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Filme repetido: ebulição interna atrapalha Flu na luta contra rebaixamento

Mario Bittencourt e Celso Barros já não falam a mesma língua no Fluminense - Lucas Merçon/Fluminense FC
Mario Bittencourt e Celso Barros já não falam a mesma língua no Fluminense Imagem: Lucas Merçon/Fluminense FC

Caio Blois

Do UOL, no Rio de Janeiro

05/11/2019 04h00

Resultados ruins dentro de campo, política confusa, divisões internas, racha entre antigos aliados, salários atrasados e demissão de treinadores. Este poderia ser o roteiro de antigas temporadas, mas é a história do Fluminense em 2019. O filme repetido que passa na cabeça do torcedor começa a cobrar seus dividendos, e a tensão cresce no fim de temporada do Tricolor. Na 17ª colocação do Campeonato Brasileiro com 31 pontos, a equipe luta mais uma vez contra o rebaixamento, voltando a cometer os mesmos erros de sempre.

Asfixiado nas finanças, o Flu passa por momentos difíceis desde que conquistou o tetracampeonato brasileiro em 2012. De lá para cá, o Tricolor não lutou na parte de baixo da tabela apenas em 2014, 2015 e 2016. O fim do investimento da Unimed escancarou a falta de preparação do clube para um período necessário e previsível de inverno nas finanças. Sem governança corporativa ou políticas simples organizacionais, o Fluminense padeceu aos desmandos políticos.

O ano de 2019 já começou com a expectativa de uma eleição antecipada. Isolado no cargo por seus próprios erros, o então presidente Pedro Abad - que rompera com aliados como a coalizão (hoje desfeita) Fluminense Unido e Forte e com Pedro Antônio, exonerado do cargo de vice-presidente de Projetos Especiais - passou o bastão para Mario Bittencourt, justamente o candidato derrotado por ele em 2016. O Conselho Deliberativo, entretanto, se manteve o mesmo do último mandato, com algumas renúncias da Flusócio, grupo de situação que se dissolveu.

Nas cadeiras que se movimentam no salão nobre perambulam os homens que decidem o futuro do clube, como uma grande reunião de condomínio. Sem a presença maciça do torcedor, alijado do processo decisório - na gestão Peter Siemsen, o clube instituiu voto para o sócio-futebol, em um avanço democrático - em detrimento a personagens ligados aos esportes olímpicos, clube social e até guiados por ideias trazidas por não-tricolor, o Fluminense volta a padecer a ele mesmo. Se neste quesito o clube por ora é mais pacífico que em 2017 e 2018, que assistiu a protestos e invasões de torcidas organizadas a reuniões, a nova gestão já volta a expor rusgas.

Após o empate sem gols com o Vasco, no sábado, que manteve o Tricolor na zona de rebaixamento, uma discussão se iniciou entre o camarote e o Maracanã Mais, setor mais caro do estádio. Alguns integrantes do grupo "Tricolor de Coração" xingaram o vice-geral Celso Barros, antes apoiado justamente por eles no clube. Celso também já não fala a mesma língua do presidente Mario Bittencourt em diversos assuntos, ainda que o mandatário se esforce para aparar as arestas e manter boas relações com ele e outros poderes do clube.

O estilo verborrágico do ex-presidente da Unimed, entretanto, atrapalha. Se antes se restringia aos corredores do Flu, o dirigente foi às redes sociais e acabou por pressionar ainda mais o técnico Marcão, de quem não é entusiasta. Nos últimos dias, agiu para contactar Cuca e Odair Hellmann de maneira extraoficial, ajudando que a notícia se espalhasse. O objetivo é pressionar Mario, que banca a permanência do treinador.

Por outro lado, lideranças da oposição se movimentam nos bastidores. O conselheiro Marcelo Souto, que foi pré-candidato à presidência mas não reuniu assinaturas necessárias para homologar a chapa e concorrer ao cargo, tenta protocolar requerimento para suspender as deficitárias atividades olímpicas do clube. Esta é uma bandeira de seu grupo, o Esperança Tricolor, que vê no investimento total no futebol a única saída para a crise financeira do clube.

Questionado sobre isso em coletiva, Mario se resumiu a dizer que era uma "tentativa política", porém, os balancetes mostram prejuízos nestas áreas, ainda que a forma de contabilizar esses dados mude a cada ano, quase na mesma velocidade em que se alternam treinadores no Fluminense. O fato é que o presidente promete um estudo a fundo dos centros de custo, e caso haja de fato dificuldades para algum departamento seguir em frente, não descarta o fechamento da pasta. Bittencourt também garantiu o voto online em 2022, no que seria mais um passo rumo à democratização da política tricolor, ainda terreno de poucas (e às vezes as mesmas) abastadas famílias.

Dentro de campo, o Flu amargou mais um ano sem títulos com eliminações no Campeonato Carioca, Copa do Brasil e Copa Sul-Americana. Ainda que não tivesse chances de competir no Brasileirão por conta de motivos financeiros, demitiu dois treinadores e pode ter mais uma mudança até o fim da competição.

O ciclo vicioso já é conhecido de cor e salteado por quem acompanha o clube. Nas últimas temporadas, o Tricolor conseguiu se salvar do descenso. Em 2019, o fim da história ainda não está escrito. Restam oito rodadas para definir o futuro, e a ebulição interna, mais uma vez, mais atrapalha do que ajuda.

Em 2009, na histórica arrancada que mudou o rumo de um Fluminense que já parecia rebaixado rumo ao tricampeonato brasileiro, o futebol do Tricolor - sob o comando Mario Bittencourt e Ricardo Tenório, candidatos que se enfrentaram na eleição de junho - conseguiu afastar as "ervas daninhas" de sua plantação, tanto no vestiário como nos corredores do clube. Dez anos depois, a torcida, nas arquibancadas e redes sociais, dá indícios de que espera o mesmo milagre.

Sem vencer nos últimos cinco jogos, o Flu enfrenta o São Paulo, na quinta-feira (7), às 19h30, no Morumbi. O Tricolor necessita desesperadamente de vitórias para deixar a zona de rebaixamento e se livrar da luta pelo descenso, esperando um final feliz para um filme que todos parecem já ter visto.

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