palmeiras e ele e acabou emprestado ao Paraná, onde foi campeão paranaense de 1993, e à Ponte Preta.
O acidente
No dia 15 de maio de 1994, o clube campineiro precisava vencer o Ituano por quatro gols para não ser rebaixado no Campeonato Paulista. Marques atuou na vitória por 5 a 0 que garantiu a permanência na elite e, já na madrugada do dia seguinte, sofreu um acidente automobilístico com os companheiros de time Mauricinho e Flavinho. Os três retornavam para o flat onde moravam.
Mauricinho, ex-Vasco, era o motorista. Ele perdeu o controle do carro ao passar em uma rotatória e bateu contra o muro de um mercado. Sem cinto de segurança - - ainda não era item obrigatório na época - -, Marques bateu a cabeça e teve traumatismo craniano que o deixou em coma por 16 dias no hospital da Universidade de Campinas (Unicamp). Mauricinho e Flavinho, seus companheiros de Ponte Preta, nada sofreram.
"Tinha um balão, uma rotatória, estava chovendo e pegou a lateral do carro. O Marques, como ele era alto (1,81m) e o carro pequeno, acabou batendo a cabeça na coluna do carro, entre a divisão da porta com o painel", lembra Mauricinho. "Foi ruim, né, até porque isso aí foi no último jogo do campeonato, a gente até estaria de férias, mas nós ficamos por duas semanas acompanhando ele no hospital. Foi triste", completa Flavinho.
Marques ficou em coma, mas sobreviveu. Ao despertar, tentou voltar ao futebol. Como tinha contrato com o Palmeiras, retornou para o trabalho de recuperação, mas os profissionais do clube perceberam que não seria possível voltar aos gramados. Marques ficou lá até o fim do contrato, em 1997.
"Ele deixou o futebol por dois anos para se recuperar. Ele se recuperou fisicamente e o Palmeiras, que era o detentor do passe dele, tentou reabilitá-lo para o futebol, mas viram que realmente não tinha mais condições de exercer a prática de futebol. Ele perdeu a coordenação motora. Aí resolveram aposentá-lo", conta Claudecir, irmão de Marques.
Com o contrato encerrado, Marques voltou a Santo Antônio da Platina, no norte do Paraná. Ele não tem mágoas do clube, mas se afastou do meio do futebol, mesmo quando procurado por outros jogadores, como o ex-goleiro Marcos. "Não tem reclamação nenhuma, foram bons com ele. O Palmeiras lembra, mas, assim, ele, o Marques, se desligou muito do pessoal. Ele não é revoltado, nada disso. Os amigos dele da época fazem muitos convites, mas ele não vai em nada", completa Claudecir.
A perda de memória
Além do fim prematuro da carreira, Marques passou a enfrentar outro problema: a falta de memória. As sequelas do acidente apagaram suas lembranças do futebol e por isso é o irmão Claudecir que guarda seu histórico e fala por ele. "Eu tenho tudo anotado porque o meu irmão tem lembrança de coisas mais próximas. As coisas mais antigas praticamente foram embora", explica.
O acidente não foi o primeiro episódio em que Marques teve um choque forte contra a cabeça. Alguns anos antes, ainda atuando pelo Palmeiras, levou a pior em uma disputa pelo alto com o goleiro Ronaldo em um clássico com o Corinthians, em 1991. Precisou ser levado ao hospital.
"Ele bateu o rosto no meu cotovelo e machucou o maxilar. Eu fiquei assustado quando vi, foi um momento muito forte na minha carreira. Única vez que fiquei emocionalmente abalado por ver ele com o rosto machucado", recorda Ronaldo, que atualmente é comentarista na Band.
Marques é aposentado por invalidez e atualmente ajuda ocasionalmente o irmão a cuidar de um buffet em Santo Antônio da Platina, onde recebeu há dois anos o título de Cidadão Benemérito. Além da memória, a perda da coordenação motora também o limita.
"Reflexo ele não tem mais nada, mas a saúde dele é boa. Quem o vê assim, fala que ele não teve problema. O que ele não pode é fazer esforço. Ele já levou uns quatro tombos de bicicleta porque não tem equilíbrio", explica o irmão do ex-jogador.
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