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Falar nome de Deus em vão em campo é proibido na Itália e provoca suspensão

Ibrahimovic escapou de punição em 2011, quando jogava pelo Milan, por blasfemar em campo - Max Rossi/Reuters
Ibrahimovic escapou de punição em 2011, quando jogava pelo Milan, por blasfemar em campo Imagem: Max Rossi/Reuters

Leandro Miranda

Do UOL, em São Paulo

30/10/2019 12h00

Resumo da notícia

  • Jogadores de Sassuolo e Parma foram suspensos por blasfemar em campo
  • Regra existe desde 2010 e já foi contestada por associação de jogadores
  • Astros como Buffon e Ibrahimovic escaparam de punições pelo mesmo motivo
  • Rigidez contrasta com punições brandas em casos recentes de racismo

Nesta semana, dois atletas do Campeonato Italiano foram suspensos por um jogo pela federação por... blasfemar em campo. É isso mesmo: por lá, proferir em campo o nome de Deus e outras figuras religiosas em vão ou em contexto considerado desrespeitoso pode render punição. Os meio-campistas Francesco Magnanelli, capitão do Sassuolo, e Matteo Scozzarella, do Parma, foram os últimos atingidos pela regra que vigora há quase uma década e já rendeu dor de cabeça a astros como Gianluigi Buffon e Zlatan Ibrahimovic.

Foi em 2010 que a federação decidiu que xingamentos e blasfêmias deveriam ser punidos com cartão vermelho direto. Caso o árbitro não perceba o ato em campo, o infrator pode ser punido posteriormente, com auxílio de imagens de TV e leitura labial - foi assim nos casos de Magnanelli e Scozzarella. O motivo anunciado para a regra, na época de sua aplicação, foi desestimular o uso de "linguagem ofensiva" nos gramados.

Desde então, alguns jogadores já foram punidos por falar mais do que podiam. No ano passado, o volante Rolando Mandragora, da Udinese, também tomou um jogo de gancho depois de perder um gol e desabafar usando os nomes de Deus e da Virgem Maria. Outros que já se deram mal foram o técnico Domenico Di Carlo (Chievo), o atacante Davide Lanzafame (Parma) e o meia Luca Siligardi (Livorno). Mas o primeiro jogador da história a ser punido por blasfemar poderia ter sido ninguém menos que Gianluigi Buffon.

O lendário goleiro, ainda hoje na ativa aos 41 anos pela Juventus, foi acusado de falar o nome de Deus em vão após falhar em um jogo contra o Genoa, em 2010. Em sua defesa, Buffon disse que falou "zio", que significa "tio", e não "Dio" (Deus). Ele escapou de punição após se desculpar publicamente. "Se um dia eu tiver a sorte de encontrar Deus, é Ele quem vai decidir me perdoar ou não", disse o jogador na época.

Buffon - Massimo Pinca/Reuters - Massimo Pinca/Reuters
Em 2010, Buffon teve que se desculpar publicamente e disse que falou "zio", não "Dio"
Imagem: Massimo Pinca/Reuters

Ibrahimovic também quase se complicou em 2011, quando jogava pelo Milan. O astro sueco foi filmado supostamente proferindo blasfêmias em um jogo contra o Cagliari, mas acabou não sendo formalmente acusado porque o vídeo não oferecia prova definitiva do ato.

Apesar de ser apoiada por grande parte da comunidade futebolística na Itália, a regra também tem seus opositores. A Federação Internacional dos Futebolistas profissionais (Fifpro) divulgou um comunicado contra a decisão da federação italiana em 2010, dizendo que a decisão feria o direito fundamental da liberdade de expressão dos jogadores. Até hoje, porém, a norma segue de pé.

Essa não é a única polêmica envolvendo punições no futebol italiano recentemente. Os diversos casos de racismo nesta temporada, com insultos em estádios contra jogadores como Lukaku (Inter de Milão), Kessié (Milan), Dalbert (Fiorentina), Juan Jesus (Roma) e Ronaldo Vieira (Sampdoria), têm causado pressão por medidas mais rígidas da federação. Alguns dos casos, como o envolvendo Lukaku, acabaram sem punição, enquanto outros, como o envolvendo Dalbert, renderam apenas uma multa ao clube cuja torcida proferiu as ofensas.