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Hoje cartola, Ronaldo 'dribla' atletas na sede de seu time: "É minha grana"

Ronaldo, em seu escritório na sede do Valladolid - Laura Leon/The New York Times
Ronaldo, em seu escritório na sede do Valladolid Imagem: Laura Leon/The New York Times

Marcus Alves

Colaboração para o UOL, em Lisboa (Portugal)

07/11/2019 04h00

Assim que subiu em um dos palcos do Web Summit, maior feira de tecnologia do mundo, que acontece nesta semana, em Lisboa, Ronaldo foi ovacionado. Em um primeiro instante, abriu o sorriso, parou e acenou para a plateia formada, em sua maioria, por estrangeiros. Na sequência, cumprimentou o ministro da economia de Portugal, Pedro Siza Vieira. Então, o silêncio e um grito que ecoou por todo o salão: "Vai, Corinthians".

Ele não segurou a gargalhada. Na última terça-feira, o craque se vestiu a rigor e falou por quase meia hora em inglês para receber o que brincou ser o seu primeiro troféu como cartola. Hoje atuando como presidente do Valladolid, na Espanha, o ex-atacante foi homenageado com o prêmio de inovação no esporte pelo trabalho que tem realizado no clube espanhol desde que assumiu o seu comando, em setembro do ano passado.

Em sua primeira temporada, a briga foi contra o rebaixamento, com a fuga sendo concretizada apenas na penúltima rodada. Mais calejada, a despeito da goleada recente de 5 a 1 sofrida contra o Barcelona, a modesta equipe faz agora uma campanha sem sustos, arrancando, inclusive, empate com o Real Madrid fora de casa e se encontrando ao lado de outros times na décima posição da Liga Espanhola, com 14 pontos.

A campanha tem aliviado o nervosismo do pentacampeão mundial, que se divide entre sua residência em Madri e Valladolid. Os deslocamentos semanais para a sede do clube não costumam demorar mais do que duas horas. É quando ele tem a chance de conferir se os seus investimentos na estrutura têm surtido efeito no dia a dia.

"É um negócio de risco. Muitas pessoas me perguntam se eu realmente coloquei dinheiro meu no time, sabe, ou se existe algum bilionário por trás de mim, me bancando. Quem me dera, quem me dera, quem me dera", suspirou, aos risos. "Queria que tivesse um bilionário me apoiando, mas é mesmo a minha grana", completou."

Ronaldo e Valladolid - REUTERS/Albert Gea - REUTERS/Albert Gea
Ronaldo foi ao Camp Nou ver o Valladolid enfrentar seu ex-time, o Barça, que goleou
Imagem: REUTERS/Albert Gea

Em suas visitas para acompanhar os treinos, com a experiência de quem esteve por muitos anos do outro lado, Ronaldo evita o contato direto com os atletas. O motivo? Evitar ainda mais gastos que fujam de seu orçamento.

"Já fui jogador e, quando eles te procuram, querem sempre mais dinheiro, melhores instalações, outras coisas. Então, toda vez que eu vejo um jogador, eu tento escapar", brincou.

Não passava de uma piada, claro. Com a meta de conduzir o Valladolid à Liga dos Campeões em no máximo cinco anos, o Fenômeno sabe muito bem onde se enfiou. Pretende aumentar as receitas do clube, que, segundo ele, não passam de pouco mais de 30 milhões de euros anuais (R$ 132 milhões), e, para isso, contratou mais de dez olheiros. Quer revelar jogadores para vender no mercado.

Ele deixa claro que a sua entrada no Valladolid não foi definitivamente um salto no escudo. Ao contrário, foi resultado de um trabalho de diversos meses. A possibilidade de compra surgiu durante a última Copa do Mundo, quando atuava como comentarista da TV Globo na Rússia. Uma ligação de seu advogado, no entanto, mudou tudo.

"O Valladolid era exatamente o que procurava, uma equipe com uma grande história na Espanha, perto de Madri e, claro, com o preço que queria. O time estava na segunda divisão. No fim da Copa, foi promovido para a primeira e fizemos o anúncio do acordo. É um clube com 90 anos de vida, passou muitos anos elite, vem de uma cidade com 300 mil pessoas, nem muito grande nem muito pequena", prosseguiu o atacante, que também cogita a compra de um clube em Portugal

"Ainda mais importante, é o único clube de uma região com 2,5 milhões de pessoas. Era uma oportunidade perfeita para mim e decidi me jogar. Comprei o time e estou muito feliz. Todo fim de semana, sofro muito. Nunca sofri assim como jogador, mas estou me divertindo", completou.

Despachando direto de seu escritório em Madri, Ronaldo tem tirado proveito dessa carência local. Em um dos relatórios que recebe diariamente de seu braço-direito na equipe, o francês Matthieu Fenaert, ele foi informado recentemente que o time bateu o recorde de compra de carnês de temporada: foram 22 mil vendidos.

Aos 43 anos, o ex-atacante se sente à vontade no cargo, mostrando desenvoltura no inglês e o mesmo carisma que sempre o marcou durante a carreira. É quase como se tivesse se preparado nos gramados para isso.

"Na prática, foi isso mesmo. O pessoal no vestiário costumava me chamar de 'presidente' e eu nunca soube realmente o motivo. Talvez fosse o presidente da resenha. O que eu tinha certeza é que nunca iria ser treinador. É muito difícil comandar 25 jogadores, cada um com aspirações diferentes. Prefiro ser presidente", sorriu.

Com o segundo orçamento mais baixo da Liga Espanhola, Ronaldo espera apenas sobreviver em meio a tubarões como Barça, Real Madrid e companhia.

"O dinheiro não é tudo, mas, obviamente, pesa muito", conclui.