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Herdeiro das Casas Bahia está perto de comprar clube do Paulistão

Saul Klein (em foto de 2012) vai assumir o controle acionário da Ferroviária S.A. - Leticia Moreira/ Folhapress
Saul Klein (em foto de 2012) vai assumir o controle acionário da Ferroviária S.A. Imagem: Leticia Moreira/ Folhapress

Rodrigo Viana

Colaboração para o UOL, em Araraquara (SP)

12/11/2019 16h22Atualizada em 12/11/2019 22h56

O empresário Saul Klein, herdeiro das Casas Bahia, tem encaminhado um acordo para adquirir 50% das ações da Ferroviária S.A. e assumir o controle do clube de Araraquara (SP). A negociação deve ser fechada no próximo dia 19, após reunião extraordinária do Conselho Deliberativo do time que disputará, no ano que vem, a Série A do Campeonato Paulista e a Série D do Campeonato Brasileiro.

Conhecido como mecenas que levou o São Caetano à proeminência do futebol nacional na década passada, Klein não será a única figura nova a dar as cartas nesta nova Ferroviária. Ele terá a companhia de Giuliano Bertoluci, um dos mais influentes agentes de atletas do país.

Uma cláusula no contrato discutido com a atual administração do clube diz que ele não pode ser retirado de Araraquara. Klein vinha, há alguns meses, procurando um time do interior de São Paulo para voltar a investir. Santo André e Comercial estiveram na mira, mas a estrutura empresarial da Ferroviária seduziu o investidor.

Extremamente reservado, avesso a aparições na mídia, Klein deve, em princípio, mais que dobrar a folha de pagamento da Ferroviária em relação ao que o clube pagou no último campeonato Paulista. O time de Araraquara gastava cerca de 800 mil reais mês. Agora a projeção é de que o aporte gire em torno de 2 milhões por mês.

A assinatura do contrato ainda depende de uma reunião do Conselho da S.A. que vai acontecer na próxima terça-feira - coincidentemente um dia antes da reapresentação do time. Interlocutores do Conselho e de Klein e Bertolucci confirmam que o negócio já está fechado.

No início da tarde de ontem, todo o elenco de jogadores do São Caetano - que vai decidir o título da Copa Paulista contra o XV de Piracicaba no sábado - fez um apelo nas redes sociais voltado a Klein, para que ele não se distanciasse do clube e ajudasse a colocar as contas em dia.

A situação de São Caetano não deve influenciar nas negociações com a Ferroviária. Klein quer um clube empresa com dívidas sanadas. Uma minuciosa auditoria foi feita nas contas do time de Araraquara nas últimas semanas.

Filho do fundador das Casas Bahia, Samuel Klein, Saul vendeu suas ações (33%) da rede de varejo de móveis e eletrodomésticos do país ao seu irmão mais velho, Michael, em 2010.

Empresário assume controle da base

Enquanto Klein tem atenções voltadas ao time principal, tentando conduzi-lo à elite, o "superempresário" Giuliano Bertolucci vai se concentrar nas divisões de base. Ele vai controlar o processo de formação dos jogadores no clube. O projeto contempla ainda a construção de um amplo centro de treinamento.

Para coordenar a nova engrenagem, Bertolucci vai contar com Marcelo Teixeira, ex-diretor da base do Fluminense. Teixeira também trabalhou como olheiro do Manchester United da Inglaterra, por quatro anos. Sua tarefa em Araraquara será potencializar a produção de jogadores. As revelações podem ser aproveitadas pela própria Ferroviária ou terem como destino clubes europeus em que Bertolucci e seus parceiros tenham influência.

Também deve ficar em Araraquara o executivo do projeto, Júlio Taran, empresário e homem de confiança de Bertolucci. É ele quem vai ficar à frente da gestão e das transações.

Felipe Estrella, revelação da Ferroviária - Divulgação - Divulgação
Felipe Estrella, revelação da Ferroviária e hoje atacante da Roma
Imagem: Divulgação
A base da Ferroviária já tem produzido jogadores já com projeção internacional ou nacional. Nadson Mesquita, aos 17 anos, despertou a atenção do Anderlecht, da Bélgica e seguiu carreira na Europa. O atacante Felipe Estrella, convocado hoje para a Seleção Brasileira Sub-20, foi destaque da última Copa São Paulo de Juniores e foi contratado pela Roma. A Ferroviária fica com 50% em uma negociação futura. O Real Valladolid (ESP), clube presidido pelo ex-jogador Ronaldo Nazário, está em vias de adquirir o zagueiro Gustavo Medina, de apenas 18 anos.

O modelo é o mesmo para todos as outras revelações. Jordan, Rafinha e Richard foram contratados pelo Corinthians, enquanto Miqueias foi para o Palmeiras.

Após uma boa participação no Campeonato Paulista (a Ferroviária foi a oitava colocada do último campeonato deste ano, perdendo para o Corinthians apenas nos pênaltis, pelas quartas de final), o objetivo principal dos investidores é que o time volte ter destaque em cenário nacional. Hoje, a equipe disputa a Série D.

O plano é que num prazo de três a cinco anos o clube esteja na Série B do Brasileiro. Com o negócio fechado, o futebol do interior paulista, que já tem o rico Red Bull Bragantino (com investimento previsto de 200 milhões de reais/ano), sinaliza uma guinada dos chamados clubes-empresa.

A Ferroviária tornou-se empresa em 2003. Além de exportar jovens jogadores, a S.A. também tem cedido dirigentes ao mercado. Ex-diretor executivo de futebol, Pedro Martins deixou o clube para assumir a vice-presidência de competições da Federação Paulista de Futebol. Já Roberto Braga, que foi diretor das categorias de base, foi contratado pelo Bahia há dois meses. Até o técnico Tiago Nunes passou pela base da Ferroviária. Em 2016, o futuro treinador do Corinthians comandou o sub-20 do time grená, em parceria com o Athletico-PR.