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Agora na Série A, Bragantino "turbinado" abre debate para salvar pequenos

Bragantino do técnico Antônio Carlos Zago comemora o acesso à Série A para 2020 - Ricardo Matsukawa/UOL
Bragantino do técnico Antônio Carlos Zago comemora o acesso à Série A para 2020 Imagem: Ricardo Matsukawa/UOL

Do UOL, em São Paulo

07/11/2019 04h00

Foram 21 anos até o Bragantino conseguir confirmar o seu retorno à Série A do Campeonato Brasileiro. As boas temporadas na década de 90 não foram o suficiente para firmar o clube do interior de São Paulo em destaque no cenário nacional. Para isso foi preciso boa dose de investimento da Red Bull.

A transformação em um clube-empresa abre o debate. Afinal, essa é a fórmula para que os clubes menores sobrevivam? O técnico Antonio Carlos Zago concorda que a parceria foi determinante e é um caminho aos times do interior de São Paulo. O Bragantino teve uma injeção de mais de R$ 40 milhões em 2019, e deu no que deu. E 2020 tem tudo para ser ainda melhor com a projeção de um investimento de R$ 200 milhões. Seria um orçamento de time grande já, num momento em que a Red Bull passará a fazer parte do nome da agremiação, que também assumirá uma nova identidade visual, reformulando escudo e uniformes.

"É a saída para a maioria dos clubes do interior. O Botafogo-SP cresceu nos últimos anos com uma parceria com uma empresa por trás também. Por isso que vem fazendo uma boa a campanha na Série B também. A gente espera melhorar sempre esse cenário. Eu vejo como uma saída", comentou o treinador após a partida contra o Guarani que garantiu o acesso para a primeira divisão do Brasileirão.

Na década passada, o clube de Ribeirão Preto chegou a ficar fora de campeonatos nacionais de 2004 a 2009. O mesmo aconteceu em 2011 e 2012 e, por fim, em 2014. Desde, então, porém, vem numa escalada gradativa. Saiu da Série D em 2015 para a B nesta temporada. Ocupa hoje a sexta colocação, a seis pontos da zona de acesso à elite.

"Nos clubes tradicionais, é grande a influência política nas tomadas de decisão. Já no clube-empresa a gestão é baseada em argumentos técnicos, referenciados nas estratégias de longo prazo. Isso resulta em sustentabilidade financeira e melhores resultados em todas as áreas", reforça Gustavo Vieira de Oliveira, que é membro do Conselho do Botafogo S/A.

A transferência do futebol e da gestão do Botafogo para a Botafogo Futebol S/A foi feita em maio de 2018, com administração feita 60% pelo clube e 40% pela Trex Holding, uma empresa de investimentos que pagou R$ 8 milhões pela participação. O clube é conduzido por um conselho de sete pessoas (três do Botafogo, duas da Trex e duas independentes).

Amanhã (8), às 19h15, os dois times que mudaram seu modelo de gestão nos últimos anos se enfrentam pela 34ª rodada da Série B do Brasileirão. "Não é fácil implementar este novo modelo, pois ele é muito diferente do que estamos acostumados no país. Estamos indo contra a maré do futebol brasileiro e, por isso, sofremos muita resistência", conta o profissional com passagens por São Paulo e Santos.

A Ferroviária foi outro clube tradicional do interior do estado a se reestruturar como empresa. O time de Araraquara ficou sem jogar o Campeonato Brasileiro por um longo período - de 2003 a 2017. Nos últimos dois anos, jogou a Série D. Seus resultados mais expressivos aconteceram no âmbito estadual. No último Paulistão, incomodou bastante até mesmo os grandes, levando o Corinthians à disputa de pênaltis nas quartas de final após dois empates, mostrando um futebol vistoso.

O reflexo do que acontece dentro das quatro linhas acaba refletindo fora, acredita Zago. Nesse sentido, porém, a realidade do futuro Red Bull Bragantino é totalmente diferente das de Botafogo e Ferroviária, com aporte muito maior. A ponto de o clube de Bragança pensar na construção de um novo estádio. Há também a ideia de construção de um CT. "Isso é uma consequência do que vamos fazendo no dia a dia em campo, porque no final é isso aí que chama atenção. Isso faz com que as pessoas que estão fora invistam cada vez mais", ressaltou o técnico.

Zago disse estar otimista com a parceria, que pode ajudar o Bragantino conseguir o feito de reviver bons momentos de décadas atrás, quando foi campeão Paulista em 1990 e vice brasileiro em 1991.

"A gente fica muito contente ver isso depois de um longo tempo. A gente fica contente de ter o primeiro objetivo conquistado. Estamos em busca do objetivo que é importante a gente reviver a década de 90. E trilhar o espaço de grandes treinadores que passaram no Bragantino, como Luxemburgo e Parreira. Tento fazer minha parte da melhor maneira possível".

Quem viveu o período de auge do Bragantino sabe o quanto é importante. Mauro Silva, ex-volante campeão estadual pelo clube, destaca a importância de uma parceria como a de 2019. "O Bragantino é o mesmo clube, mas com uma injeção de capital, uma força enorme, que vai consumir internamente, vai tirar garotos da rua, vai ter categorias de base organizadas. Vai também investir na cidade", disse o hoje vice-presidente da Federação Paulista de Futebol.

Mauro Silva, porém, alerta: não dá para tratar também qualquer transição para clube-empresa como garantia de sucesso. Fala isso com base em experiências que testemunhou durante sua destacada trajetória pelo futebol europeu. "De certa forma, eu vejo a questão do clube-empresa, uma figura jurídica, com mais transparência, com uma gestão melhor. Mas não quer dizer que a gestão não possa, por exemplo, quebrar", alertou.