Topo

Como as eleições na Argentina podem afetar o futuro do San Lorenzo

Matías Lammens, presidente do San Lorenzo, durante visita ao Papa Francisco, torcedor do clube, em 2013 - Reuters/Osservatore Romano
Matías Lammens, presidente do San Lorenzo, durante visita ao Papa Francisco, torcedor do clube, em 2013 Imagem: Reuters/Osservatore Romano

Bruno Grossi

Do UOL, em São Paulo

30/10/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Matías Lammens é presidente do San Lorenzo e se candidatou à prefeitura de Buenos Aires
  • Ele acabou perdendo as eleições, realizadas no último fim de semana, ainda no primeiro turno
  • A decisão de se candidatar foi contestada no San Lorenzo por "incompatibilidade de agenda"
  • Sócios também reclamaram da aliança com o "kirchnerismo". Clube e país estão polarizados
  • Essa divisão pode afetar também o processo eleitoral dentro do próprio San Lorenzo
  • Lammens tenta emplacar um sucessor no pleito marcado para dezembro deste ano
Classificação e Jogos

No último fim de semana, eleições foram realizadas na Argentina. Alberto Fernández foi eleito presidente do país, marcando o retorno da esquerda ao governo após o mandato de Maurício Macri. Mas na capital Buenos Aires a direita conseguiu se manter à frente da prefeitura com Horacio Rodríguez Larreta, que derrotou uma figura ligada ao futebol argentino ainda no primeiro turno: Matías Lammens, presidente do San Lorenzo.

Ele pertencia ao partido "Frente de Todos", que venceu a disputa pela presidência do país, e obteve resultados surpreendentes nas pesquisas e na própria eleição municipal. Só que, dentro do San Lorenzo, o fato de ter se aliado ao "kirchnerismo" foi mal visto por parte dos conselheiros e sócios. Quem acompanha o clube de perto vê esse cenário como um espelho da polarização política vivida em toda Argentina.

Lammens já havia sido cobrado por não pedir licença da presidência do Ciclón. Cartolas da equipe alegavam "incompatibilidade de agenda" entre as atividades do San Lorenzo e a campanha eleitoral. O mandatário mesmo chegou a cogitar o afastamento, mas seguiu no cargo, mantendo contato direto com o dia a dia do futebol.

Cercado por essas críticas, Lammens agora precisa focar em outra eleição. O dirigente tenta emplacar um aliado como sucessor na presidência do San Lorenzo e, embora sua chapa seja a favorita a vencer, deve encontrar dificuldades no pleito justamente por esses atritos gerados pela política argentina. O próprio processo de escolha do sucessor não foi fácil.

Seu nome predileto era o de Marcelo Tinelli, famoso apresentador de TV e atual vice-presidente do clube. Os dois foram os pilares da reconstrução do San Lorenzo desde 2012. Conseguiram melhorar a situação financeira da equipe, montaram um elenco forte e chegaram à glória com o título da Copa Libertadores da América de 2014.

Alberto Fernández, novo presidente da Argentina, José Mujica, ex-presidente do Uruguai, e Matías Lammens, presidente do San Lorenzo - Esteban Collazo/AFP - Esteban Collazo/AFP
Alberto Fernández, novo presidente da Argentina, José Mujica, ex-presidente do Uruguai, e Matías Lammens
Imagem: Esteban Collazo/AFP

"Lammens chegou à presidência do San Lorenzo como um dos dirigentes mais jovens do futebol argentino. Junto a Tinelli, assumiram um clube que estava muito mal, o reergueram e ganharam a Libertadores. Nos últimos tempos voltou a ter complicações pela situação complicada do clube e do país. No futebol também não andam bem", explica Diego Paulich, jornalista do Diário Olé e da Rádio Mitre.

Tinelli, entretanto, recuou. Foi preciso buscar um novo candidato. O escolhido foi Horacio Arreceygor, que já tem história política no Ciclón e é secretário-geral do sindicato dos empregados de TV. A tendência é que outras três chapas participem das eleições marcadas para dezembro deste ano. Lammens fará parte da chapa da situação, mas ainda tem planos para a política nacional.

O San Lorenzo tem participação direta nesse ingresso de Lammens no mundo político. Além da natural projeção pelos bons resultados no comando do clube, o cartola se envolveu com causas sociais na região do estádio Nuevo Gasómetro. Diego Paulich conta: "Lammens sempre teve um perfil social. Por exemplo, fez o San Lorenzo dar bolsas de estudo para crianças do bairro humilde em frente ao estádio [a favela 1-11-14]. Assim, aos poucos, foi se envolvendo com a política".